Obama duplica número de militares no Iraque mas garante que a estratégia se mantém

A natureza da missão contra os jihadistas é a mesma, sublinha a Casa Branca – trata-se de aconselhamento e treino, não combate.

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Combatentes curdos depois de retomarem várias aldeias aos jihadistas Rodi Said/Reuters

O Presidente norte-americano, Barack Obama, autorizou o envio de mais 1500 militares americanos para o Iraque, duplicando assim o seu contingente no país. No entanto, foi repetido e sublinhado que a natureza da missão não mudou: trata-se de treino e aconselhamento às forças iraquianas na luta contra o grupo jihadista que se auto-intitula Estado Islâmico.

A decisão, tomada quase três anos depois do fim da operação militar americana no Iraque que começara em 2003, mostra que os EUA vêem os jihadistas como uma ameaça grave, diz o Washington Post. Estes aproveitaram a guerra na Síria e o descontentamento e vazio de poder no Iraque para conquistar território e dominar cidades importantes. Os EUA continuam a levar a cabo bombardeamentos diários contra estes jihadistas tanto no Iraque como na Síria. 

Mesmo apesar de se irem estabelecer em locais para além dos dois centros onde se encontram agora os americanos – Bagdad e Erbil – os norte-americanos não irão acompanhar os militares iraquianos em missões no terreno. Os militares, que começam a chegar nas próximas semanas, “não se envolverão em combates”, sublinhou Josh Earnest, porta-voz da administração.

Segundo o Pentágono, vai agora começar o processo e selecção de vários locais para o treino de nove divisões do exército iraquiano e três brigadas peshmerga (combatentes curdos).

Tal como sublinharam várias vezes que a natureza da missão não é alterada, responsáveis políticos também quiseram afastar a ideia de que o anúncio só foi feito agora para evitar desestabilizar o debate antes das eleições intercalares, de que os democratas saíram derrotados, com os republicanos a conseguir maioria no Congresso (conquistaram o Senado e reforçaram a maioria que já tinham na Câmara de Representantes).

“Não houve qualquer ângulo político no timing” do anúncio, disse o porta-voz do Pentágono John Kirby.

Quando os últimos soldados americanos deixaram o Iraque, Obama congratulava-se por estes terem deixado um Iraque “soberano, estável, e auto sustentado”.

Não se verificou ser verdade. O descontentamento político dos sunitas, ameaçados pela hegemonia de um primeiro-ministro xiita que não os tinha em conta, levou a que muitos apoiassem extremistas do que viria a ser o EI. Perante o avanço dos jihadistas, brigadas de soldados iraquianos deixaram os seus postos, despiram os uniformes e fugiram, tal como boa parte da população.

“Quando saímos em 2013 deixámos uma força capaz”, garantiu Kirby, culpando o governo iraquiano por a ter deixado afundar-se. Os extremistas apoderaram-se então de valioso e moderno equipamento do exército iraquiano, o que lhes deu vantagem por exemplo nos combates com os peshmerga, os paramilitares curdos que são vistos como mais capazes do que o exército regular iraquiano, mas cujo equipamento e armas não tinha comparação com o novo material roubado pelos jihadistas.

“Agora a questão é completamente diferente”, disse Kirby. Aliás, um responsável da administração disse, sob anonimato, que os “iraquianos mostraram vontade de ir atrás do ISIL”, sigla do nome anterior do grupo. As forças iraquianas, indicou Kirby, “atingiram o ponto em que precisam de mais ajuda e orientação”.

Os EUA descrevem uma operação de fortalecimento lenta – ainda demorará vários meses e não se espera que as forças iraquianas consigam lançar uma operação para retomar, por exemplo, Mossul, a segunda maior cidade do país, dentro do próximo ano. Indicam ainda ter participação de vários outros países, mas para já apenas nomearam a Dinamarca.

A Administração vai ainda pedir ao Congresso mais fundos para as operações contra o EI, incluindo 1,6 mil milhões de dólares para material e treino para o exército iraquiano.

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