Um secretariado à imagem de António Costa

Seguristas fizeram braço-de-ferro até às 4h da madrugada para negociar nomes para as comissões política e nacional, depois de perceberem que não entravam na direcção executiva.

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Ao longo destes meses, António Costa foi avisando, quem estivesse disponível para prestar atenção, que a “confiança pessoal” seria o critério essencial para a composição do novo secretariado nacional.

A confirmação final chegou ontem com a eleição do órgão executivo socialista, composto na sua totalidade por apoiantes indefectíveis e amigos de longa data do novo secretário-geral. Costa fez do seu secretariado um autêntico núcleo duro.

Até mesmo a forma blindada como geriu os convites reflectiu o modus operandi de Costa. Os convites foram surgindo em cima do Congresso e nem durante o conclave estes novos dirigentes sabiam quem os iria acompanhar naquele órgão. Uma imagem bem diferente do que se passou entre os herdeiros políticos de António José Seguro, presos num braço-de-ferro até às quatro da manhã para fechar os nomes dos seus 30 por cento nos órgãos internos.

A renovação e a confiança pretendidas por Costa implicou o afastamento de qualquer possibilidade da corrente segurista no secretariado. E foi essa derrota de Álvaro Beleza – que negociou a lista de unidade interna com o novo líder - que resultou no único “levantamento de rancho” socialista que explodiu na noite de sábado passado.

Perante a desfeita, que não era antecipada, rebentou a “bronca” no seio das hostes seguristas. “Demorou a chegar a proposta definitiva e mesmo assim continuaram a aparecer com alterações”, confidenciava um dirigente próximo do novo líder. O braço de ferro arrastou-se até às quatro da manhã. Tão tarde que as mudanças de última hora para a Comissão Nacional entregues por Beleza acabaram por não ser aceites pelos costistas, com argumento de terem chegado fora de prazo.

Ainda assim, Costa também teve de gerir algumas erupções. Como, por exemplo, a que partiu de Braga. O ex-presidente da câmara daquela cidade deixou transparecer a sua insatisfação por não constar das listas para os órgãos internos. Um incidente que os costistas resolveram ao incluir o histórico socialista entre os 251 membros da Comissão Nacional.

Entre os novos 15 de Costa, Rocha Andrade é um dos que tem um longo passado com Costa. Acompanha-o desde que Costa assumiu responsabilidades governativas. Tanto no gabinete dos Assuntos Parlamentares do Governo de António Guterres como na equipa que levou consigo para a Administração Interna no primeiro Executivo de José Sócrates

Apesar de ser uma aquisição mais recente para o núcleo duro, Fernando Medina conta com a confiança de Costa.  O maior sinal disso mesmo foi a sua escolha para nº 2 na câmara, nas últimas autárquicas, quando Costa calculava já a sua possível saída. O que fez de Medina o seu sucessor na câmara de Lisboa.

A relação com Sérgio Sousa Pinto tem igualmente muitos anos de memória. A proximidade entre os dois estreitou quando o novo líder era secretário de Estado dos Assuntos Parlamentares e Sousa Pinto o jovem deputado e líder da JS que lutava pelos temas fracturantes na agenda socialista.

Foi o investigador Porfírio Silva quem elaborou a moção às primárias de Costa. Há muitos anos afastado das lides políticas, o percurso do edil cruzou-se na Juventude Socialista, pela primeira vez, com o de Silva. Mas em campos opostos, uma vez que Costa apoiou José Apolinário contra Porfírio Silva.  

A confiança de Costa em Graça Fonseca reflectiu-se na sua nomeação como chefe de gabinete. Actualmente vai no seu segundo mandato como vereadora na câmara de Lisboa.

João Galamba faz parte do grupo de jovens deputados que nunca disfarçaram as suas reticências em relação a Seguro. A aproximação a Costa foi acontecendo já depois de Sócrates o ter convidado para deputado.

Já há muitos anos que Luís Patrão tem nome no PS. Vizinho de Guterres, passou pelo Governo com este e com Sócrates. De quem, aliás, chegou a ser director-geral no PS. A sua experiência acumulada servirá para balizar a relação de Costa com o aparelho partidário.

Bernardo Trindade parece mais distante do novo líder. No seu currículo encontra-se a passagem pela secretaria de Estado do Turismo, com Manuel Pinho e depois Vieira da Silva.

Jorge Gomes foi governador civil e presidente da Federação de Bragança. Manuel Pizarro, vereador da Câmara do Porto e presidente do PS-Porto. Maria do Céu Albuquerque é presidente da Câmara de Abrantes, Maria da Luz Rosinha foi deputada e presidente da Câmara de Vila Franca de Xira. Isilda Gomes foi deputada e foi governadora civil de Faro, presidindo actualmente à câmara de Faro.

Partilhará aí um lugar com os ex-membros do secretariado de Seguro, Álvaro Beleza, Miguel Ginestal e Rui Solheiro.

Dos apoiantes do anterior secretário-geral ficam na Comissão Política, Jorge Seguro Sanches, Jamila Madeira, Eurico Dias, Eduardo Cabrita, José Manuel dos Santos, Isabel Santos, Manuel Machado e Miguel Laranjeiro.

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