Neto de Picasso abre arquivo com centenas de imagens inéditas do avô
Muitas das fotografias podem ser vistas numa exposição recentemente inaugurada na Galeria Gagosian, em Nova Iorque
São “centenas e centenas” de fotografias que nunca tinham sido tornadas públicas: o neto de Pablo Picasso, Bernard Ruiz-Picasso, abriu para o historiador de arte britânico Sir John Richardson, o enorme arquivo fotográfico do avô, que, diz o Guardian, dá toda uma nova perspectiva sobre a vida e os amores do artista espanhol.
Para além das fotografias, o arquivo inclui também filmes com a família e amigos, numa quantidade de material que Richardson, de 90 anos e um dos maiores especialistas na obra de Picasso, descreve como “uma revelação”. E não poupa palavras para mostrar o seu entusiasmo: “São [imagens] de todos os períodos – fascinantes quando as comparamos com certos quadros ou acontecimentos da vida de Picasso. [O material] dá toda uma nova perspectiva à sua vida. Torna-a tridimensional. É absolutamente extraordinário.”
O Guardian reproduz quatro dessas fotografias. A primeira é de 1919 e mostra Picasso com a mulher Olga à saída de uma sala de espectáculos. Na segunda, já de 1932, o pintor aparece no jardim de uma casa segurando ao colo um enorme cão. Outra, datada de 1917, mostra novamente Olga, que foi a primeira mulher de Picasso, sentada no estúdio do artista, na mesma pose em que aparece num dos quadros que ele pintou dela. A quarta é ainda de Olga, desta vez em pose de dança (era bailarina dos Ballets Russes, de Sergei Diaghilev) e foi tirada no Verão de 1925 no pátio da Villa Belle Rose. A russa aparece também em filmes caseiros, num dos quais arranca pétalas a uma flor enquanto vai dizendo a lenga-lenga: “ele ama-me, ele não me ama, ele ama-me…”.
Há ainda fotos de outra das mulheres na vida de Picasso, Dora Maar. “Ele tirava-lhes constantemente retratos”, explica Richardson. “Por vezes há uma semelhança directa. Por vezes percebemos que ele está à procura da melhor forma de a pintar.” Para o historiador, o material fornece imensa informação. “Eu estava muito empenhado em consegui-lo”, diz, citado pelo Guardian. “Sentimos nas imagens sobretudo quando é que ele estava completamente apaixonado ou quando já estava desinteressado.” Mas as fotografias eram usadas por Picasso também para documentar a evolução de uma escultura ou para testar ideias num trabalho.
É, contudo, na figura de Olga, que foi mãe de um filho de Picasso, Paulo, e que se separou do pintor em 1935, que o texto do Guardian se centra mais. “Picasso apaixonou-se loucamente por ela quando ela era bailarina de Diaghilev. Mas ela tornou-se muito neurótica, e acabou mal. Não enlouqueceu, propriamente, mas tornou-se uma mulher ferida”, diz Richardson. O arquivo guarda imagens dos tempos felizes, em que Picasso e Olga passeavam por Espanha e Itália. “Ele tinha muito orgulho nela, ela era muito bonita.”
O historiador britânico, que foi amigo do artista nos anos 50 quando este vivia no Sul de França, escreveu já três volumes de uma biografia de Picasso, A Life of Picasso, e está neste momento a trabalhar no quarto. Além disso, é o curador da exposição Picasso & the Camera, que inaugurou no final de Outubro na Galeria Gagosian, em Nova Iorque, onde fica até 3 de Janeiro, e que mostra a relação, intensa, do artista espanhol com a fotografia.
A exposição inclui mais de 40 quadros, 50 desenhos, e 225 fotografias, muitas vindas do arquivo agora aberto graças à relação de amizade entre o historiador britânico e o neto de Picasso. Esta, explica o The New York Times, é já a quinta exposição sobre Picasso que Richardson organiza com a Gagosian, e as anteriores centraram-se sobretudo nas mulheres na vida do artista. Mas, disse o curador ao jornal nova-iorquino, “tinha esgotado as mulheres”. Por isso, no centro da nova exposição está a relação de Picasso com a máquina fotográfica – uma relação “muito mais complexa, fascinante e reveladora” do que o próprio Richardson tinha imaginado.