O cinema regressa à Gulbenkian e é "pr'a rir"

João Mário Grilo programou um ciclo que pretende reconduzir os espectadores à experiência plena da sala escura. Na primeira sessão, A Quimera do Riso, de Preston Sturges.

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O ciclo abre com um clássico do cinema americano: A Quimera do Riso (1941), de Preston Sturges

O grande cinema clássico, e não só, vai regressar ao grande auditório da Fundação Gulbenkian, em Lisboa. Vai regressar sob o signo do riso, e promete continuar a fazer rir até à próxima Primavera, num programa comissariado por João Mário Grilo. O realizador (O Processo do Rei, A Vossa Casa), crítico e professor da Universidade Nova de Lisboa foi convidado pela fundação a elaborar um programa para a sala principal, recentemente restaurada e equipada com as mais modernas tecnologias de exibição, sem esquecer a velha película.

João Mário Grilo respondeu ao convite com um Ciclo p'ra rir!. Não apenas porque rir é o melhor remédio, mas porque acredita que “rir em conjunto com os filmes” reconduz o espectador à experiência plena da sala escura que fez a popularidade e a singularidade do espectáculo cinematográfico.

“A filosofia do programa que propus à Gulbenkian é dirigir a atenção mais para a atmosfera da sala, o que tem menos a ver com os filmes do que com os espectadores”, explica Grilo ao Ípsilon. “A minha perspectiva é que o verdadeiro cinema não acontece no ecrã, mas na sala. O cinema é isso”, acrescenta. Daí que o calendário que elaborou – que terá um primeiro ciclo de duas dezenas e meia de filmes a exibir já entre Dezembro e Março, a que se seguirá um segundo, na Primavera de 2015 – não tenha a pretensão de fazer história, ou análise crítica, da Sétima Arte, como as cinematecas. 

“O Riso pareceu-me um bom gesto inaugural” para o regresso dos grandes ciclos de cinema à Gulbenkian, escreve Grilo na apresentação do seu programa. A primeira parte do ciclo começa, a 1 de Dezembro, com um clássico do cinema americano, A Quimera do Riso (Sullivan’s Travels, 1941), de Preston Sturges, e vai organizar-se em seis séries, que articulam diferentes formas de rir e sorrir frente ao ecrã, seja numa fita burlesca, numa comédia, num melodrama ou num filme de Nanni Moretti.

A herança do burlesco marca, de resto, a primeira série de fitas, de Chaplin e Buster Keaton ao Jean Renoir de Boudu Querido. Depois vêm as “comédias de recasamento”, com filmes de Leo McCarey, Hawks e Cukor. O “riso europeu” (Sacha Guitry, Robert Hamer e Bergman), o “cinema total” de Jerry Lewis e “o cinema rindo-se dele próprio” (Truffaut, Fellini, Moretti e Woody Allen) completam o primeiro programa.

O cinema português aparecerá a concluir a segunda parte, lá para os finais de Abril, com filmes com Lisboa em fundo: A Canção de Lisboa, O Pátio das Cantigas, Recordações da Casa Amarela.

Depois do último grande ciclo programado por João Bénard da Costa, Como o Cinema Era Belo (2006-7), o cinema vai regressar em grande ao grande auditório da Gulbenkian. P’ra rir. 

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