É provavelmente o filme mais famoso nunca lançado, uma obra épica de um dos maiores nomes do cinema. The Other Side of the Wind, um dos muitos filmes incompletos de Orson Welles e o último em que terá trabalhado, entre 1970 e 1976, poderá finalmente chegar aos cinemas a tempo do centenário do realizador, celebrado em Maio do próximo ano.

É uma luta que dura há já 40 anos e que poderá estar perto do fim, segundo o New York Times. Já foi notícia outras vezes em que se acreditou que o filme chegaria às salas, como é desejo de tantos realizadores e amantes do cinema, mas tal nunca aconteceu, em grande parte por questões legais que envolvem os direitos da obra.

Por nunca se ter conseguido chegar a um acordo e por estes direitos serem partilhados por diferentes pessoas, entre as quais estão Beatrice Welles, filha do realizador, e Oja Kodar, companheira de Welles e co-argumentista do filme, os materiais filmados têm estado armazenados. Primeiro em Paris, com a produtora parisiense Les Films de l'Astrophore, de Mehdi Boushehri, cunhado do xá do Irão Mohammad Reza Pahlavi, — e que na altura financiou o projecto, a par do realizador, e é por isso também detentora dos direitos —, e depois na Califórnia. Agora, este material estará com Oja Kodar, que vive na Croácia.

Esta situação estará, no entanto, prestes a mudar, depois da Royal Road Entertainment, uma produtora de Los Angeles, ter anunciado nesta terça-feira que chegou a acordo com as partes envolvidas para a compra dos direitos da obra.

Segundo o New York Times, os produtores querem que The Other Side of the Wind, filmado entre 1970 e 1976 nos Estados Unidos, em França e em Espanha, se estreie nas salas de cinema a 6 de Maio de 2015, data em que Orson Welles completaria 100 anos. O objectivo é ainda começar a promover a sua distribuição no American Film Market, que acontece já no próximo mês em Santa Mónica, no estado da Califórnia.

The Other Side of the Wind, com um elenco que incluía John Huston, Peter Bogdanovich, Dennis Hopper, Claude Chabrol e Mercedes McCambridge, acompanha a festa do 75.º aniversário de Jake Hannaford, cineasta ficcional interpretado por John Huston, que Welles definiu como “um sacana de um realizador que cria as pessoas e as destrói” (“é um filme sobre nós”, terá dito a Huston). Embora Welles tenha repetidamente negado essa componente autobiográfica, o produtor espanhol Andrés Vicente Gómez diz que o protagonista é uma combinação de “Hemingway, Huston e ele próprio”.

Peter Bogdanovich lutou também por terminar este filme — uma promessa que fez a Orson Welles, antes de este morrer em 1985 de ataque cardíaco. Não se sabe, para já, se Bogdanovich estará ligado ao projecto da produtora de Los Angeles, que trabalha com filmes independentes. Ao New York Times, o realizador disse estar pronto para cumprir a sua promessa.