Número de doentes com Legionella ultrapassa os 300

Número de vítimas mortais relacionadas com o surto no concelho de Vila Franca de Xira subiu para sete, segundo a Administração Regional de Saúde de Lisboa. Mas a Direcção-Geral da Saúde está a investigar mais casos e o número de mortes poderá chegar aos nove.

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As autoridades continuam a procurar o foco da doença nas fábricas da região Miguel Manso
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A Direcção-Geral da Saúde informou nesta quarta-feira que já foram contabilizados, até ao momento, um total de 302 casos de infecção por Legionella com ligação ao surto do concelho de Vila Franca de Xira.

De acordo com um comunicado assinado pelo director-geral da Saúde "foram reportados, desde ontem, 24 novos casos de infeção por Legionella" relacionados com o surto referido. Em relação à distribuição dos doentes, há "291 na Região de Lisboa e Vale do Tejo, 3 na Região Norte, 4 na Região Centro, 2 na Região do Algarve e 2 no estrangeiro". O último balanço do número total de doentes feito na terça-feira pela Direcção-Geral da Saúde (DGS) contabilizava 278 casos, depois dos 233 avançados na segunda-feira.

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Ao início da tarde a Administração Regional de Saúde (ARS) de Lisboa e Vale do Tejo, também através de um comunicado, tinha confirmado que morreram mais duas pessoas na sequência da infecção por esta bactéria, o que elevou o número de mortos para sete. Uma estava internana no Hospital de Santa Maria e outra no Hospital de Vila Franca de Xira. Porém, na nota de Francisco George, é explicado que só estão confirmados cinco óbitos por doença do legionário, "estando outros quatro óbitos em investigação". Segundo a assessora da ARS Ana Morais, esta diferença pode, contudo, ser explicada pelo facto de o critério de validação do óbito da ARS ser diferente do da DGS - é mais rápido no caso da ARS. Isto significará que dos quatro casos que ainda são mencionados como estando em investigação pela DGS, dois já foram confirmados pela ARS e dois continuarão em investigação.

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"A taxa de letalidade estimada é de 1,7%. Este valor poderá alterar-se caso se venham a confirmar mais óbitos", acrescenta a nota, que reforça que "os inquéritos epidemiológicos continuam a decorrer, mas toda a evidência sugere que o surto está circunscrito às freguesias de Póvoa de Santa Iria, Forte da Casa e Vialonga, em Vila Franca de Xira, zonas às quais se ligam todos os casos identificados. Não há indícios de extensão do risco de doença para lá da zona já delimitada". Para já, as investigações ao foco deste surto continuam a decorrer, apontando as conclusões preliminares para a presença de bactérias nas fábricas da região, mais concretamente na ADP Fertilizantes.

Apesar de a Direcção-Geral da Saúde referir 24 novos casos de terça-feira para quarta-feira, a Administração Regional de Saúde (ARS) de Lisboa e Vale do Tejo confirmava 27 e adiantava que nove pessoas tinham tido alta. De acordo com o comunicado desta ARS, dos 291 casos na zona de Lisboa ainda há 49 pessoas internadas nas unidades de cuidados intensivos, garantindo esta entidade que todos os hospitais da região continuam a “funcionar em estreita articulação mantendo a capacidade de resposta face à situação, quer em termos de internamento, quer em termos de disponibilidade de camas em cuidados intensivos”.

O director-geral da Saúde reforçou que “as investigações que procuram determinar a fonte de contaminação continuam a decorrer em estreita colaboração entre os Ministérios da Saúde e do Ambiente, Ordenamento do Território e Energia, com a participação de outras agências como o Instituto Português do Mar e da Atmosfera”.

Por seu lado, secretário de Estado da Saúde, Manuel Teixeira, pronunciou-se nesta quarta-feira sobre o surto, defendendo a necessidade de apurar as responsabilidades para que se possa aplicar “a punição respectiva”. “Se se vier a confirmar, como parece, que os focos da bactéria foram de facto as torres de refrigeração ligadas àquelas empresas (...) têm de ser apuradas as responsabilidades e quem for responsável tem de facto de receber a punição respectiva”, disse, citado pela Lusa à margem de uma inauguração no Hospital de São João, no Porto.

Também as estruturas representativas dos trabalhadores da empresa Adubos de Portugal, em Vila Franca de Xira, vão reunir-se nesta quarta-feira com a administração. Rogério Silva, da Federação dos Sindicatos da Indústria Química, disse à Lusa que o ambiente na empresa é de preocupação e exigem por isso garantias sobre a segurança do local que se pensa que pode ser o foco do surto de Legionella em Vila Franca de Xira.
 
Morte suspeita em Vialonga
Entretanto, um homem que morreu, em casa, na freguesia de Vialonga, na passada segunda-feira, poderá ser a oitava vítima do surto que atingiu a zona sul do concelho de Vila Franca de Xira. De acordo com José António Gomes, presidente da junta vialonguense, o homem, de “cinquenta e poucos anos”, apresentava sintomas em tudo idênticos aos dos restantes infectados pela bactéria da Legionella. Veio a falecer na casa em que habitava com a mãe, na zona da Terra das Figueiras, e o corpo seguiu para autópsia, que poderá confirmar, ou não, a relação do óbito com este surto da doença do legionário.


O autarca da CDU sabe que o homem passou pela Urgência do Hospital de Vila Franca de Xira no final da semana passada e que lhe foi prescrita medicação, mas desconhece se os exames feitos terão explorado, na altura, a hipótese de se tratar de uma infecção por Legionella. “Tudo aponta para que também seja essa situação, mas a autópsia é que vai esclarecer”, salienta, em declarações ao PÚBLICO.

Vialonga tem sido uma das três freguesias do concelho de Vila Franca de Xira mais afectadas por este surto. A primeira vítima mortal residia na freguesia (um bombeiro de 59 anos) e, segundo José António Gomes, a corporação local já transportou 23 pessoas ao Hospital de Vila Franca de Xira com sintomas semelhantes aos da Legionella. Destes casos, pelos menos 12 confirmaram-se, mas não é possível, nesta altura, contabilizar o número total de infectados na freguesia, porque muitas pessoas ter-se-ão dirigido às unidades hospitalares por meios próprios. Certo é que, pelo que sabe, José António Gomes julga que a esmagadora maioria dos afectados residia na parte Norte da vila, nos bairros do Cabo de Vialonga e do Gentil.  

Junta apoia famílias
O presidente da Junta de Vialonga anunciou, entretanto, que a autarquia estará disponível para dar apoio jurídico a famílias que, uma vez apuradas responsabilidades neste surto, queiram exigir compensações pelos prejuízos que sofreram, quer pelo dinheiro gasto em tratamentos ou em funerais, quer pela perda de algum familiar. “Ainda ninguém nos pediu formalmente esse apoio, mas passam pela junta muitos familiares de pessoas afectadas e o assunto tem sido abordado. O que nós temos dito é que temos um gabinete de apoio jurídico, que atende a população regularmente, e que poderá, também, dar apoio às famílias atingidas pelo surto de Legionella que tenham essa necessidade. O nosso gabinete dará todo o apoio. Atende, normalmente, toda a gente e, agora, temos esta situação mais específica e mais concreta em que também pode ajudar e aconselhar as pessoas”, sublinha, frisando que a preocupação das pessoas, nesta altura, é o tratamento adequado dos familiares, mas que nalgumas conversas já se fala do que pode acontecer a seguir.

Jorge Ribeiro, autarca do PS que preside à Junta da União de Freguesias da Póvoa de Santa Iria e Forte da Casa, disse, por seu turno, à agência Lusa, que não recebeu, ainda, nenhum contacto nesse sentido, mas que a autarquia estará também disponível para dar algum apoio jurídico às famílias, se for solicitado.

Dois casos registados nos hospitais do Algarve
Pelo menos duas pessoas estão infectadas com a bactéria da Legionella, nos hospitais do Algarve, disse nesta quarta-feira à Lusa fonte do Centro Hospitalar do Algarve (CHA).

De acordo com o CHA, há um caso identificado e relacionado com o surto de Vila Franca de Xira, de um doente que esteve na Unidade de Cuidados Intensivos, mas que "já se encontra no internamento em convalescença" no hospital de Faro. "Este doente está clinicamente estável", destacou.

O Centro Hospitalar do Algarve, que engloba os hospitais de Faro, Portimão e de Lagos, indicou que existe "um outro caso em investigação epidemiológica em Portimão, anterior ao surto" de Vila Franca de Xira.

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