Jorge Pardo: “O jazz e o flamenco têm em comum a liberdade de interpretação”

Um dos maiores instrumentistas do jazz espanhol toca esta quarta-feira, em trio, no São Luiz, no Festival de Flamenco de Lisboa.

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Jorge Pardo DR

Depois do arranque, em Maio, com a arte de baile de Farruquito, o Festival de Flamenco de Lisboa apresenta esta quarta-feira o trio de Jorge Pardo (flautista e saxofonista), no Teatro São Luiz (às 21h), cruzando de forma única os universos do jazz e do flamenco, naquilo que os une.

Jorge Pardo nasceu em Madrid, a 1 de Dezembro de 1956, numa família de amadores de música. “Na minha infância havia sempre música em casa, no gira-discos: Tchaikovsky, Manolo Caracol, Woody Herman. Creio que eu sou um resultado de toda esta mistura.”

Mas o empenho na música foi dele, não familiar, por volta dos 12 ou 13 anos. Começou pela guitarra, mas depois viu que tinha que mudar de instrumento. “Juntávamo-nos num parque de Madrid a tocar guitarra, com outros colegas, e eu era o mais pequeno. E todos tocavam tão bem que eu achei que não podia competir com eles. Então, um dia passei por uma loja, vi uma flauta e decidi começar por ali.” Não foi fácil. “Tudo depende do amor e do empenho. Com amor e empenho, o difícil acaba por se tornar fácil.”

Integra, então, com Pedro Ruy-Blas o grupo Dolores. “Fazíamos uma música de fusão, ao estilo do jazz rock dos anos 70.” Nessa altura ele já tocava saxofone, além da flauta. “Gravávamos na Polygram, e Paco de Lucía também. Então um dia, na cafetaria, ele veio ter comigo porque não lhe agradava um arranjo que tinha para a Dança do Fogo, de Manuel de Falla. ‘Querem vir comigo ao estúdio, improvisar, a ver o que acontece?’”

Foram, gravaram dois temas, e Paco de Lucía já não o perde mais de vista: Jorge Pardo viria a integrar o seu sexteto. Não só. Também fez “muitas coisas” com Camarón de la Isla, “não só actuações ao vivo com também programas de televisão.” Tocou, além disso, com numerosos músicos, da área do jazz e não só: Chick Corea, Tete Montoliu, Pat Metheny, Chano Domínguez, Don Alias, Ketama, Flavio Sala, Raimundo Amador, Nana Caymmi, Wagner Tiso ou Toninho Horta. De toda esta mistura, é o cruzamento do flamenco com o jazz que marca o seu estilo musical. “Jazz ou flamenco, a mãe é África, os ritmos são africanos, tanto do flamenco com do jazz. E há outras coisas em comum. Mozart interpreta-se de uma maneira, mas uma soleá pode interpretar-se de várias maneiras. Tal como On Green Dolphin Street. As estéticas são muito diferentes, mas o jazz e o flamenco têm em comum a liberdade de interpretação.”

Em palco, com Jorge Pardo estão José Manuel “Bandolero”, nas percussões, e Josemi Carmona, dos Ketama, na guitarra: “Tenho a imensa honra de poder trabalhar com ele porque, na geração seguinte à de Paco de Lucía, é flamenco dos quatro costados, da família dos Habichuela, mas com outra mentalidade, muito aberta a outros sons.”

O que tocarão? Aquilo que, por palcos dos vários continentes, tem sido a sua escolha: “Temos um repertório muito amplo. Aos temas de Huellas, que lancei há dois anos, somam-se muitas coisas do passado, coisas que fiz com Paco de Lucía, com Camarón, coisas dos Ketama, dos Habichuela, flamenco tradicional e, devido a esse mundo tão amplo que tem Josemi, também coisas dos Beatles ou Stevie Wonder, por bulerías.”

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