João Semedo despede-se da liderança do Bloco, continua Catarina Martins

Pedro Filipe Soares integra uma comissão permanente de seis dirigentes que servirá para apoiar a porta-voz. E permanece na liderança parlamentar.

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Enric Vives-Rubio

O empate com que encerrou a IX convenção do BE há uma semana deixou o sentimento interno de que nada poderia ficar como dantes. Este domingo, após reunião da Mesa Nacional, João Semedo decidiu abandonar a liderança do partido, deixando Catarina Martins como única porta-voz nacional e pondo assim um ponto final no modelo de liderança paritária. Haverá agora uma comissão permanente composta por seis dirigentes, da qual Pedro Filipe Soares fará parte.

Segundo a regra da paridade aprovada na última convenção, esta comissão permanente é composta por seis elementos da comissão política. Estes membros terão funções diferenciadas, que ainda serão discutidas. Terão assento, além da porta voz e do líder parlamentar, mais quatro dirigentes: Adelino Fortunato, Joana Mortágua, Nuno Moniz e Pedro Soares.

Além destas mudanças, haverá outras. João Semedo não se sentará na comissão política, o núcleo duro da direcção, nem na comissão permanente agora criada para apoiar a porta-voz. Permanecerá apenas na Mesa Nacional, enquanto dirigente, e manterá o seu mandato deputado.

A solo na liderança, Catarina Martins afirmou, no final de quase oito horas de reunião do principal órgão de direcção entre congressos, que o Bloco "deve muitíssimo" a João Semedo, cuja "generosidade" e "empenho" foram indispensáveis para o encontro desta solução. "Respondemos ao apelo de João Semedo na convenção para enterrar a disputa interna e construir um Bloco unido", disse a porta-voz, ao sintetizar uma "direcção política que representa a diversidade", aprovada por 93% da Mesa Nacional, com algumas abstenções e sem votos contra.

"Afirmámos sempre que no Bloco a divergência não é defeito, é feitio. Aqui estamos mais unidos e mais fortes", afirmou a porta-voz. E desdramatizou o facto de o Bloco deixar cair o que içou como bandeira diferenciadora nestes dois anos: a coordenação a dois. “No Bloco achamos que a paridade é uma regra muito importante. Somos o primeiro partido em Portugal que é completamente paritário na sua composição”, disse.
 
Sem dispensar uma mensagem para o exterior já na condição de porta-voz, respondeu ao novo secretário-geral socialista, no dia do encerramento do congresso do PS: “Desengane-se António Costa se acha que nos pode dispensar como estando no coforto do protesto. Não estamos é no conforto das meias-tintas”. Depois, enumerou: dívida, emprego, reposição de salários e pensões, Tratado Orçamental, serviços públicos.

A solução agora encontrada responde não apenas ao empate de 34 delegados que saiu da convenção, mas também à necessidade de satisfazer divergências internas. Há dois anos, quando Francisco Louçã saiu da liderança, após 13 anos como rosto principal do partido, propôs um modelo de coordenação paritário que causou sempre grande polémica.

A UDP, tendência protagonizada pelo fundador Luís Fazenda e que tem agora em Pedro Filipe Soares o seu expoente máximo, sempre se opôs à ideia e reivindicava à data uma solução de vários porta-vozes, uma espécie de direcção colegial.

Se Catarina Martins será a única porta-voz na linha da frente nos próximos dois anos, num partido que não tem consagrado estatutariamente a figura do líder, o modelo de uma comissão permanente de seis dirigentes é aquele que mais se aproxima do que era então proposto pela UDP. A manutenção de Pedro Filipe Soares como líder da bancada de oito deputados completa o resto do puzzle do poder de uma corrente fundadora que detém agora nada mais nada menos do que metade da direcção.

Na hora da saída, João Semedo disse ao PÚBLICO que “tudo tem um princípio e um fim” e que o Bloco está agora mais unido. “O Bloco tem uma nova direcção, um novo modelo de coordenação e uma porta-voz, uma solução apoiada e aprovada por uma super maioria da Mesa Nacional”, começou por afirmar. Semedo recuou a 2012 para afirmar que contribuiu “com a Catarina Martins para uma fase difícil da vida do Bloco, o período após a saída do Francisco Louçã, a transição para um Bloco sem fundadores na sua direcção, um Bloco dirigido por uma outra geração de dirigentes”.

O coordenador do Bloco durante estes dois anos considerou, no entanto, que “esta convenção, a maior e mais participada de sempre, concluiu essa transição. Foram anos difíceis mas não foram anos perdidos.” Na óptica de Semedo, o apelo que realizou à saída da convenção há uma semana, para um Bloco que encerrasse a disputa interna e se debruçasse na unidade, teve eco ao longo da semana e no encontro desta solução “sólida”.

“Durante a semana trabalhei com outros dirigentes do Bloco, das várias moções, para a construção deste modelo. Limámos muitas arestas, aproximámos posições, conseguimos inovar e renovar. Nunca esse trabalho tinha sido feito no Bloco. Está feito, vai funcionar”, prometeu João Semedo. E focou nestes dois anos à frente do Bloco, garantindo continuidade do trabalho.

“Sei que a minha participação não é mais necessária para que ele funcione bem. Achei, achámos todos que podia deixar a coordenação e a direção política diária do Bloco. O Bloco está mais unido, o bloco está pronto para a luta toda. E eu lá estarei. Como sempre”, concluiu.

  

 

 

  

 

  

  

  

  

 
 


   


 

 

 
 

 

 

 

 

 

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