PT ou não PT?

Também gostava mais que a PT fosse de capital português, para ser gerida e criar valor por pessoas que gerem e criam valor.

O meu Amigo (e não é do facebook) Nicolau Santos, director adjunto do Expresso, sempre foi um defensor da manutenção em Portugal dos centros de decisão empresarial. Essa defesa foi mais veemente quando as empresas eram de relevo, o que faz sentido.

Sábado escreveu uma peça sobre a situação da PT e hoje, segunda-feira, no Fórum TSF defendeu a sua posição mas, sendo coerente com o que sempre defendeu, parte de dois pré-juízos errados. A PT já não tem o centro de decisão em Portugal. Zeinal Bava e Granadeiro, precedidos por Miguel Horta e Costa venderam a PT. O primeiro abriu as portas à Unitel cuja participação a PT vai perder, recebendo o que a Unitel quiser pagar. Os segundos, para além de não saberem de nada, mesmo de nada, do que se passava na empresa no caso já descoberto dos 900 milhões, para além de já terem em curso um plano de dispensas de milhares de trabalhadores, venderam o controlo da empresa aos brasileiros com a justificação de um mercado mirífico de 100 milhões de clientes e da criação de uma empresa lusófona. O outro erro de Nicolau Santos prende-se com a persistência na afirmação de que a Altice não tem experiência em telecomunicações. Pois, digo eu, é o mesmo que dizer que Nicolau Santos não tem experiência em jornalismo.

Para ser breve, a Altice é uma empresa multinacional que, há mais de 20 anos, opera nos sectores das telecomunicações e cabo, presente em três regiões do globo (nove países), sendo a maior empresa de Israel, a segunda maior de França e oferecendo serviços de internet de banda larga, televisão de alta definição e telefones fixos em todas elas e telecomunicações móveis em alguns países.

A PT enquanto empresa valia um catorze avos da gigante telefónica espanhola. A gestão de Granadeiro e Zeinal colocou-a a valer um setenta avos da empresa de nuestros hermanos. A PT actual é uma empresa sob controlo de capitais brasileiros. E se a PT é brasileira porque não há-de ser europeia? Ou só a PT brasileira é que pode fechar algumas “PTs” e colocar em outsourcing a PT inovação despedindo e destruindo valor?

Também gostava mais que a PT fosse de capital português. Não para suportar grupos falidos, não para ser cash cow de ninguém, não para ter prémios de melhor gestor da Europa, não para assegurar injecções de publicidade em meios, mas para ser gerida e criar valor por pessoas que gerem e criam valor como na Vodafone (António Coimbra), na Peugeot Citroën (Carlos Tavares), no Barclays (Maria Ramos), no Lloyds (António Horta Osório), entre tantos outros. Estes, sim, mantêm os centros de decisão em mãos portuguesas.

Mas já que o capital não tem fronteiras, já que a PT já não é nossa, já que, como diz o próprio Expresso, é no Brasil que se escreve a história da PT (para diminuir a dívida da Oi), então, apenas quero exigir que se invista a longo prazo, se assegure que a inovação não se acaba e, já agora, que a PT não fique nas mãos de fundos que querem é engordar o porco para o vender por alturas de qualquer Natal. A gestão, essa sim, deve ser assegurada por equipas nacionais de qualidade.

Presidente e Managing Partner da CV&A ACV presta serviços de assessoria à Altice, um dos candidatos à aquisição da PT

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