Igreja católica e ONU exigem inquérito à morte por overdose de 35 presos venezuelanos

Autoridades confirmam as mortes, que atribuem à ingestão de um cocktail de álcool e drogas pelos presos que tomaram de assalto a enfermaria da cadeia de Uribana.

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Agentes da polícia guardam a entrada da morgue depois do motim na prisão de Uribana AFP/Shamil Camejo

Subiu para 35 o número de presos venezuelanos que terão morrido de overdose depois de terem “assaltado” a farmácia da cadeia de Uribana, na passada quinta-feira, num incidente que tanto a Igreja Católica como as Nações Unidas exigiram que fosse devidamente investigado pelo Governo de Caracas.

As autoridades venezuelanas admitiram que um motim na enfermaria daquela prisão, que fica nos arredores de Barquisimeto, a 250 km da capital, tinha terminado com a morte de 13 prisioneiros, alegadamente por overdose. O número entretanto subiu para 35, com fontes do Governo a admitirem que pelo menos outros 100 estão em tratamento por sintomas de intoxicação, 20 dos quais em situação crítica.

O deputado do partido Socialista Unido da Venezuela, William Ojeda, disse à BBC que os detidos tinham ingerido um cocktail de álcool e medicamentos que incluía antibióticos, insulina e medicamentos para tratar a hipertensão e convulsões. O mesmo responsável disse que o director da prisão foi detido e poderá ser formalmente acusado.

Segundo as agências internacionais, o motim no estabelecimento prisional de Uribana tratou-se de um protesto contra as más condições das cadeias na Venezuela, que figura na lista de várias organizações internacionais como um dos países onde o sistema está mais sobrecarregado. O protesto começou na segunda-feira, quando os presos iniciaram uma greve da fome.

Os familiares de vários dos presos contestam a versão oficial dos acontecimentos e responsabilizam o Governo pela morte dos detidos, que acreditam terem sido envenenados pelos guardas prisionais de forma a pôr fim ao protesto. Grupos de defesa dos direitos humanos exigem a abertura de um inquérito, e reclamam o acesso à cadeia e à morgue para confirmar os relatos oficiais.

O Presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, ainda não se pronunciou sobre o caso, mas o Governo garantiu que os “problemas” na prisão de Uribana foram resolvidos com a mobilização da Guarda Nacional para reforçar a vigilância e a transferência de centenas de detidos para outros estabelecimentos da região. Aquela unidade, que no ano passado foi palco de um violento motim que terminou com 58 mortes, tem uma capacidade máxima de 850 indivíduos, mas acredita-se que poderá albergar cerca de 3000 homens.

O Observatório Venezuelano das Prisões tem denunciado a violência dentro das cadeias, que frequentemente são dirigidas pelos membros de grupos criminosos que estão detidos. A mesma organização lembrou que em 2013 se registaram 506 mortes dentro das prisões do país.

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