BCE já iniciou a preparação técnica para comprar dívida pública

Técnicos do banco central foram mandatados para definir a forma mais eficaz de o BCE aplicar novas medidas de estímulo, para o caso das actuais se revelarem insuficientes.

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Só há uma moeda única “se houver um sistema bancário único”, diz Draghi Ralph Orlowski/Reuters

O Banco Central Europeu deu esta quinta-feira mais um passo na direcção de uma política de compra de títulos de dívida pública ao anunciar que os seus técnicos já estão a desenvolver trabalhos preparativos para que, caso se revele necessário, esteja pronto a pôr em prática medidas diferentes das aplicadas actualmente.

A declaração foi feita por Mario Draghi na conferência de imprensa que se segue à reunião mensal do conselho de governadores e surge depois de vários indicadores económicos divulgados nas últimas semanas reforçarem a expectativa de um abrandamento económico na zona euro e de uma manutenção da taxa de inflação a níveis muito baixos.

“O Conselho de Governadores pediu ao pessoal do BCE e aos comités do Eurosistema relevantes para garantirem a preparação atempada de mais medidas que possam ser implementadas, caso seja necessário”, afirmou o presidente do BCE.

Foi a primeira vez que Draghi fez este tipo de declaração desde que anunciou em Junho que o BCE iria retomar os empréstimos de longo prazo aos bancos e comprar obrigações hipotecárias e créditos bancários titularizados. Nos mercados existem muitas dúvidas que estas três medidas que o BCE já está a aplicar consigam produzir os resultados esperados e a resposta agora dada por Mario Draghi demonstra que o banco central – apesar de o seu presidente ter dito que continua confiante de que serão bem sucedidas a fazer subir as expectativas de inflação - também está a colocar seriamente essa possibilidade, preparando-se já para alternativas.

A alternativa principal a ser preparada é a compra de títulos de dívida pública emitidos pelos Estados da zona euro. Foi assim que a Reserva Federal norte-americana, o Banco de Inglaterra e o Banco do Japão implementaram nos últimos anos as suas políticas de expansão quantitativa (quantitative easing). O BCE poderá ter de imitá-los principalmente porque o mercado de dívida pública é, de longe, o que maior dimensão tem, oferecendo ao banco central um poder de fogo contra a deflação muito mais significativo.

As medidas até agora adoptadas (para além da colocação das taxas de juro praticamente a zero) consistem em aumentar a liquidez disponível aos bancos, na esperança que estes emprestem mais às empresas e às famílias. Comprando directamente dívida aos Estados, o BCE entra noutro tipo de estímulo, mais directo, à economia.

A entidade liderada por Mario Draghi tem sido mais cautelosa do que os outros bancos centrais nesta matéria devido à relutância de vários bancos centrais nacionais, principalmente o alemão, em ver o BCE a financiar os Estados. Mario Draghi salientou esta quinta-feira que a abertura a que novas medidas sejam tomadas, caso seja necessário, é unânime dentro do Conselho de Governadores e garantiu que a compra de obrigações de tesouro por parte do banco cumpre aquilo que são as suas regras, que impedem o financiamento monetário. 

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