Costa afirma que o PS não tem práticas estalinistas de eliminação de fotografias

Novo líder socialista recusa comentar detenção de Sócrates, afirmando que o PS "assume toda a sua história" e que "ninguém, num Estado democrático, está acima da lei".

O novo secretário-geral dos socialistas, António Costa, afirmou no sábado, a propósito da detenção do ex-primeiro-ministro José Sócrates, que o PS não adopta a prática estalinista de eliminação de fotografias e assume toda a sua história.

"O PS é um partido que não adopta as más práticas estalinistas de eliminação da fotografia deste ou daquele. O PS assume toda a sua história, dos bons e dos maus momentos", declarou António Costa, no sábado à noite, perante uma sala cheia de militantes, na sede do PS, em Lisboa, depois de ser eleito secretário-geral dos socialistas.

António Costa manifestou solidariedade para com José Sócrates, não quis comentar a actuação das autoridades judiciais neste caso e, face à insistência dos jornalistas neste assunto, respondeu que, "para além da notícia do dia, o PS existe há 41 anos, e existirá por muitos mais anos, e tem uma agenda própria que transcende a agenda mediática do dia de hoje: é a agenda de construção de uma alternativa política para o país".

Antes, o secretário-geral dos socialistas defendeu que "não compete ao PS apreciar o que está em causa neste processo", como em "em qualquer outro", assinalando que, "num Estado de direito democrático, é à justiça e só à justiça que cabe a administração da justiça".

"Ninguém, num Estado democrático, está acima da lei, e essa é a melhor garantia que os cidadãos têm: que seja quem que tenha cometido algum ilícito esse ilícito será apreciado e julgado pela justiça", disse. "Assim como toda a gente goza do princípio da presunção de inocência", acrescentou, recebendo palmas dos militantes do seu partido.

António Costa completou que, segundo esse mesmo princípio, se alguém "não for culpado, a justiça também saberá reconhecer a inocência".

O socialista desejou que o processo em que está envolvido José Sócrates, como "qualquer outro", decorra "com normalidade" e que "a justiça apure tudo o que houver a apurar sobre essa matéria".

Instado a dar a sua opinião, como antigo da ministro da Justiça, sobre a forma como as autoridades judiciais procederam neste caso, detendo o ex-primeiro-ministro e antigo secretário-geral do PS no aeroporto, à chegada a Lisboa, António Costa escusou-se a fazer comentários.

"Precisamente por ter sido ministro da Justiça, habituei-me a que não me compete comentar a actuação das autoridades judiciárias", justificou.

O também presidente da Câmara Municipal de Lisboa insistiu na ideia de que é preciso pôr de parte "os sentimentos pessoais" sobre este caso, separando-os da acção política do PS.

"Aquilo que tem de ser salvaguardado é que os sentimentos pessoais de qualquer um de nós não podem comprometer nem fazer confundir o que é essencial, que é a capacidade de o PS se manter concentrado na ação política, a fazer aquilo que lhe compete: a oposição a este Governo e a construção de uma alternativa de futuro Governo de Portugal", considerou.

António Costa foi aplaudido quando elogiou a história do PS, e o seu contributo para a liberdade, a democracia e o Estado de direito.

O ex-primeiro-ministro José Sócrates foi detido na sexta-feira à noite no âmbito de um processo de suspeitas de crimes de fraude fiscal, branqueamento de capitais e corrupção.

Esta é a primeira vez na história da democracia que um antigo primeiro-ministro é detido para interrogatório.

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