A desunião palestiniana, dez anos depois da morte de Arafat

Em Ramallah realizaram-se cerimónias e discursos para homenagear o histórico líder palestiniano. Em Gaza não.

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Abbas acusa o Hamas de destruir a reconciliação entre palestinianos ABBAS MOMANI/AFP

Os palestinianos comemoraramn esta terça-feira o décimo aniversário da morte de Yasser Arafat, figura emblemático da luta pela independência, mergulhados num clima de divisões que impediu a realização de celebrações na Faixa de Gaza.

O contraste entre Gaza e Ramallah, a capital da Autoridade Palestiniana, não podia ser mais evidente. Na cidade da Cisjordânia ocupada, milhares de pessoas acenaram bandeiras amarelas da Fatah na Muqataa, onde Arafat está enterrado desde a sua morte num hospital de Paris no dia 11 de Novembro de 2004.

Em Gaza, não eram visíveis nem bandeiras nem um único retrato do falecido líder palestiniano e o palco que deveria ter acolhido uma cerimónia de comemoração foi destruído por uma explosão na passada sexta-feira.

Num dia que deveria ser de união dos palestinianos, foi o Presidente Mahmoud Abbas a lançar a primeira pedra, acusando os “dirigentes do Hamas” de serem responsáveis por uma série de ataques contra dirigentes da Fatah em Gaza e de “destruírem” a precária reconciliação assinada na Primavera entre os dois rivais.

O Hamas respondeu, qualificando as acusações de Abbas de “mentiras”, “Insultos” e “desinformação”, num momento em que o “o povo palestiniano precisa de um presidente corajoso”

Esperava-se que as celebrações do aniversário da morte de Arafat fossem aproveitadas para selar a reconciliação que produziu um governo de união entre Fatah e Hamas, mas aconteceu o contrário. Acabaram por ser o detonador de uma série de disputas fraticidas.

Após uma série de explosões que visaram carros e residências de responsáveis da Fatah em Gaza, as cerimónias de homenagem a Arafat acabaram por ser canceladas depois do Hamas anunciar que a sua polícia não poderia garantir a segurança do local. A realizarem-se, estas teriam sido as primeiras celebrações do aniversário da morte de Arafat em Gaza desde 2007, ano em que o o movimento islamista Hamas tomou o controlo de Faixa e expulsou do pequeno território os responsáveis da Fatah.

"Abu Ammar [nome de guerra de Arafat] encarnava a unidade nacional”, desabafou à AFP, Refaat Hajaj, um habitante de Gaza. “Privaram-nos deste aniversário, mas a história não vai perdoar aqueles que querem travar o plano de Abu Ammar para a libertação da Palestina”.

Em Ramallah, a multidão acomodou-se por detrás de uma barreira de responsáveis da Fatah e delegações de responsáveis palestinianos vindos de outras partes da Cisjordânia. A música e as bandeiras palestinianas completaram o quadro. “A hora da liberdade e da independência chegou”, lia-se num cartaz gigante colocado no palco onde Mahmoud Abbas discursou.

Será ainda durante este mês de Novembro que os palestinianos, que obtiveram em 2012 o estatuto de observador da ONU, vão submeter ao Conselho de Segurança um calendário para o fim da ocupação israelita. O texto conta à partida com um veto norte-americano, mas os palestinianos já têm outras iniciativas previstas: a adesão ao Tribunal Penal Internacional, que lhes permitirá apresentar acusações de “crimes de guerra” contra dirigentes israelitas, e a ruptura dos acordos de cooperação securitária com Israel.

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