Subir sem cair

No Sábado passei o dia com os Fall, a banda admirável e incorrompível de Mark E.Smith que em 2016 fará 40 anos de idade, com cada ano a contar por 7, como acontece com os gatos (cada um com 7 vidas) que dão cheiro e personalidade à casa dele.

Smith é como se Bob Dylan tivesse continuado até hoje tão torrencial, zangado e convencido como era até 1965. O segredo de Smith é ter nascido velho, sábio, trabalhador, político e poético. A mentalidade dele é a da classe trabalhadora de Manchester perante a Segunda Guerra Mundial. É um romântico e um revolucionário; um puritano e um rebelde; um resmungador e um iconolasta.

Li The Big Midweek: Life Inside The Fall de Steve Hanley, que conta com hilariante honestidade como foi tocar e viver sob a ditadura criativa de Smith, sem privacidade nem direito a brilharetes e, em paralelo, Renegade: The Lives and Tales of Mark E.Smith, escrito pelo próprio.

O primeiro livro é de Setembro de 2014 e o segundo é de Fevereiro de 2009 mas não se dá pela disparidade. O livro de Smith arranca a deitar abaixo dois ex-músicos dos Fall, com uma desenvoltura e uma indignação que são magistrais.

Os Fall são Smith mais quem calhar tocar com ele. É impossível conhecer todas as formações. A matemática ainda não avançou o bastante para exprimi-las.

Smith não gosta de músicos (nem é perdido de amores pela música): é um homem de letras que escolheu perder-se - e ser protagonista - num mundo de antagonistas.

É um herói.

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