Mercado de S. Sebastião pode ser “cartão-de-visita do centro histórico” do Porto
Edifício é municipal mas a gestão é da União de Freguesias do Centro Histórico do Porto.
Os turistas saem do autocarro e sobem, em direcção à Sé do Porto, mas, a meio caminho, param para fotografar o Mercado de S. Sebastião, que se vê melhor ali do cimo da rampa. Fotografam, mas não entram e, se entram, não compram, queixam-se as vendedoras locais. Com plásticos a tentar impedir a passagem do vento, as vendedoras lamentam o “esquecimento” a que se dizem votadas. Mas o presidente da União de Freguesias do Centro Histórico do Porto, António Fonseca, afirma que o espaço “tem um potencial enorme” e que tudo vai mudar. “Quero fazer do mercado uma espécie de cartão-de-visita do centro histórico”, diz.
“Ó, menina, já tivemos tantas promessas, tantas!”. Isabel “Peixeira” (assim mesmo, que ali todas se conhecem é pelas alcunhas de muitos anos, diz ela) não se mostra muito entusiasmada com as recentes visitas de António Fonseca. Não é que as ideias apresentadas pelo autarca não lhe agradem, o problema é que já ouviu outras ideias, em diferentes ocasiões, e nada se concretizou. “Eles pedem projectos aos arquitectos para melhorar isto, mas quando eles apresentam a conta, volta tudo à estaca zero.”
António Fonseca não sabe ainda quanto custará a concretização do projecto que quer ver nascer no mercado, mas conta com a ajuda da Câmara do Porto, para poder levar os trabalhos de remodelação do mercado avante. “O mercado está muito bem situado e tem um potencial enorme, só que está sem visibilidade nenhuma. Vamos colocar ali uma iluminação nova, sinalética e dar uma nova dinâmica ao espaço”, garante.
O primeiro passo, afirma, já foi dado, com o apoio do pelouro do Ambiente da Câmara do Porto. “O mercado não se via [da Avenida D. Afonso Henriques], porque havia ali um arvoredo que o tapava. Por isso, dormiam lá várias pessoas e usavam o espaço como casa-de-banho. Limpamos tudo e agora o mercado já é bem visível da rua”, afirma António Fonseca.
“É verdade. Lá isso, limpar, limpou”, sustenta Isabel “Peixeira”. O resto é que ainda falta ver. “O presidente da junta diz que vão ajeitar isto. Que as pessoas que estão a vender lá em cima vêm cá para baixo e que ali vão vender artesanato. Mas a verdade é que, olhe, esta porta está fechada a cadeado há dois meses, sem fechadura, e também dizem que vêm arranjar e até agora, nada.”
Otília “do 21” também se mostra céptica com as promessas ouvidas esta semana a António Fonseca e a porta fechada a cadeado é a razão que aponta para essa desconfiança. “Dizem que vêm arranjar, mas não aparece ninguém.”
Otília e Maria “da Aida” têm outras queixas. Os clientes não aparecem, afirmam, porque não há onde estacionar um carro. Ou melhor, há, mas os lugares estão reservados aos autocarros de turismo e qualquer potencial cliente do mercado arrisca-se a ser multado. “Olhe que ainda há tempos ia com as sacas nas mãos, via-se mesmo que eram compras daqui, e o polícia multou o cliente, que tinha parado o carro aqui um bocado. Assim não pode ser”, diz Maria “da Aida”. Otília apanha a deixa: “Eu tinha uma cliente que vinha de Baião e que já me disse que não vem mais, por causa das multas ao carro”.
António Fonseca admite que a questão do estacionamento poderá ser difícil de solucionar, mas acredita que a remodelação interior do mercado – melhores equipamentos para os frescos, como torneiras novas, reformulação do número de bancas e colocação de placas de acrílico a substituir os plásticos que tentam travar o vento – irá levar ali novos clientes. A juntar a isto, quer alargar os horários e dias de abertura (o mercado abre entre as 7h e as 13h, de terça a sábado) e ocupar todas as bancas do espaço. “Todos os dias tenho pessoas da Sé a pedir-me um local para vender artigos e a ideia é dar-lhes uma possibilidade ali, permitir que elas tenham acesso ao mercado."
Como o edifício é da câmara, o presidente da junta refere que terá de lhe pedir autorização (e também apoio) para a intervenção no mercado, pelo que o processo pode durar ainda algumas semanas. Já questões como a iluminação do mercado e a colocação de sinalética que chame a atenção para a existência da estrutura deverão estar resolvidas “muito em breve”.