Depois da festa inicial, chegou a apreensão com a sonda File

Afinal nem tudo está a correr bem com a missão.

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Fotografia do cometa tirada pela File, a três quilómetros de distância do solo, durante a descida ESA
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O cometa ESA

Assim que receberam os primeiros sinais da aterragem da sonda File num cometa, pelas 16h03 (hora de Lisboa), os responsáveis da Agência Espacial Europeia (ESA) explodiram em contentamento. Afinal, há dez anos, desde a partida da missão da Terra, que esperavam ansiosamente por este dia – em que um engenho humano pousaria num cometa. Pousou, é certo. Mas depois veio a apreensão e neste momento já se sabe que nem tudo correu bem: os arpões que deveriam prender a sonda ao chão do cometa não dispararam, o que pode comprometer alguns aspectos da missão.

“Inicialmente, houve uma indicação de que os arpões funcionaram. Neste momento [17h42 de Lisboa], as equipas já sabem que os arpões não foram disparados”, disse ao PÚBLICO o engenheiro aeroespacial Tiago Hormigo, da empresa portuguesa Spin.Works.

O que se passou exactamente é que a ESA ainda não sabe dizer. “Temos indicações de que os arpões podem não ter sido activados, o que quererá dizer que pousámos num material solto e que não estamos amarrados”, informou Stephan Ulamec, responsável pela File, citado pela agência AFP. “Temos de analisar a situação”, acrescentou este investigador, que está no Centro Europeu de Operações Espaciais da ESA, em Darmstadt, Alemanha. “Não sabemos exactamente onde e como aterrámos. Dentro de algumas horas, saberemos mais.”

Durante a manhã e a tarde desta quarta-feira, as coisas corriam bem à missão, tirando alguns percalços. Por exemplo, a própria File teve de ser ligada duas vezes, porque na primeira vez não funcionou, relata ainda Tiago Hormigo.

E agora a ESA confronta-se com a difícil decisão de disparar, ou não, os arpões destinados a prender a File (que pesa 100 quilos na Terra) ao cometa, cuja gravidade é muito fraca, uma vez que é um corpo muito pequeno. “Não se sabe se é uma boa solução disparar os arpões”, refere Tiago Hormigo. Isto porque a sonda pode ressaltar e fugir para o espaço durante essa operação.

Mas mesmo que a decisão venha a ser disparar os arpões e que a File até nem fuja, nada garante que os arpões funcionem e que a manobra resulte. “Os arpões precisam de espaço em relação ao chão para acelerarem. Se não tiverem essa distância, não aceleram o suficiente para penetrar no solo”, diz ainda Tiago Hormigo.

A questão dos arpões levanta ainda outro problema: se a File não estiver presa ao chão, as brocas em cada uma das três patas metálicas, que deveriam penetrar 25 centímetros no terreno para recolher amostras do cometa, não estarão em condições de funcionar. “As brocas precisam que algo agarre a sonda ao cometa para conseguirem penetrar na superfície.”

O que se sabe é que a File está quatro centímetros enterrada no cometa, diz ainda Tiago Hormigo. E, não tendo disparado os arpões, o que a manteve lá em baixo, no chão do cometa? Essa resposta ainda é uma especulação, refere o engenheiro aeroespacial português: “Provavelmente, o solo é bastante fofo e, quando a sonda pousou, o solo acabou por funcionar como um colchão.”

Notícia actualizada às 19h13

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