Enfermeiros reúnem-se para avaliar apelo da tutela para não fazerem greve

Sindicato dos Enfermeiros Portugueses considera pedido do Ministério da Saúde "surpreendente e uma tentativa de manipular". Mesmo assim vão avaliar a situação e dão uma resposta ao início da tarde.

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Nas contas dos sindicalistas, são precisos mais 25 mil enfermeiros no Serviço Nacional de Saúde Nuno Ferreira Santos

A direcção do Sindicato dos Enfermeiros Portugueses (SEP) vai reunir-se ainda durante a manhã desta quinta-feira para avaliar o pedido do Ministério da Saúde para reconsideraram a greve nacional de dois dias marcada para as próximas sextas-feiras, dia 14 e 21 de Novembro. O apelo do ministério de Paulo Macedo foi feito através de uma carta assinada pelo secretário de Estado da Saúde, Manuel Teixeira, que invocou o surto “extraordinário” de Legionella.

Guadalupe Simões, da direcção do SEP, confirmou ao PÚBLICO que receberam a carta de Manuel Teixeira, que invocava “necessidades em saúde indispensáveis e inadiáveis” e que defendia que a greve nacional dos enfermeiros pode “comprometer a prestação de cuidados de saúde” numa altura em que o surto de Legionella no concelho de Vila Franca de Xira já soma 302 infectados.

Há ainda 40 doentes em unidades de cuidados intensivos e cinco vítimas mortais confirmadas, bem como outras quatro em processo de investigação. O foco ainda não foi identificado, mas as investigações preliminares das autoridades de saúde apontam para as torres de arrefecimento do complexo de fábricas situadas na região, mais concretamente para a ADP Fertilizantes (Adubos de Portugal). De todas as formas, o Governo já garantiu que neste momento não há fontes de contágio activa, visto que as torres suspeitas foram fechadas e isoladas.

A decisão do SEP será comunicada ao início da tarde desta quinta-feira, explicou a sindicalista, que ainda assim considerou a carta da tutela “surpreendente e uma tentativa de manipular as pessoas”. Guadalupe Simões escusou-se a antecipar cenários, mas admitiu que em cima da mesa tanto pode estar a manutenção da greve, como a desconvocação em todo o território nacional ou apenas na região de Lisboa – por ser aqui que está localizado o surto e por serem os hospitais desta zona os que têm mais doentes internados.

Greve nacional não põe doentes em causa, diz sindicato
“É extraordinário que o mesmo Ministério da Saúde que não resolve os problemas dos enfermeiros, nomeadamente a carência de profissionais, o aumento dos contratos de trabalho para 40 horas, as subcontratações e as carreiras, venha agora pedir aos enfermeiros que desconvoquem a greve de dois dias porque precisa deles”, afirmou Guadalupe Simões.

A representante do SEP destacou que a greve é nacional e que o foco do surto de Legionella está em Lisboa, acusando a tutela de tentar impedir os enfermeiros de reivindicarem numa altura especialmente importante. “Está agora em discussão a proposta do Orçamento do Estado para o próximo ano e é a altura certa para tentarmos resolver os graves problemas que temos, como a falta de enfermeiros”, justificou, lembrando ainda que “mesmo num cenário de greve, os enfermeiros cumprem os serviços mínimos e os cuidados dos doentes não ficam em causa”.

A carta do Ministério da Saúde, citada pela Lusa, solicitava que “sem questionar o direito constitucional à greve”, os enfermeiros, “tendo em conta o interesse público e o cenário epidemiológico extraordinário actual, se dignem avaliar a oportunidade da paragem laboral já decretada, as consequências nos cuidados prestados às pessoas e a percepção social sobre a greve e os seus riscos”.

Manuel Teixeira considerava que o surto da doença do legionário “ainda não se encontra debelado, podendo ainda aumentar o número de doentes com necessidade de cuidados de saúde”. “Nesta situação de desafio excepcional torna-se ainda mais importante que todos os agentes do sector demonstrem o grau de profissionalismo e responsabilidade que tem sido a chave do sucesso na resposta aos desafios do momento”, referia a missiva.

O pré-aviso de greve tinha sido feito na segunda-feira, para os dias 14 e 21 de Novembro, justificando o SEP a paralisação com a necessidade de dignificar a profissão perante os cortes salariais nas horas extraordinárias, o congelamento da progressão na carreira, as subcontratações de enfermeiros a pouco mais de três euros à hora, a carência de profissionais e o aumento do horário de trabalho para as 40 horas semanais.

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