O Parque Nacional da Peneda-Gerês tem um “novo” e excelente atractivo

Melgaço juntou-se aos vizinhos galegos para criar a primeira reserva fluvial da Europa nos Rios Trancoso e Laboreiro

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Adriano Miranda

Já se sabia que o Parque Nacional da Peneda-Gerês (PNPG) tem um certo carisma, que lhe advém de um magnetismo que nos atrai para as suas paisagens de montanha. Mas Carisma é também o acrónimo, em castelhano, para Qualidade Ambiental das Reservas Naturais Fluviais Internacionais do Meio Aquático, o projecto galaico-português que transformou os rios Trancoso e o Laboreiro na primeira reserva fluvial europeia.

O Trancoso e o Laboreiro são dois rios pequenos, de montanha: o primeiro está no Parque do Xurés e é um afluente do Rio Minho, de 13,6 quilómetros de extensão; o segundo está no PNPG, tem 8,4 quilómetros e é um afluente do Lima, ao qual se junta na Albufeira do Lindoso. Para além de servirem, em grande parte dos seus troços, como (antiga e porosa) fronteira entre Portugal e Espanha, mantêm muita da biodiversidade que outros cursos de água, em zonas mais povoadas, já perderam. O que explica a vontade transnacional de investir cerca de dois milhões de euros, grande parte dos quais de fundos comunitários, em acções que valorizassem ainda mais essa qualidade ambiental e permitissem uma maior fruição deste património natural.

Em termos práticos, o projecto terminou em Setembro, mas não se ouviram “foguetes”, apenas uma pequena notícia da Lusa em Portugal e uma longa e entusiástica explicação na página do Ministério do Ambiente Espanhol, sobre o resultado de um trabalho de dois anos, levado a cabo pela Confederação Hidrográfica Minho-Sil, da Galiza, que convidou a antiga Administração regional Hidrográfica do Norte (ARH), e os municípios de Entrimo, Padrenda e Melgaço para este projecto no qual o município português investiu 250 mil euros. Dinheiro que acrescenta outra fonte de interesse a esta zona mais setentrional do PNPG.

O parque já está classificado como Reserva da Biosfera da Unesco. Abriga espécies de fauna e de flora que o resto do país viu desaparecer e o Laboreiro, que atravessa a conhecida vila de Castro Laboreiro e as suas brandas, as antigas aldeias de verão dos pastores, está integrado no território desta que é a única área protegida de carácter nacional.  E esta localização ajuda a perceber, segundo o chefe de divisão de Obras e Serviços Urbanos de Melgaço, Humberto Gonçalves, as reticiências da gestão do PNPG a algumas componentes do projecto, como a abertura de caminhos de acesso ao rio, que acabaram por não se concretizar.

O Plano de Ordenamento do PNPG impede a abertura de novos caminhos, permitindo apenas a limpeza e requalificação de trilhos existentes, e desde que estes não ponham em causa valores naturais protegidos. Ou seja, se a componente de intervenção na qualidade da água, pela eliminação de alguns pequenos focos de poluição, foi atingida, a componente ligada à fruição destes espaços só parcialmente foi concretizada. Teve de ser abandonada a intenção de criar acessibilidades a alguns pontos mais belos do Laboreiro, explicou o responsável pelo projecto na Câmara de Melgaço. Ainda assim, foi possível construir alguns acessos, noutros pontos, tal como aconteceu no Trancoso.

Apesar destes percalços, o projecto foi já considerado um sucesso. Em Setembro, numa sessão de apresentação das conclusões do mesmo, na Galiza, o presidente da Confederação Hidrográfica do Minho-Sil, Francisco Marín, destacou que, através do Carisma, “pela primeira vez na Europa administrações de diferentes países puseram-se de acordo para proteger e valorizar rios partilhados”. E, acrescentou, esta iniciativa promove o desenvolvimento deste território periférico e das suas populações, outrora unidas pelas cumplicidades do contrabando.

Melgaço pretende agora dar continuidade a este projecto, promovendo-o, quer do ponto de vista ambiental, quer em termos turísticos. O concelho é uma das entradas para o Parque Nacional da Peneda-Gerês – através da porta de Lamas de Mouro – e compensa a distância a que está do resto do país com uma diversidade de paisagens, quase todas elas em Rede Natura 2000. Seja no vale do Minho, com as margens pontuadas pelos vinhedos de alvarinho, quer na montanha, entre as casas graníticas de Castro Laboreiro ou da Branda da Aveleira, cujas casas de pastores estão a ser adaptadas ao turismo em espaço rural, está bem presente o papel do homem na definição deste território. Uma presença que, ainda assim, conseguiu não estragar dois pequenos rios internacionais.
 

   


 

   





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