Chernobil causou cancros da tiróide mais agressivos

Já se sabia que, quanto maior o nível de exposição ao iodo radioactivo, maior o risco de cancro da tiróide. Agora, essa radiação também foi associada às piores formas deste cancro.

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Um médico examina a tiróide de uma criança que residia perto da central de Fukushima, no Japão Damir Sagolj/REUTERS

Pela primeira vez, uma equipa internacional de cientistas mostrou que a exposição das pessoas a iodo radioactivo aquando da explosão da central nuclear de Chernobil está associada às formas mais agressivas de cancro da tiróide. Os resultados foram publicados online, na terça-feira, na revista Cancer.

Lydia Zablotska, da Universidade da Califórnia (EUA), e colegas estudaram os casos de 11.644 pessoas na Bielorrússia que, em 1986, quando se deu aquela catástrofe nuclear, tinham 18 anos ou menos – e que por isso foram expostas a iodo radioactivo, por inalação ou ingestão alimentar, quando ainda eram muito novas.

“O nosso grupo já tinha mostrado anteriormente que a exposição ao iodo radiactivo faz aumentar substancialmente o risco de cancro da tiróide – e que, quanto maior a dose de radiação, maior o risco”, diz Zablotska, citada num comunicado da sua universidade. “O novo estudo mostra que essa exposição está também associada a características clínicas distintivas que tornam os cancros mais agressivos.”

Os participantes no estudo foram submetidos a três rastreios do cancro da tiróide entre 1997 e 2008, explicam os autores. E os seus níveis de exposição ao iodo radioactivo foram estimados a partir de medições individuais da actividade da tiróide realizadas pouco depois do acidente de Chernobil.

No total, foram detectados 158 cancros da tiróide (aos quais se juntam 52 previamente diagnosticados). E mais: as pessoas que tinham sido expostas a doses de radiação maiores apresentavam mais frequentemente formas mais agressivas de cancro da tiróide – nomeadamente, formas que alastram para os vasos linfáticos ou que provocam múltiplas lesões simultâneas na glândula tiróide.

Lydia Zablotska diz ainda que estes resultados poderão ter implicações para aqueles que foram expostos ao iodo radioactivo quando se deu o acidente na central nuclear de Fukushima, no Japão, em 2011, na sequência de um tsunami provocado por um terramoto.

“Aqueles que foram expostos quando eram crianças ou adolescentes são os que correm maiores riscos e deveriam ser regularmente submetidos à despistagem do cancro da tiróide, porque estes cancros são agressivos e podem alastrar muito depressa”, recomenda a cientista. “E os médicos deveriam ser sensibilizados para a agressividade dos tumores associados à radioactividade e monitorizar de perto as pessoas que apresentam os riscos mais elevados.”
 

  


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