Na América, as calorias passaram a fazer parte do menu

Os americanos comem e bebem um terço das calorias fora de casa, e esta é uma maneira de lhes dar informação sobre o que comem.

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Um super hamburger, especialidade de um restaurante na Pensilvânia JEFF SWENSEN

Na América, vai passar a ser muito mais difícil ignorar as calorias. As cadeias de restaurantes, as máquinas de venda de comida, as mercearias, os cafés e as pizzarias vão passar a ter de colocar em local visível nos seus menus a informação calórica dos alimentos que vendem. A ordem, há muito esperada, foi emitida esta semana pela Food and Drug Administration (FDA).

A obrigatoriedade de informar o consumidor sobre as calorias que vai ingerir foi drasticamente alargada a um sem número de alimentos que os americanos consomem no dia-a-dia: as pipocas do cinema, os bolos da padaria, a sanduiche do café, o batido de leite da geladaria, o cheeseburger do pronto a comer, ou o sempre presente cachorro-quente.

“Os americanos comem e bebem um terço das calorias fora de casa, e hoje as pessoas esperam ter informações claras sobre os produtos que consomem”, disse a comissária da FDA, Margaret Hamburg.

Os restaurantes e outros estabelecimentos têm um ano para se adaptarem. Os donos das máquinas de venda de alimentos têm dois anos.

Os activistas que durante anos fizeram campanha para que a informação dos menus fosse mais transparente e completa defendiam que esta medida era uma importante ferramenta para combater a epidemia de obesidade. Esta semana elogiaram as novas regras da FDA.

“É um enorme avanço na educação em saúde pública, e compensa a espera”, afirmou Marion Nestle, uma conhecida nutricionista e professora de Saúde Pública na Universidade de Nova Iorque. “São excelentes notícias e, espero eu, um incentivo para os restaurantes reformularem a sua oferta, e passem a vender alimentos com menos calorias”.

Mas o entusiasmo não é universal.

Alguns sectores da indústria, como os que representam as mercearias e os pequenos supermercados de bairro ou as pizzarias, argumentaram que é pouco prático e dispendioso exigir etiquetas calóricas para comida feita à medida de cada cliente. E insistem que esta obrigação vai encolher mais as margens de lucro na indústria da restauração do que as barrigas dos americanos.

“Estamos muito desapontados”, disse Rob Rosado do Food Marketing Institute, que representa milhares de supermercados e armazéns de venda a retalho na área da alimentação.


Rosado sublinha que 95% dos alimentos nas mercearias já tem informação nutricional, graças a uma lei de 1990 que exige etiquetas em toda a comida embalada, e que os alimentos confeccionados são apenas uma fracção dos negócios das mercearias. Exigir etiquetas para comida fresca confeccionada em mercearias, cafés e padarias custará à indústria centenas de milhões de dólares. É preciso formar funcionários, fazer em testes laboratoriais para determinar as calorias em cada prato, exemplifica.

Menos produtos frescos

E isso pode levar as lojas a venderem menos produtos feitos na hora. “Estão a penalizar a frescura dos alimentos… vão ser substituídos por comida embalada”, vaticina Rosado. “Vai ter um impacto negativo para os clientes.”

As regras datam de uma emenda da Lei de Saúde Pública de 2010 da Administração Obama. Exigia que os estabelecimentos que vendem comida publicassem informação sobre as calorias dos seus menus, mas a quem exactamente houve um intenso debate sobre a quem é que este regulamento dizia respeito.

A FDA anunciou as suas propostas sobre informação calórica em 2011. Desde então, a agência recebeu centenas de comentários sobre que tipo de comida é que deveria ser sujeita às novas regras – desde organizações de defesa de consumidores a pizzarias, passando por cinemas. “Foi muito mais complicado do que pensávamos”, disse Hamburg.

As regras que agora entraram em vigor aplicam-se a uma enorme variedade de estabelecimentos. Com algumas excepções: restaurantes com menos de 20 lugares ficam isentos, e se os pratos fixos têm de ter informação calórica, os pratos do dia não. As bebidas alcoólicas do menu precisam de informação, mas os cocktails misturados no bar não.

Alimentos preparados nas mercearias e mini-mercados estão abrangidos pelas novas regras, mas produtos destinados a mais do que uma pessoa – uma peça de carne fatiada e uma embalagem de salada de batata, por exemplo – estão isentos. As pizzarias têm de listar as calorias das suas pizzas, mas a FDA autoriza que essa informação seja dada em números aproximados e não exactos para cada tipo de pizza, dado ao número imenso de combinações de ingredientes. As novas regras da FDA não se aplicam à chamada comida de rua, nem às refeições servidas nos aviões.

As regras têm o apoio da Associação Nacional de Restaurantes, que prefere um padrão uniforme de regras a nível nacional, em vez da actual confusão de diferentes regras estaduais e locais.

A questão de saber se divulgar listas de calorias vai levar os consumidores a fazer melhores escolhas está ainda por responder. Alguns estudos dizem que a informação calórica nos menus não desviará os consumidores do querem realmente comer. Mas em Seatle, depois de o município exigir que os restaurantes divulgassem as calorias presentes dos seus pratos, outro estudo mostrou que que se começaram a usar ingredientes menos calóricos.

“Com o passar do tempo vamos saber muito mais sobre as verdadeiras mudanças nos comportamentos dos consumidores”, disse Margaret Hamburg. “Esta iniciativa serve para dar informação aos consumidores. Eles podem usá-la para fazer escolhas mais informados sobre o que eles e a sua família comem.” 

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