A Europa precisa de uma nova narrativa e de si para a pensar

Entre Novembro e Maio de 2015 os cidadãos vão ser convidados a participar em actividades onde se discutirá o presente e futuro da Europa. O texto norteador, tendente a impulsionar a criação de uma nova narrativa europeia, foi apresentado em Lisboa.

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Não é a primeira vez, desde o irromper da crise em 2008, que vozes europeias influentes redigem um documento que aponte para a necessidade de emergir uma nova narrativa europeia, num contexto onde o ideal europeu parece vacilar, com a crise económica, uma construção política hesitante e o regresso de crispações identitárias e de velhos fantasmas nacionalistas.

Há três anos duas dezenas de intelectuais, como os Nobéis Seamus Heaney e Günter Grass, reafirmaram que este era o tempo de aprofundar a União Europeia e não de a pôr em causa, enquanto o ano passado Bernard-Henri Lévy, Umberto Eco ou Salman Rushie, entre outros escritores, redigiram um manifesto onde reflectiam que era necessário cumprir-se uma Europa política, capaz de impulsionar a emergência de uma verdadeira cidadania europeia, não limitada à cooperação financeira.

Agora surge uma iniciativa lançada pela Comissão Europeia que pretende impulsionar Uma Nova Narrativa para a Europa, visando a participação dos cidadãos, colocando-os a discutir o futuro da Europa. Cada país fará a partir de agora o desenvolvimento do projecto através de acções que tornem possível a reflexão. O documento norteador, apresentado esta sexta-feira em Lisboa, pela chefe da representação da Comissão Europeia, Maria de Aires Soares, não vai tão longe politicamente quanto os dois acima mencionados, mas também coloca ênfase na cultura.

Assinado por 16 artistas e intelectuais como o arquitecto holandês Rem Koolhaas, o compositor inglês Jonathan Mills, a artista espanhola Cristina Iglesias ou a directora da Companhia Nacional de Bailado, a portuguesa Luísa Taveira, o documento intitula-se O Corpo e a Mente da Europa e nele é dito que “as narrativas populistas e nacionalistas não podem prevalecer”, ao mesmo tempo que é proposto um itinerário pela história da Europa, com paragem obrigatória no início da crise económica em 2008.

“A narrativa dominante da altura, caracterizada pela crença na capacidade de auto-regulação dos mercados e pelo enaltecimento da especulação ávida de lucro, colidiu com a realidade de forma dramática”, pode ler-se, sendo aconselhado que depois de uma “governação política mais forte dos sistemas financeiros” se siga agora uma “maior insistência na governação civil, inspirada pelos paradigmas comuns de democracia participativa e de sustentabilidade, que apontam para um novo horizonte de esperança, solidariedade e responsabilidade para todos.”

Nesse sentido, pode ler-se, é preciso um “novo renascimento”, onde se cuide da diversidade cultural e do pluralismo e onde as cidades devem ser algo mais do que centros urbanos. “Devem procurar tornar-se capitais de cultura, melhorando a vida de todos os europeus. Por que não começar a imaginar a Europa como uma enorme megalópode, interligada por meios de transporte e comunicação?”, pode também ler-se, num documento que visa uma agenda global de desenvolvimento sustentável, uma nova legislação económica e maior capacidade de resposta a um sentimento de pertença dos cidadãos.

Para consciencializar e pôr os cidadãos portugueses, com enfâse nos jovens, a discutir as questões europeias, foram ponderadas um conjunto de actividades, como concursos destinados a escolas e universidades, programas informativos e debates sobre o presente e futuro da Europa, bem como encontros em espaços culturais e universidades segundo a metodologia World Café. Na iniciativa os participantes reúnem-se em mesas de café para, em conjunto, desenvolverem respostas para os desafios europeus.

Criação de grupos de reflexão e conferências internacionais, como a de 5 de Dezembro, na Casa da Música do Porto, com alguns dos subscritores do documento inicial, são outras actividades. No final será lançado um livro do qual constarão conclusões, análises e propostas dos cidadãos participantes.

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