Centro de Congressos do Algarve, à beira da falência, serve de porto de abrigo às gaivotas

O Centro de Congressos do Algarve, em Lagoa, insuflado pelo sonho dos autarcas e pelo impulso do Allgarve, corre risco de fechar portas. Em Portimão, a uma distância de dez minutos, um outro Centro de Congressos, o “Portimão Arade”, representa um encargo para a câmara de 1,5 milhões por ano.

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Luís da Cruz

O Centro de Congresso do Algarve (CCA), na iminência do colapso financeiro, regista um passivo próximo dos dez milhões de euros. A Região de Turismo do Algarve, que preside ao conselho de administração da empresa gestora do empreendimento, apresentou um plano de reabilitação financeira propondo o pagamento faseado da divida ao longo de 20 anos, com perdão dos juros. O principal credor é o BES que tem a receber mais de sete milhões de euros.

Nos dois espelhos de água que circundam o CCA - empreendimento criado a partir de uma antiga fábrica de conservas - são visíveis os sinais de abandono. O som das gaivotas, em bando, preenche o vazio que se sente neste espaço de cultura e lazer, sem utilização. O evento mais próximo que está previsto é uma festa de Reveillon, animada por Djs. Do quadro do pessoal, resta apenas um funcionário, a trabalhar no escritório. As portas estão fechadas e na vitrina ficou exposta a capa de um velho livro de reclamações.

O Centro de Congressos do Algarve ou Pavilhão do Arade, em Lagoa, bem como o ”Portimão Arena” - separados por uma distância de cinco a dez minutos de carro - são dois equipamentos que concorrem no mesmo espaço de negócios, na área dos espectáculos e reuniões. Ambos estão em situação periclitante, geridos por empresas falidas, nascidas no “glamour” do programa Allgarve, que morreu ao fim de cinco anos depois de terem sido investidos mais de 20 milhões de euros em eventos. A câmara de Portimão aprovou recentemente a extinção da Portimão Urbis, a empresa que gere o Parque de Feiras e Exposições onde se insere o Pavilhão Arena. Só com esta infra-estrutura, construída através de uma parceira público-privada, o município tem um encargo financeiro de 1,5 milhões de euros por ano, correspondendo aos 17 milhões que foram gastos com a empreitada.

O presidente da Região de Turismo do Algarve, Desidério Silva, confrontado pelo PÚBLICO, com a situação do Pavilhão Arade, desabafa: “Tem sido uma dor de cabeça gerir o espaço, porque se alterou a situação económico-financeira”. Porém, manifesta optimismo quanto ao futuro, esperando compreensão por parte dos credores.” Apresentámos um plano estratégico propondo soluções, tendo em conta a crise financeira e as sucessivas limitações impostas às autarquias accionistas”, justificou. A contratação de um comercial com a função de promover o espaço no mercado nacional e internacional foi uma das sugestões apresentadas no projecto de reabilitação financeira e comercial, onde é pedido, também, um período de carência de dois anos, na amortização da divida.

O Centro de Congressos do Algarve, da autoria do arquitecto Miguel Arruda, foi concebido para vir a ser uma mola impulsionadora da economia da região atraindo o segmento do turismo de negócios, mas acabou por ser abafado pela concorrência. Quando a RTA abriu concurso público internacional para a exploração do espaço, quem venceu foi a empresa municipal Portimão Urbis, que já na altura geria o Pavilhão Arena, situado na outra margem do rio. Não houve condições para cumprir com o prometido pagamento de uma renda anual de 300 mil euros e a RTA colocou a empresa em tribunal porque o contrato não foi cumprido, e nem sequer foi pago o fornecimento de água e electricidade.

Do passado recente, ficou a imagem de “modernidade” que a câmara de Portimão lançou com a promoção de eventos ligando à cultura e lazer. É nesse contexto que surge com o então ministro da Economia, Manuel Pinho, e o Allgarve. Os poderes regionais aplaudiram enquanto houve dinheiro, depois caiu o pano, acabou a festa, instalou-se a desilusão. Na zona do barlavento não é apenas o CCA, em Lagoa, e o Arena, em Portimão, que estão com futuro incerto. Um pouco mais para o interior, em Silves, a “Fábrica do Inglês”, lançada pela empresa de distribuição alimentar Alicoop/Alisuper, encerrou e nem se salvou o internacionalmente premiado Museu da Cortiça. Ainda no concelho de Portimão, o Autódromo Internacional do Algarve, gerido pela Parkalgar, foi submetido a um plano de recuperação da empresa.

Acabou a Portimão Urbis
O plano de negócios proposto pela RTA para o CCA (accionista maioritário, com 23,48 por cento do capital da sociedade), prevê um resultado negativo da exploração de 48 mil euros para este ano. Porém, a partir de 2015 estima-se que a receita venha sempre a subir, atingindo em 2023 um resultado de exploração positivo de 720 mil euros. O problema principal, em termos de equilíbrio financeiro da empresa, diz Desidério Silva, “prende-se com as dívidas relacionadas com a construção do edifício, que ficaram por pagar”. A câmara de Portimão - terceiro maior accionista, com 12,32% da Sociedade Pavilhão do Arade, S.A - não acompanhou, no passado, o aumento de capital, e no curto prazo não vai ter condições para o fazer. “Não podemos, por imposição legal”, justifica a presidente do município, Isilda Gomes, PS, acrescentando que o “Pavilhão Arena vai bem, em termos de ocupação”. Já no que diz respeito à gestão, adiantou que foi extinta a empresa que geria o espaço de Feiras e Exposições, onde se integra o Pavilhão do Arade, porque apresentou resultados negativos durante três anos consecutivos. O assunto está agendado para ser discutido e aprovado na próxima assembleia municipal

Mais uma marina
A construção de uma nova marina, anunciada para “breve”, na zona do Ferragudo, vem acompanhada de um projecto imobiliário/turístico - uma unidade hoteleira, de cinco estrelas, 133 suites, mais 130 apartamentos, 29 moradias e uma zona comercial. A área de construção atinge os 35 mil metros quadrados. A marina, com capacidade para 319 barcos, ocupa uma extensão de água com cerca de 50 mil metros quadrados. O projecto é visto como uma mais valia para o CCA , pois a RTA chegou a equacionar a hipótese de vender o Centro de Congressos, desde que conseguisse aprovar a construção de um hotel nas imediações. Na zona de influência do Centro de Congressos, a oferta hoteleira já atinge as 60 mil camas.

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