Oito novas imagens do corpo de Che Guevara esquecidas 50 anos numa casa espanhola

Em 1967, o ícone da revolução cubana foi executado na Bolívia e o mundo viu raras imagens do seu cadáver. Numa cidade do norte de Espanha, existiam mais oito fotografias até agora desconhecidas.

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Imanol Arteaga, sobrinho do missionário Luis Cuartero, revelou na semana passada as imagens JAVIER SORIANO/AFP
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O fotógrafo da AFP Javier Soriano reproduziu as imagens encontradas no espólio do missionário espanhol JAVIER SORIANO/AFP
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Uma das imagens que mostra que a fotografia terá sido feita num momento diferente do da exposição à imprensa do corpo de Che JAVIER SORIANO/AFP
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Uma das imagens de Marc Hutten em Vallegrande MARC HUTTEN/AFP
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Ao todo, são oito as novas fotografias agora descobertas em Espanha JAVIER SORIANO/AFP
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O missionário Luis Cuartero, fotografado por Marc Hutten durante um funeral na Bolívia MARC HUTTEN/AFP
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Ao todo, são oito as novas fotografias agora descobertas em Espanha JAVIER SORIANO/AFP
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Marc Hutten esteve em Vallegrande a fotografar o corpo do líder revolucionário MARC HUTTEN/AFP
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Ao todo, são oito as novas fotografias agora descobertas em Espanha JAVIER SORIANO/AFP
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A imagem que se pensa ser do corpo de Tamara Bunke JAVIER SORIANO/AFP
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Imanol Arteaga diz perceber agora o valor histórico das imagens guardadas entre os bens do seu tio JAVIER SORIANO/AFP

Oito novas imagens do corpo de Ernesto “Che” Guevara foram descobertas na pequena cidade espanhola de Ricla e mostram o líder revolucionário argentino após a sua morte às mãos do exército boliviano em Outubro de 1967. São fotografias a preto-e-branco escondidas e esquecidas durante décadas entre os pertences de um missionário espanhol cujo sobrinho agora as revelou ao mundo.

Che Guevara, médico nascido na Argentina cujo papel na revolução comunista cubana o elevou ao estatuto de ícone do século XX,  foi morto a 9 de Outubro de 1967 por militares bolivianos. Foi executado um dia depois da sua captura na selva quando, segundo o general boliviano Gary Prado - que comandou 70 homens recém-formados num campo das Forças Especiais norte-americanas nas buscas em torno do guerrilheiro marxista -, estava sozinho. Segundo os documentos desclassificados do National Security Archive norte-americano sobre as operações da CIA e do exército da Bolívia que estavam no encalço de Guevara, quando foi detido o revolucionário disse: “Não disparem. Sou Che Guevara e valho mais vivo do que morto”.

O seu cadáver foi exibido publicamente e à imprensa na aldeia de Vallegrande e o correspondente da agência de notícias AFP fotografou-o, a cores. As imagens de Marc Hutten de Che estendido, de tronco nu e calças arregaçadas, rodeado por três homens circularam pelo mundo. Depois, o corpo de Che Guevara foi enterrado num local então secreto e que, na década de 1990, foi identificado por um general boliviano, Mario Vargas Salinas, como sendo uma vala comum junto a uma pista de aterragem nos arredores de Vallegrande. Em 1997, o corpo foi sepultado em Santa Clara, em Cuba.

Agora, as imagens reveladas por Imanol Arteaga, um aragonês residente em Ricla, mostram o corpo do guerrilheiro e escritor no que aparenta ser um momento distinto daquele retratado por Hutten – e paralelo ao que foi retratado, como lembra o Washington Post, pela Associated Press e que mostra o corpo antes de ser limpo para ser apresentado à imprensa. Deitado numa maca de olhos abertos e manchado de terra e sangue, Che Guevara surge numa das oito imagens com um casaco apertado – e numa outra, relata a AFP, estará retratada Tamara Bunke, conhecida também como Tania the Guerrillera e a única mulher no grupo de guerrilha de Che, também morta e desfigurada.

As oito fotografias a preto-e-branco faziam parte dos bens de Luis Cuartero, missionário que na década de 1960 esteve na Bolívia e que morreu em 2012. “Lembrei-me de que ele tinha fotografias de Che Guevara e a minha tia disse ‘Sim, sei onde estão’”, relatou à AFP Imanol Arteaga. “Estavam numa caixa com um monte de fotos da Bolívia.” De acordo com peritos ouvidos por Arteaga, o papel em que estão impressas é hoje raro e não se fabricará há décadas.

“[Luis Cuartero] trouxe as fotografias quando veio [a Espanha] para o casamento dos meus pais em Novembro de 1967”, diz o seu sobrinho, agora com 45 anos. “A minha mãe e a minha tia disseram-me que um jornalista francês lhas tinha dado.” Mark Hutten é o suspeito mais provável da autoria das fotografias, sendo que existe uma imagem da sua autoria do próprio missionário em plena Bolívia em 1967. Arteaga acredita que o fotógrafo francês tenha recorrido ao missionário espanhol como forma de expedir rapidamente as imagens e as retirar do país, pois Cuartero seria “o único europeu a deixar a Bolívia naquele momento”, prestes a partir para o casamento dos pais do herdeiro das históricas imagens.

Mark Hutten morreu em Março de 2012 e, segundo escreve a AFP, não terá tido mais contacto com a família espanhola. A agência recorreu então ao actual editor de Fotografia da AFP para a Europa e África, Sylvain Estibal, que recorda que Hutten disse aos colegas “que tinha mandado quatro ou cinco rolos de fotos para a AFP em Paris”, mas que, meses depois, percebeu na capital francesa que “só poucas das suas fotografias” tinham chegado aos editores. “Onde foram parar as outras é ainda um mistério”, disse Estibal, não se comprometendo com a autoria destas fotografias agora descobertas.


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