A nova Band Aid canta a canção de sempre para combater o Ébola

A nova versão de Do they know it's Christmas foi apresentada este domingo por Bob Geldof no palco do programa Factor X. Veja aqui o vídeo.

A nova Band Aid

Foi gravada este sábado e as estrelas tinham uma multidão a aplaudir a sua chegada aos estúdios Sarm, em Notting Hill, Londres. Foi apresentada domingo durante a emissão da versão britânica do concurso de talentos Factor X. Segunda-feira, chegou às lojas em formato físico e digital. Trinta anos volvidos, a Band Aid continua. Três décadas depois de Bob Geldof e Midge Ure terem reunido a constelação de estrelas pop da época para angariar dinheiro para combater a fome na Etiópia, a mesma canção, Do they know it’s Christmas?, servirá para reunir fundos que ajudem na luta contra a epidemia do Ébola na África ocidental. Bob Gelfof revelou nesta segunda-feira ter angariado já 1,25 milhões de euros em apenas cinco minutos a venda do single.

A estratégia é exactamente a mesma, e a canção também. Ou quase. Na quarta versão do tema que vendeu três milhões de cópias após o lançamento original, em 1984, reunindo mais de oito milhões de libras (cerca de 10 mihões de euros), alguns versos foram alterados para o novo contexto: “where a kiss of love can kill you / where there’s death in every tear” ("onde um beijo de amor pode matar-te / onde existe morte em cada lágrima"), cantam agora. Uma passagem, de gosto mais do que duvidoso (“Well tonight thank God it’s them instead of you” ("Esta noite, agradece a Deus serem eles em vez de ti"), foi substituído pelo neutro e politicamente correcto “well tonight we’re reaching out and touching you”  – Bono, que dizia “abominar” o verso original, pode cantar agora a sua parte com maior convicção.

Ao lado do veterano vocalista dos U2, presente na versão original, surge a habitual constelação de estrelas pop: Chris Martin, dos Coldplay, Seal, Sinead O’Connor, celebridades muito do momento como os One Direction, Sam Smith, Rita Ora ou Dan, músico dos Bastille, e uma figura de primeira grandeza da música africana, Angélique Kidjo, nascida no Benin. Vemo-los no vídeo divulgado esta segunda-feira. Surgem depois das imagens de uma mulher infectada a ser retirada de uma casa decrépita. Desenhado o contexto, surgem então os cantores, alternando na interpretação de cada um dos versos antes de se reunirem no final para unir vozes na despedida: “Feed the world, let them know it’s Christmas time again” ("Alimentem o mundo, façam-nos saber que é de novo tempo de Natal") .

Os méritos musicais da canção são, obviamente, uma questão secundária neste contexto. “É uma canção, um tema, mas é [também] um acontecimento e o próximo passo será transformá-la num fenómeno como nos anos 1980. E a única forma de o atingir é conseguindo que as pessoas comprem”, afirmou Bob Geldof à BBC News. A campanha começou este domingo, quando o mesmo Geldof, no palco do Factor X, classificou o Ébola como a “doença mais desumana” no mundo neste momento. “Mas podemos pará-la e vamos pará-la”, acrescentou, antes da exortação final: “Factor X, partimos para a guerra. Vamos parar esta coisa.”

Como voz discordante surge Damon Albarn. Entrevistado pelo Channel 4 News, o vocalista dos Blur, que há muito desenvolve trabalho de proximidade com músicos do Mali ou da Nigéria e que criou o African Express, plataforma através da qual é promovido o encontro entre músicos africanos e europeus, disse haver “problemas com a nossa [ocidental] ideia de caridade, especialmente”, acrescentou, “estas coisas que aparecem do nada e que suscitam um frenesim mediático no qual aquela comunicação que é essencial se perde, e tudo começa a parecer um processo em que, se deres dinheiro, resolverás o problema, quando, por vezes, dar dinheiro cria um novo problema.”

Do they know it’s Christmas? é o favorito nas casas de apostas para atingir o primeiro lugar nas tabelas de vendas britânicas no Natal. O governo britânico aceitou isentar de impostos os lucros das vendas, garantindo dessa forma que todo o dinheiro acumulado reverterá para o combate à epidemia.

 

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