Esposende quer avançar para mais demolições na costa

Concluídas as demolições de casas em São Bartolomeu do Mar, autarquia e Polis Litoral Norte preparam plano de maior fôlego para o sul do concelho.

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Nelson Garrido

A Sociedade Polis Litoral Norte aprovou esta semana a contratação de trabalhos de cadastro das habitações e barracos de apoio à pesca existentes nas praias de Pedrinhas e Cedobém, na zona sul do concelho de Esposende, para poder planear uma operação de demolição desses imóveis, muitos deles ilegais e colocados em risco pelo desaparecimento dos areais.

Esta quinta-feira, à margem do seminário Internacional sobre Gestão da Orla Costeira, que decorre em Ofir, o  presidente da Câmara de Esposende, Benjamim Pereira - que integra a administração desta sociedade Polis com os seus homólogos de Viana do Castelo e Caminha - admitiu avançar naquela zona do concelho com uma intervenção que passa pelo “recuo” da presença humana no local e pretende encontrar no próximo quadro de financiamento europeu, o Portugal 2020, as verbas necessárias.

A sociedade, participada também pelo Estado, estima que uma obra de requalificação daquelas praias possa custar 11,6 milhões de euros, quase quatro vezes mais do que a Polis está a gastar naquela que é considerada a “rainha” das dezenas de intervenções que está a levar a cabo nos três concelhos: a requalificação da frente marítima de São Bartolomeu do Mar.

Neste ponto a norte de Esposende, conhecido pela romaria anual que, a 24 de Agosto, leva milhares de pessoas ao “banho santo”, o areal desapareceu por completo, dando lugar a uma praia de seixos com uma cota bastante inferior à anterior, e muitas casas foram colocadas em risco. Desde o início do ano, foram já demolidas 27 casas e está a proceder-se ao enchimento artificial da praia com geo-cilindros de areia. O espaço, que vai ainda ser alvo de uma requalificação urbana que criará uma praça onde estavam as moradias, vai ser esta sexta-feira visitado pelo ministro do Ambiente e pelos participantes no congresso que decorre num concelho onde são vários, distintos, e exemplares, os proplemas de erosão na costa.

O congresso decorre no Hotel Axis Ofir, cujo restaurante não está, agora, a mais de 50 metros da linha da costa, tal como as famosas torres de Ofir, ali em frente. Na praia, ainda são bem visíveis as consequências do último Inverno, que fizeram ruir o muro de suporte do passeio entre as torres e o hotel e a praia. A Polis fez uma intervenção mínima antes do Verão, para não afectar a época balnear, e está à espera do visto do Tribunal de Contas para avançar com as fases dois e três, que implicam a reconstrução do muro e o reforço do esporão fronteiro ao hotel, a sul das torres, e do cordão dunar envolvente, obras orçadas em 1,3 milhões de euros.

Esposende é o concelho com mais problemas, e também com mais projectos do Polis Litoral Norte, sociedade que, apesar de ter sido constituída dois anos depois da abertura do QREN, e de ter tido um travão nos primeiros meses do actual Governo, conseguiu captar fundos do Programa Operacional de Valorização do Território (20,8 milhões de euros) e do programa regional, o ON.2 (11,7 milhões) para investir para já, entre obras feitas, em curso e contratadas, um total de 32,5 milhões de euros. Juntando a isto os capitais próprios, no total esta sociedade espera ainda chegar aos 45 milhões de euros de investimento,  sem contar com o projecto de Pedrinhas e Cedobém, para o qual ainda vai procurar uma linha de apoio.

O presidente do Polis Litoral Norte, Pimenta Machado - que preside também à Administração da Região Hidrográfica do Norte - respondeu a uma questão do vice-presidente da Câmara de Espinho, Vicente Pinto, e considerou que, “retirando-lhe a marca Polis, que às vezes é um problema, o modelo de intervenção que está a ser seguido nesta sociedade poderia ser alargado a outros pontos da costa portuguesa onde estão identificadas várias áreas problemáticas". Esta sexta-feira, uma das intervenções mais esperadas é a do investigador Filipe Duarte Santos, que lidera o Grupo de Trabalho do Litoral formado este ano por iniciativa do Governo. 

Investigador defende engenharia “pesada” contra perda de território
O país tem vários tipos de problemas a resolver, e um deles passa, desde logo, por voltar a assumir uma monitorização sistemática da evolução da orla costeira em toda a sua extensão, que deixou de ser feita há anos, avisou, num dos painéis desta quinta-feira à tarde, a consultora em “desenvolvimemnto sustentável” Teresa Gamito.

Antes dela, Já o investigador José da Silva Pinho, da Universidade do Minho, tinha alertado para a ausência de dados fiáveis sobre vários factores que contribuem para a falta de areias nas praias e o seu movimento na costa, como as quantidades de sedimentos que os rios deixaram de levar para o mar, com a construção de barragens. Já António Sanches do Valle, da WW Consultores de Hidráulica e Obras Marítimas, insurgiu-se contra uma certa inacção do país que vai andando de obra de emergência em obra de emergência sem cuidar de definir, como fez a Holanda em 1990, uma fronteira com o mar, uma linha de costa, da qual não recua, e sem realizar as obras, “pesadas”, que, defende, são necessárias para proteger as pessoas e bens e o território, insistiu.

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