BBVA Portugal despede 177 trabalhadores e encerra mais de 40 balcões

Depois do Barclays, também o BBVA desinveste na rede de retalho. Presença em Portugal fica reduzida a 38 agências.

Foto
O banco tinha até agora 750 funcionários em Portugal Filipe Arruda

Depois de três anos a apresentar prejuízos na sua unidade portuguesa, o BBVA decidiu reduzir mais de metade da sua rede de agências e avançar com um despedimento colectivo de 177 trabalhadores.

Através do gabinete de comunicação, o banco confirmou nesta terça-feira ao PÚBLICO a redução do número de agências. O BBVA, cujo desinvestimento no mercado português há muito se antecipava, garante que vai manter a actividade bancária em Portugal, mas admite ajustar o seu negócio.

Na banca comercial, foi anunciado aos trabalhadores a redução da rede agências dos actuais 81 balcões para 38. A “reestruturação” – que o BBVA Portugal justifica com a necessidade de garantir a “sustentabilidade da operação” do banco, cortando os seus custos na unidade portuguesa – vai levar a uma redução do número de funcionários para 573 (o banco conta actualmente com 750 trabalhadores).

O BBVA Portugal, que tem Alberto Charro como administrador delegado, acumulou nos últimos três anos um resultado negativo de 186 milhões de euros. Depois de um prejuízo de 16,8 milhões em 2011, seguiram-se 58 milhões negativos em 2012 e, no ano passado, perdas no valor de 111,3 milhões.

Com a reestruturação agora anunciada, o banco espera centrar o negócio nas empresas com uma facturação superior a cinco milhões de euros e, no lado dos particulares, no segmento premium. O BBVA Portugal assegura que as mudanças que decorrem do encerramento de balcões e do despedimento de 177 trabalhadores não vão pôr em causa as áreas de clientes globais, banca de investimento, tesouraria e mercados.

Quando a imprensa ventilou a hipótese de saída do BBVA do mercado português, referiu que a instituição teria contratado o banco de investimento Nomura para encontrar candidatos à compra do negócio português. O Crédito Agrícola chegou a confirmar o interesse na operação, que lhe permitiria ganhar dimensão e passar a contar com uma rede de balcões urbana, mas o negócio não se concretizou.

Em Espanha, o grupo sedeado em Bilbao é o segundo maior do sector financeiro privado, depois do Santander. No mercado português, onde está presente há 23 anos, a sua dimensão é pouco expressiva no total do grupo espanhol. O jornal El Confidencial referia em Março que a unidade portuguesa representava apenas 0,91% dos activos totais consolidados e 0,56% dos passivos relativos a Dezembro de 2013.

Ainda assim, a interligação com o mercado espanhol, onde o grupo tem a sua principal fatia de negócio, terá pesado na decisão de manter a actividade portuguesa. Isto numa altura em que o grupo tem desinvestido em áreas de negócio como o segmento de pensões em alguns países da América Latina. A actividade no Panamá foi vendida em 2013 ao grupo colombiano Aval por 645 milhões de dólares.

No mercado português, o BBVA está presente desde Junho de 1991, quando incorporou os activos e passivos do Bilbao Vizcaya – Sociedade de Investimentos e da sucursal portuguesa do britânico Lloyds. Mais tarde, viria a fundir a actividade com o Argentaria, o Credit Lyonnais, o Midas e a divisão de consumo do banco Efisa.

Em pouco mais de um mês, a reestruturação do BBVA representa o segundo grande desinvestimento que bancos estrangeiros fazem em Portugal. No final de Setembro, foi o britânico Barclays que anunciou o encerramento de 60 a 70 agências, com uma redução de 350 a 400 trabalhadores através de um programa de rescisões voluntárias, a aplicar até ao final de Março de 2015. Para o Barclays, a presença na banca de retalho portuguesa, onde conta actualmente com 147 agências, deixou de ser estratégica, o mesmo acontecendo com grandes mercados como Espanha, França e Itália.

Sugerir correcção
Ler 5 comentários