Clima adverso reduz produção de azeitona e pragas ameaçam qualidade do azeite no Alentejo

A campanha anterior registou uma produção excepcional equivalente à registada nos anos 60. A campanha em curso está ameaçada de elevadas perdas na produção.

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A produção de azeitona está a ter uma forte quebra na campanha em curso Rui Gaudêncio

Temperaturas baixas no Verão e excesso de chuva no início do Outono estão a potenciar ataques anormais da mosca da azeitona e da gafa, males responsáveis por uma redução acentuada na produção de azeitona.

Os prejuízos “são muito elevados”, sobretudo nos olivais tradicionais, admitiu ao PÚBLICO Álvaro Labella, da direcção da Olivum – Associação de Olivicultores do Sul, recentemente formada para congregar os produtores de azeite com explorações no Alentejo.

Este dirigente associativo refere que os novos olivais não “terão sido muito afectados” pela mosca da azeitona, o principal inimigo da oliveira, porque os produtores recorreram às “armadilhas e insecticidas” que reduziram o efeito da praga. Contudo, as condições atmosféricas propiciaram igualmente o aparecimento “muito precoce” de um outro problema: a gafa, uma doença que se manifestou com uma intensidade pouco habitual e que provoca a queda dos frutos e a diminuição do conteúdo da polpa. A azeitona que aguenta nas árvores regista um amadurecimento mais rápido.   
Este fenómeno obrigou a antecipar em cerca de um mês a campanha deste ano. A apanha arrancou no final de Outubro e está a ser encarada como uma verdadeira corrida contra o tempo. Colocar rapidamente a produção nos lagares é a palavra de ordem, para que a produção não seja afectada por novas chuvadas ou pelo agravamento das doenças. 

Os olivicultores da região temem que as condições atmosféricas associadas às doenças possam vir a provocar “uma quebra grande na produção dos olivais tradicionais e também nos novos olivais”, assinala Álvaro Labella.  

A produção de azeitona para azeite no Alentejo atingiu na campanha do ano passado as 627 mil toneladas, cerca de 71% da produção nacional, o que constitui a maior safra desde a década de 1960. Ainda não é possível calcular o decréscimo da produção que se registará no ano em curso, mas tudo indica que será elevado, contrastando com a campanha anterior.

Os olivicultores da região de Portalegre admitem que nalguns casos as perdas “podem ser de cem por cento”. Também no Norte alentejano a praga da mosca obrigou a antecipar a recolha da azeitona para evitar que mais frutos apodreçam.

O presidente da Associação de Agricultores do Distrito de Portalegre, António Bonito, prevê que se registem “quebras significativas” .  

A Confederação dos Agricultores de Portugal divulgou uma estimativa do Conselho Oleícola Internacional (COI), segundo a qual a produção mundial de azeite será este ano superior a 2.560.000 toneladas, o que representa uma diminuição de 19% face à campanha anterior.

Fazendo um paralelismo com a campanha de 2013/2014, a produção em Espanha deverá diminuir cerca de 50%, atingindo as 875.000 toneladas. A COI prevê na actual campanha uma procura superior à oferta, o que irá originar uma redução das quantidades armazenadas. 

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