Vinte pessoas desistiram da viagem espacial da Virgin Galactic

Cerca de 3% das 700 pessoas que pagaram a viagem de turismo espacial pediram dinheiro de volta após o acidente de sexta-feira. Cinco portugueses com bilhete não desistiram do voo.

Destroços da nave
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Destroços da nave SpaceShipTwo no deserto do Mojave Lucy Nicholson /Reuters
A explosão da <i>SpaceShipTwo</i> no ar
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A explosão da SpaceShipTwo no ar Kenneth Brown/Reuters
<i>SpaceShipTwo</i> a aterrar no final de um teste em 2013
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A nave SpaceShipTwo a aterrar no final de um teste em 2013 Gene Blevins/Reuters
A <i>SpaceShipTwo</i> ligada ao avião <i>WhiteKnightTwo</i>
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A SpaceShipTwo ligada ao avião WhiteKnightTwo Mark Ralston/AFP
O <i>WhiteKnightTwo</i>
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O WhiteKnightTwo em terra Virgin Galactic/AFP
O português Mário Ferreira entrou nesta aventura em 2004
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O português Mário Ferreira entrou nesta aventura em 2004 Renato Cruz Santos
O multimilionário britânico Richard Branson com um modelo da nave
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O multimilionário britânico Richard Branson com um modelo da nave Stan Honda/AFP

Há 20 pessoas que desistiram das viagens de turismo espacial da Virgin Galactic depois do acidente de sexta-feira da nave SpaceShipTwo, que resultou na morte do co-piloto e deixou ferido o piloto. Segundo o jornal The Guardian, a empresa do magnata britânico Richard Branson confirmou que teve perto de 3% de desistências entre as 700 pessoas que já tinham adiantado o valor do bilhete.

Os desistentes pediram para ser reembolsados do dinheiro que pagaram pelos bilhetes, cada um no valor de 200.000 euros. “A empresa já tinha recolhido cerca de 64 milhões de euros em depósitos”, adianta o jornal britânico The Guardian.

O empresário português Mário Ferreira não é um dos desistentes. “Estou neste projecto desde 2004, estive há três semanas com o Richard Branson no deserto do Mojave a visitar a nave. Não tenho nenhuma vontade de desistir e continuarei a apoiar o projecto”, disse ao PÚBLICO. “Represento em Portugal a Virgin, com a minha empresa Caminho das Estrelas e já vendemos quatro bilhetes. Não tivemos nenhuma desistência por causa do acidente”, acrescentou.

Apesar disso, este acidente veio atrasar o desenvolvimento das viagens turísticas. “É verdade que o projecto está um pouco mais longe, mas também é verdade que acidentes ocorrem na fase de testes e certificação”, acrescentou Mário Ferreira, que lamenta “a perda da vida humana”.

Em 2004, quando Richard Branson anunciou o seu projecto de turismo espacial de voos suborbitais (a nave sobe até aos 100 quilómetros de altitude, fica lá em cima durante alguns minutos e depois volta a descer), o multimilionário britânico prometia as primeiras viagens para daí um ano e meio.

Na última sexta-feira, o primeiro teste de voo com o novo motor de fusão da SpaceShipTwo correu bem durante a primeira fase. Para a SpaceShipTwo viajar até aos 100 quilómetros de altitude tem, primeiro, de ser levada até aos 13,7 quilómetros por um avião especial chamado WhiteKnightTwo – os dois aparelhos foram desenvolvidos pela empresa Scaled Composites.

O voo começou a correr mal após a separação dos dois veículos. O teste não tinha como objectivo subir até aos 100 quilómetros, mas apenas testar o novo motor durante 20 segundos. Mas para a SpaceShipTwo descer de forma controlada, tem de mudar a configuração das asas, aumentando a sua área e desacelerando, assim, a nave. A configuração é inspirada no objecto arremessado no badminton, o volante, que tem 16 penas de ganso ou pato e cuja estrutura é muito estável quando cai.

Segundo a peritagem, a configuração das asas da SpaceShipTwo mudou apenas nove segundos depois do início do teste. Essa mudança aconteceu demasiado cedo, quando o aparelho viajava apenas à velocidade de Mach 1 (velocidade do som que equivale a 1235 quilómetros por hora), e não a Mach 1,4, quando de facto a configuração das asas deveria ter sido alterada. Passados quatro segundos da mudança da configuração, o aparelho começou a girar de forma descontrolada, partiu-se e despenhou-se no deserto do Mojave, na Califórnia, Estados Unidos.

Não se sabe a razão para o piloto ter alterado a configuração das asas. Segundo o Comité Nacional para a Segurança dos Transportes dos Estados Unidos, que está a fazer a investigação, só daqui a um ano é que os resultados finais da investigação serão conhecidos.

Entretanto, a Virgin Galactic foi acusada de ser uma empresa insegura e de o seu novo motor ser perigoso. A empresa já negou estas acusações. “Na Virgin Galactic, a segurança é o princípio pelo qual nos regemos, é a estrela Polar para todas as nossas decisões do programa”, segundo um comunicado publicado nesta terça-feira.

De qualquer forma, o acidente já teve consequências nos futuros turistas. “Quero desistir. Inscrevi-me há sete anos quando tinha 63 anos de idade, ainda sou um piloto privado activo e de boa saúde, mas sabe-se lá quanto tempo é que vai demorar [até se iniciarem as viagens]”, desabafou Peter Ulrich von May, um gestor de fundos que vive na Suíça e quer ser reembolsado pelo dinheiro gasto no bilhete. “Já informei a Virgin Galactic do meu desejo, mas ainda não obtive resposta”, disse ao jornal britânico The Independent.

A Virgin Galactic não se dá por vencida: “Apesar de este ter sido um contratempo trágico, vamos andar para a frente conscientemente e com determinação. Continuamos a construir a segunda SpaceShipTwo, que está neste momento completa em 65%, e vamos continuar a avançar com a nossa missão ao longo das próximas semanas e meses.” 

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