Se houver um sismo em Lisboa, o Mude "é um dos primeiros edifícios a cair"

O alerta do vereador Manuel Salgado foi mal recebido por Margarida Saavedra, que acusa o executivo camarário de não ter acautelado a situação quando comprou o edifício.

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O Mude abriu em 2009 e desde então teve mais de um milhão de visitantes João Cordeiro

O vereador da Reabilitação Urbana da Câmara de Lisboa afirma que se houver um sismo na cidade o edifício do Museu do Design e da Moda (Mude), na Rua Augusta, “é um dos primeiros a cair”. Por isso, sustenta Manuel Salgado, a requalificação do imóvel na Rua Augusta, que tem um custo estimado de cerca de nove milhões de euros, “é urgente”.

“Se temos o azar de ter um tremor de terra em Lisboa, aquele é um dos primeiros edifícios a cair”, alertou o autarca durante a última reunião da Assembleia Municipal de Lisboa, em resposta a perguntas do PCP sobre o museu. Nesse fórum, Manuel Salgado admitiu que esta pode vir a tornar-se “uma situação de risco”, caso o Mude, que tem “uma área enorme” de 12 mil m2, não seja alvo de obras “rapidamente”.

Entre os trabalhos a desenvolver, explicitou o autarca, encontram-se o “reforço estrutural” do edifício na Baixa Pombalina, a instalação de dois elevadores, intervenções nas casas de banho, no sistema de segurança e nos ares condicionados. Segundo informações divulgadas em Julho, mês em que a câmara aprovou o programa preliminar de requalificação do Mude, está em causa um investimento de perto de nove milhões de euros.

As declarações de Manuel Salgado não foram bem recebidas pela autarca social-democrata Margarida Saavedra. A actual 2.ª secretária da mesa da Assembleia Municipal de Lisboa admite “que a ameaça seja real”, mas afirma que se assim é isso devia ter sido “acautelado” quando o município decidiu comprar o edifício em causa para lá instalar o Mude.

“Como é que a câmara pôde fazer a aquisição do edifício sem averiguar a situação em que estava?”, pergunta Margarida Saavedra. Em declarações ao PÚBLICO a autarca, que era vereadora da oposição quando o negócio foi concretizado, sublinha que o vereador Manuel Salgado “é arquitecto, está habituado a obras, não é um amador”.

“Todos nós quando compramos uma casa acautelamos se não nos vai cair em cima”, diz Margarida Saavedra, que critica o vereador mas também o presidente António Costa, porque “não acautelaram a situação e compraram o edifício, descurando o estado em que estava”.

A autarca social-democrata lembra que em 2008 o PSD se opôs à compra do edifício na Rua Augusta, tendo considerado “caríssimo” o montante de 16,5 milhões de euros despendido para o efeito (21,7 milhões de euros subtraídos de um valor referente a um acerto de contas entre a câmara e o vendedor, a Caixa Geral de Depósitos). Quanto ao investimento agora previsto de nove milhões de euros, Margarida Saavedra diz que se trata de “uma obra megalómana”, difícil de compreender numa altura em que “há outras prioridades”, desde logo ao nível social.

A 2.ª secretária da mesa da assembleia municipal afirma ainda que a ideia, que “foi vendida” por anteriores executivos camarários socialistas, de que o Mude seria “auto-sustentável” está longe de ser uma realidade. “Diziam que as negociações para a instalação de uma loja do cidadão no rés-do-chão estavam em estado avançado. Hoje não está alugada coisíssima nenhuma”, frisa, lembrando que também ficou pelo caminho um “ninho de empresas” anunciado para o local.

O Orçamento da câmara para 2015 prevê, segundo anunciou António Costa na apresentação do documento, uma verba de 0,4 milhões de euros para a “requalificação do Mude”, valor que fica longe dos nove milhões de euros que se estima que vá custar a obra. Em declarações anteriores, o presidente do município adiantou que pretendia encontrar outras soluções de financiamento, nomeadamente através de fundos comunitários.   

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