Goodluck Jonathan recandidata-se, sob a ameaça islamista

Incapacidade para controlar Boko Haram tem valido críticas internas e externas ao Presidente da Nigéria, que procura a reeleição em Fevereiro de 2015

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KOLAWOLE OSHIYEMI/AFP

Sem surpresa, o Presidente da Nigéria, Goodluck Jonathan, anunciou, esta terça-feira, a recandidatura, nas eleições de Fevereiro de 2015. Ainda que a sua reeleição pareça não estar em causa, tem contra si a incapacidade, até agora manifestada, de dominar a rebelião islamista do grupo Boko Haram, que controla mais de duas dezenas de localidades e mantém em sobressalto o nordeste do país.

Antes de confirmar a candidatura, num encontro com milhares de apoiantes, Jonathan, Presidente desde 2010, pediu um minuto de silêncio em memória de 48 estudantes liceais – número ainda provisório – mortos na segunda-feira, num atentado suicida atribuído pelas autoridades ao Boko Haram.

“Lançou uma nuvem escura sobre a nossa nação, mas vamos certamente ganhar a guerra contra o terror”, disse, citado pelas agências noticiosas, ao referir-se ao grupo islamista, cujo nome pode ser traduzido por algo como: a educação ocidental é um pecado. 

A incapacidade para controlar o Boko Haram, apesar da instauração da lei marcial em três estados, tem valido críticas internas e externas a Jonathan. A insurreição já fez mais de 10 mil mortos desde 2009. Os islamistas, que em Agosto proclamaram um califado, têm protagonizado nas últimas semanas ataques quase diários.

O caso mais mediático que o grupo desencadeou – não o mais sangrento – foi o rapto de 276 raparigas, numa escola de Chibok, no nordeste, em Abril desde ano. Mais de seis meses depois, 219 continuam sequestradas e o Boko Haram desmentiu um acordo para a libertação anunciado em meados de Outubro pelas autoridades. Também esse caso foi mencionado na cerimónia desta terça-feira. Jonathan prometeu que vai “libertar as irmãs” de Chibok.

O Presidente não conseguiu também mostrar resultados no combate à corrupção. Mas analistas ouvidos pela AFP consideram que tem fortes possibilidades de ser reeleito, beneficiando do facto de estar no poder e da prática do seu Partido Democrático Popular (PDP), de recorrer a meios públicos para apoiar a reeleição dos seus candidatos.

Nascido em Bayelsa, um estado da rica região petrolífera do Delta do Níger, no Sul, cristão, Jonathan, 56 anos, estudou zoologia, trabalhou como inspector de educação, professor e na protecção ambiental. Chegou à política em 1998 e à chefia do Estado em Maio de 2010, devido à morte de Umaru Yar’Adua, de que era vice desde 2007.

No ano seguinte foi confirmado no cargo, numa eleição seguida por violência nos bastiões do seu opositor, general Muhammadu Buhari. As eleições de 2011 mostraram um país dividido: Jonathan com bons resultados no sul predominantemente cristão, Buhari a vencer claramente em estados do Norte, maioritariamente islâmicos.

O confronto de há quatro anos pode repetir-se. Buhari, muçulmano, que liderou o regime militar, nos anos 1980, é um dos possíveis adversários de Jonathan na eleição de Fevereiro. Ele e o antigo vice-Presidente Attiku Abubakar anunciaram já a sua candidatura às primárias do APC (Congresso Progressista), principal força da oposição.

País mais populoso de África, com 170 milhões de habitantes repartidos sensivelmente em partes iguais entre cristãos e muçulmanos, a Nigéria é o principal produtor de petróleo do continente. Os benefícios dessa riqueza chegam a poucos, o que abriu campo a uma guerrilha que foi, durante anos, a principal preocupação das autoridades de Abuja.

O Movimento para a Emancipação do Delta do Níger (MEND), principal grupo rebelde da região, fez grande mossa na economia. A produção petrolífera caiu 28% entre 2006 e 2008, segundo a agência Bloomberg. O problema não desapareceu mas a violência decresceu depois de, em 2009, milhares de combatentes terem aceitado uma amnistia, e de o movimento quase ter sido eclipsado pelo Boko Haram.

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