Visões Úteis estreia no Teatro Carlos Alberto peça que “ri de temas sérios”

Espectáculo quer criar uma ponte entre o público e a ciência, falando sobre temas como o cancro e o testamento vital. Está em cena até 16 de Novembro

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Susana Neves

A companhia Visões Úteis estreia quinta-feira, no Teatro Carlos Alberto (TeCA), no Porto, uma peça que pretende fazer o público "rir de temas sérios" como o cancro e o testamento vital. O espectáculo, que assenta numa co-produção entre a companhia de Ana Vitorino e Carlos Costa, os dois criadores deste trabalho, e o Teatro Nacional de São João (TNSJ), tem por base um trabalho desenvolvido em parceria com investigadores dos laboratórios Ipatimup — Instituto de Patologia e Imunologia Molecular da Universidade do Porto e 3B's, da Universidade do Minho.

"Somos já quase peritos em pegar em temas que as pessoas acham que são muito sérios, até pesados, e em partilhá-los com o público através de uma certa dose de humor. Primeiro porque somos muito dados ao humor, depois porque somos fascinados com os paradoxos das coisas", explica Ana Vitorino, que, tal como Carlos Costa, acumula a direcção e produção do texto da peça, com o desempenho em palco.

O humor, esse, resiste até a temas como a mastectomia total, como no caso em que "Catarina", uma jovem, é confrontada com o facto de ter "68%" de hipóteses de vir a desenvolver cancro da mama e a quem é de imediato oferecido um desconto de "80%", caso opte por retirar o peito, num momento de ironia que, desmistifica Carlos Costa, tem por alvo o "aumento das probabilidades de negócio associadas à medicina". "Se no paradigma anterior, os clientes são apenas os que estão doentes, agora passam a ser potencialmente quase todas as pessoas, devido à possibilidade de demonstrar estatisticamente a probabilidade de alguém vir a contrair a doença", justifica o produtor e actor.

Ainda assim, Ana Vitorino assegura que a essência desta peça não passa pela crítica deliberada. "É talvez o único espectáculo em que não temos um 'statement' colectivo, porque estamos a falar de temas muito grandes, muito complexos, muito subjetivos, como são a doença, a mortalidade. Como é que se pode criticar estes temas? Tentamos que o espectáculo ande à volta do nosso espanto e da incerteza", frisa.

Mas há outro objectivo subjacente ao espectáculo "Biodegradáveis": a tentativa de criar uma ponte entre o público a ciência. "Há muita gente que vem a pensar que é um espectáculo de ciência em que vamos ilustrar o trabalho de laboratório e o que os cientistas fazem e não é de forma alguma que fazemos. Pelo contrário, pegamos em situações que parecem reais e ficcionamos as maiores bizarrices a passar-se dentro de um laboratório, para esbater essa ideia do rigor e do cientista que está fechado dentro de um laboratório", esclarece Ana Vitorino.

O espectáculo "Biodegradáveis" estará em cena até 16 de Novembro, às 21h30 de quarta-feira a sábado e às 16h00 ao domingo, sendo que o bilhete para o espectáculo tem um custo de 15 euros.

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