Por um Portugal mais verde

A nível global temos vindo a assistir a uma dramática mudança demográfica que inevitavelmente afecta o planeamento urbano e o desenvolvimento das cidades.

Dados recentes indicam que entre 2000 e 2050, a proporção de pessoas a viver em áreas urbanas deverá aumentar até 70%. A construção desenfreada coloca problemas urbanos graves como a poluição ambiental, efeitos de ilhas de calor, aumento da permeabilização, etc.

Da necessidade de combater e evitar estes problemas e promover a saúde e qualidade de vida das populações urbanas, nos últimos anos têm surgido alguns programas e movimentos europeus como o Cidades Sustentáveis, Green Cities e Slow Cities, sendo que a implementação e valorização dos espaços verdes urbanos é um ponto comum e unânime em todos os programas europeus de políticas ambientais que visam o desenvolvimento sustentável das cidades.

Os espaços verdes são, de facto, um grande benefício para o nosso ambiente urbano. São capazes de filtrar os poluentes e poeira do ar, fornecem sombra e temperaturas mais amenas em áreas urbanas, reduzem a erosão do solo e permitem a retenção da água das chuvas devido ao aumento da área de permeabilização das cidades.

As graves cheias que tem assolado a zona de Lisboa nos últimos anos são indicação da falta disso mesmo, de um planeamento urbano sustentável e do aumento da permeabilização: “As cheias são resultantes do que está mal feito em termos urbanísticos. Entretanto [desde 2008], aumentou de forma caótica a área urbanizada porque é isso que dá dinheiro e votos”, criticou Gonçalo Ribeiro Telles durante as cheias deste ano. A construção em bacias hidrográficas e em leitos de cheia e o consequente aumento da impermeabilização significa que a água não se infiltra nos solos, escorrendo para as zonas baixas da cidade.

Para além dos benefícios ambientais que proporcionam os espaços verdes urbanos, como ajudar a regular a qualidade do ar, água e do clima, são vários os estudos recentes que nos levam a concluir que estão também associados a benefícios físicos e psicológicos nas populações urbanas.

Segundo um estudo publicado no Journal of Environmental Science & Technology, os espaços verdes nas cidades podem levar a melhorias significativas e persistentes para a saúde mental das populações. A interacção com os espaços verdes é essencial para o bem-estar mental, aumento da auto-estima e concentração.

Os benefícios físicos são também evidentes. O contacto próximo com a natureza serve de escape ao ambiente urbano caótico do dia-a-dia e a prática de desporto ao ar-livre é fundamental. Uma pesquisa levada a cabo por investigadores na Universidade de Amesterdão indica que pessoas com um acesso mais fácil a espaços verdes ostentam uma maior saúde física, menos ocorrências de doenças como ansiedade, obesidade e diabetes e menor taxa de mortalidade.

Entre outros benefícios, estão a preservação da biodiversidade, a criação de um maior sentido de comunidade e coesão social, ao favorecer a convivência entre determinados grupos sociais, e a redução da taxa de criminalidade, etc.

As cidades não deveriam ser tratadas apenas como um simples somatório de tudo o que lá existe, mas sim como um sistema capaz de se relacionar entre si. Pela persistência dos mesmos erros urbanos e pela difícil compreensão da sua natureza, só podemos concluir que a nossa percepção actual das cidades é confusa e incompleta. Construímos demais e pensamos de menos, sem planeamento eficaz e sem dar importância ao fundamental. Para uma maior vivência da cidade, todas as suas partes constituintes dever-se-iam articular da melhor forma possível, permitindo sobretudo um desenvolvimento sustentável e uma maior qualidade de vida da população.

Uma cidade que apresente uma boa estrutura verde urbana e que aposte nos espaços verdes (com um índice médio de 40m2 de espaço verde por habitante) terá, à partida, uma maior qualidade de vida e será igualmente mais apelativa à fixação das pessoas.

Cidades como Nova Iorque, com o seu famoso parque suspenso High Line, construído numa linha férrea abandonada, Londres, com o arrojado Garden Bridge, novo espaço verde que atravessará o Tamisa em 2018, ou Copenhaga, destacada este ano como Capital Verde Europeia, são exemplos a seguir no panorama mundial.

Em Portugal, apesar de todos os avanços nesta área, o desafio é que cada cidade saiba articular o seu crescimento económico, urbano e populacional com novos modelos de desenvolvimento sustentável e de encarar as áreas verdes urbanas como um sistema fundamental na construção de uma cidade contemporânea.

Arquitecto paisagista

Sugerir correcção
Ler 1 comentários