Semedo adia decisão da liderança, mas chama Pedro Filipe Soares

No final da Convenção, Bloco continuou dividido e sem líder. Mesa Nacional deve reunir no próximo fim-de-semana. Luís Fazenda é o único fundador que se mantém na direcção.

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A convenção foi marcada por um debate tenso entre as moções Enric Vives-Rubio

Foi uma convenção simbólica. Do princípio ao fim. O IX conclave dos bloquistas terminou neste domingo, em Lisboa, praticamente como começou, ou seja, sem uma decisão soberana acerca da liderança do partido para os próximos dois anos. A nova Mesa Nacional deverá reunir no fim-de-semana para debater o desfecho deste impasse.

Ao que o PÚBLICO apurou, a solução será trabalhada nos próximos dias e poderá passar por um acordo de bastidores. Tudo indica que João Semedo e Catarina Martins devem manter-se na coordenação. Entretanto, o líder da bancada de oito deputados já afirmou a sua disponibilidade para continuar “enquanto o partido achar que vale a pena”. A reunião da Mesa Nacional, que deve acontecer no final da semana, servirá assim para encerrar este capítulo.

Pedro Filipe Soares tinha partido para o embate da convenção com uma ligeira vantagem de meia dúzia de delegados. No primeiro dia do conclave somou outra pequena vitória, ao alcançar alterações estatutárias propostas por si e pelo seu núcleo duro de apoiantes, casos dos referendos internos subscritos por 500 militantes. Mas neste domingo o xadrez político voltou a ficar baralhado, com os que vaticinaram um empate mais perto de saírem vencedores.

259 votos para a Mesa Nacional, órgão máximo do partido entre convenções, ditaram um impasse de 34 lugares para cada uma das listas. Porém, a votação das moções de orientação política, que é feita de braço no ar, resultou numa vantagem de oito votos para os coordenadores do partido nos últimos dois anos. Os 40 minutos que se seguiram foram preenchidos por conversas em círculo e o impasse permaneceu.

Na Mesa Nacional, a lista B terá sete dirigentes e a lista R outros quatro, completando assim o órgão de direcção. Para já, parece pouco provável que estes 11 delegados da moção B e R estejam dispostos a “desempatar”.

Foi num gesto simbólico e puramente político que João Semedo encerrou a convenção, chamando ao palco do pavilhão do Casal Vistoso os 79 membros da Mesa Nacional. Ficou assim ladeado por Pedro Filipe Soares e os seus apoiantes, que o aplaudirem ao longo do discurso.

Num discurso conciliatório, Semedo garantiu que "este é o partido de todos os bloquistas" e que o debate que os trouxe até à convenção deve agora terminar. "Esta disputa interna deve encerrar", disse. “O convite que fazemos é que essa disputa interna, que nos trouxe a esta convenção, acabe. A Mesa Nacional deve definir o modelo de representação pública que melhor responda ao que saiu desta convenção e ao resultado das votações que aqui fizemos. É esse o nosso apelo”, acrescentou.

Assumindo que as diferenças dão “unidade” ao Bloco e que essa é uma marca identitária, João Semedo reforçou a “responsabilidade especial” desta Mesa Nacional e da decisão que tomará em relação à coordenação do partido. “Nós falamos muito sobre os outros, e bem, mas também temos de começar por dar o exemplo na nossa casa, no nosso Bloco”, alegou.

A convenção foi marcada por um debate tenso entre as moções com empate de posições, aplausos e assobios. Até ao último instante, o resultado foi imprevisível e a divisão permaneceu já depois das cadeiras arrumadas e do palco desmontado.

Ainda antes do anúncio dos resultados, Catarina Martins ainda teve tempo para dizer que a moção dos até agora coordenadores “fez tudo para evitar a contagem de espingardas”. Pedro Filipe Soares elogiou o debate “profundo” e “sério”, mas deixou o aviso de que no Bloco não há espaço “para essa ideia que mandam os de cima para os debaixo obedecerem”.

Minutos antes do pano cair, João Semedo chegou mesmo a afirmar que parecia, findos os trabalhos, que todo o debate não tinha afinal servido para nada. “Mas há uma grande diferença. Este Bloco é melhor e mais forte do que era há três dias”, concluiu.

Só Fazenda permanece na direcção
Os fundadores Francisco Louçã, Fernando Rosas e Luís Fazenda também fizeram leituras distintas. E tomaram opções diferentes nesta IX convenção. Enquanto Rosas e Louçã abandonaram a direcção do BE, Fazenda é ó único dos fundadores que permanece membro da Mesa Nacional.

Louçã defendeu que a Mesa Nacional tem agora a "obrigação de olhar para o debate político" e fazer "o melhor entendimento possível” do que se passou no congresso. O ex-líder acenava assim com a diferença de oito braços no ar a favor da moção de Semedo e Catarina, que subscreveu.

Por outro lado, Luís Fazenda, apoiante de Pedro Filipe Soares, afirmou que é “prematuro” falar acerca do desenlace, mas sublinhou que essa será uma “escolha política”, já que o BE não tem sequer prevista a figura do líder nos estatutos. Sem “dramas inultrapassáveis”, Fernando Rosas referiu que a Mesa terá que encontrar uma solução para o “problema”, mas que “é certo que a moção vencedora foi a de João Semedo e a de Catarina Martins”.

Ao PS, o Bloco deixou o mesmo recado da véspera, desfazendo a ilusão de qualquer possibilidade de compromisso com o partido de António Costa. Se o secretário-geral do PS vier a constituir governo, em 2015, e afirmar que "não há dinheiro para criar emprego e baixar impostos" terá pela frente o protesto dos bloquistas.

"Nesse primeiro dia terá o BE nas ruas", garantiu João Semedo. Marcos Perestrello, em representação do PS, reagiu lamentando a “deriva sectária do Bloco” que cria obstáculos ao diálogo à esquerda. Já Armindo Miranda, do PCP, disse manter “intacta” a disponibilidade para o diálogo e para levar "a felicidade a casa dos portugueses”.

Para fora, o BE deixou três compromissos políticos: derrotar a austeridade, definindo esse combate como a luta central para as legislativas do ano que vem; apostar numa maior mobilização social; reverter a relação de forças entre o trabalho e o capital. “É onde temos perdido que precisamos de passar a ganhar”, rematou João Semedo.

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