Jornalismo e “a corrupção da democracia”

Hoje, vou decididamente fazer incitamento e elogio a práticas de jornalismo que tomam partido pelo combate a esta “pandemia que tudo invade, que tudo perverte, a corrupção da democracia”.

Eu bem sei que os leitores estão sempre mais à espera que eu os defenda dos descaminhos em que, porventura, a prática do jornalismo pode incorrer. E isto, aqui ou ali, quer pela infracção, voluntária ou involuntária, de normas deontológicas que regem o exercício desta profissão ou pelo simples resvalar da ocorrência de erros o lapsos rapidamente por eles contestados em nome da exigência de um jornalismo de qualidade e responsável.

Eu bem ouço os epítetos com que, muitas vezes, são mimoseados os jornalistas, confundidos no todo de um rebanho com ovelhas tresmalhadas. Eu bem sei das acusações que lhe são dirigidas, algumas na rua, outras nas barras dos tribunais, pela vitimação fácil que, por vezes, perpetram na eventual viciação de certas notícias sobre acontecimentos ou pessoas. Eu não me esqueço daquele aviso que já recebi de alguns leitores: “Você é provedor dos leitores do PÚBLICO e não dos jornalistas”. Mas, hoje, vou decididamente fazer incitamento e elogio a práticas de jornalismo que tomam partido pelo combate a esta “pandemia que tudo invade, que tudo perverte, a corrupção da democracia”.

Esta frase não é minha. Escreveu-a José Vidal-Beneyto, no livro intitulado justamente A corrupção da democracia e editado já depois da sua morte, em 2010. Vidal-Beneyto, articulista habitual do El Pais, dizia que ao ler e ouvir todos os dias nos meios de comunicação as notícias que estas nos trazem sobre “o desmantelamento da moral pública nas mãos da razão de Estado” é difícil não concluir que não estamos apenas a assistir a casos de corrupção nas democracias, mas à corrupção da democracia. Estamos a constatar a notícia de acções que induzem, na expressão de Zygmunt Bauman, a uma “liquidez social” na fragilização de todos os laços sociais e das formas das relações interpessoais e a própria governabilidade da democracia. Estamos a atingir situações deste fenómeno que nos impõem perguntar se a democracia neste seu modo de funcionamento “está a transformar-se num regime substancialmente corrupto, ou seja, se a transformação política não se está a transformar numa corrupção democrática”. Como escrevia no seu livro de autêntico testamento de investigador social, a corrupção tornou-se sistémica e aquilo que “era um recurso ocasional assumiu a categoria de estratégia básica na conquista do mercado e relegou o lobbysmo a uma velha e desusada engenhoca”. 

Os sucessivos casos que se vêm acumulando nas democracias prescrevem, de alguma maneira, esta tese de que o que está em jogo é a corrupção da democracia. Bastam os exemplos da vizinha Espanha e da recente campanha das eleições no Brasil, onde a corrupção foi o tema fundamental. Infelizmente, este nosso país, sem exclusividade no mercado, constitui-se como protótipo que exemplifica a tese. Para referenciar aqueles mais recentes, BPN, BPP, Operação Furacão, Portucale, Face oculta, Submarinos, BES, Vistos gold, colocam-nos num desprestigiante “labirinto” com lugar reservado e destacado no ranking dos fenómenos da corrupção. E não podemos, tão inocentemente ou covardemente, dizer: são casos de justiça, a Justiça que os resolva. São casos que conspurcam por demais a cidadania e a actividade política. E, aqui, se o jornalismo e os jornalistas têm uma razão suprema da sua existência – a defesa de uma sociedade civilizada – é seu dever assumir, sem medos ou tibiezas, o combate a esta ameaça que corrompe o nosso próprio destino. Sem alardes de espectacularidade de fácil consumo ou da vitimação improvisada de imediatos “bodes expiatórios”, o jornalismo, os jornalistas, têm, de algum modo, por dever ético e deontológico de ofício, como defende Daniel Cornu, um provedor de referência internacional, de antecipar-se ao Direito, na denúncia sem encobrimentos pela investigação rigorosa dos factos. Não quero invocar o nome de jornalistas deste jornal ou de outros media que têm ocupado lideranças, com destemor mas grande perseguição dos poderes públicos, no combate a este carcoma de um sistema político, o democrático, que, “entre todos os piores, é o melhor”. Não quero, pois, não me parece aconselhável praticar discriminações. Todavia, correndo o risco de desagradar mais uma vez àqueles leitores que dizem não precisar de que o provedor seja mais um comentador – “de comentadores  já estamos cheios” – perante o clima poluto desta corrupção tão banalizada, entendo ser meu dever de provedor fazer um apelo ao PÚBLICO e aos seus jornalistas por uma atenção rigorosa ao desbravar deste novo escândalo que nos assola. O pior que nos pode acontecer é fazer passar na opinião pública que a corrupção é um mal endémico à nossa maneira de ser e estar.

 

CORREIO LEITORES/PROVEDOR

 

A vigilância útil dos leitores

Nesta rotina quotidiana de fazer um jornal, e agora, na edição digital, a tempo contínuo, há erros e lapsos a que escapam aos jornalistas, mas não a todos os leitores. Só posso agradecer aos leitores a apertada vigilância.

Um leitor chama a atenção de um título (PÚBLICO, 7.11.14) que não deve escapar a um jornal de qualidade: “CES alerta que caso da PT deve servir de alerta à política de privatizações do governo”.
 
 
 
 
 

 

Na rubrica o “PÚBLICO errou”, o PÚBLICO rectificou: No artigo sob o título Identificada uma bactéria que ajuda a emagrecer de forma significativa” (edição de 7.11.14) “as esponjas não são cordados, como é referido, pertencem ao filo Porífera”.

A leitora, por sinal bióloga, agradece a rectificação, embora esclareça que não leu o PÚBLICO desse dia, o que deve ter acontecido a outros leitores. Neste laconismo da rectificação é natural que só os entendidos na matéria percebam do que se está a falar. As esponjas, ou Poríferos, são os animais mais simples que existem e nunca apresentam, nem durante o seu desenvolvimento, corda dorsal. Talvez – diz a leitora – fosse bom maior cuidado e rigor nestas notícias de informação científica (como em todas, afinal,) pelo respeito que todos os leitores merecem e pelo prestígio do jornal.

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O PÚBLICO na rubrica Iniciativas de 31.10.14 traz um texto sobre A Peregrinação de Fernão Mendes Pinto e escreve: “Fernão Mendes Pinto nasceu em Montemor-o-Velho, mas o seu talento para a escrita e o espírito curioso o afastaram das terras alentejanas”. Ora, Montemor-o-Novo pertence ao distrito de Évora, Montemor-o-Velho pertence ao distrito de Coimbra. É lamentável que um jornal com o prestígio e a responsabilidade do PÚBLICO cometa semelhante deslize”.


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O autor Eugénio Lisboa que, no dia 3 de Novembro deste ano, recebeu o grande prémio de Literatura Biográfica atribuído pela Associação Portuguesa de Escritores à sua obra Acta Est Fabula – Memórias I – Lourenço Marques, publicado em 2012, lamenta o silêncio do PÚBLICO sem referir este prémio. “O PÚBLICO, um jornal sempre muito atento à actividade cultural”.
 

O “Golfe das Catifarras” lamenta que, não obstante a sua insistência, não consiga que alguns jornalistas do PÚBLICO, na rotina da escrita, insistam em não distinguir os conceitos espaço (metros) e tempo (horas).

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 Continuo a receber “Cartas à Directora” e artigos com pedido de publicação. Obviamente, que não me compete dar sequência a esses pedidos. Quando muito reenvio-os para a Direcção. 
 

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