Bispos condenam texto inicial que previa abertura da Igreja aos gays e recasados

Dez grupos de trabalho. Dez textos que se revêem pouco no documento conhecido na segunda-feira.

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A maioria dos bispos considera que a Igreja não deve permitir que os divorciados tenham acesso aos sacramentos Susana Vera/Reuters

Na segunda-feira, o cardeal Peter Erdö apresentou um documento de trabalho, a relatio, que serviria de base de trabalho para o Sínodo sobre as Famílias, que decorre no Vaticano até ao próximo domingo. Esta quinta-feira, foi a vez de os dez grupos de trabalho apresentarem as suas conclusões. Estas revelam-se demolidoras para com um documento que todos concordaram ser resultado do trabalho de uma semana.

Os grupos, chamados circoli minori, foram reunidos por idiomas – três grupos de língua italiana, três de inglês, dois de espanhol e dois de língua francesa.

Muitos começam por se mostrar indignados pela relatio ter sido divulgada à comunicação social. Já na terça-feira, o cardeal sul-africano Wilfrid Napier tinha confessado o seu incómodo, em conferência de imprensa. Então, o porta-voz do Vaticano, o padre Federico Lombardi explicou que essa era a metodologia deste Sínodo: abertura. Esta quinta-feira, Lombardi voltou a repetir que todos os documentos resultantes da discussão dos grupos seriam conhecidos e tal revelava a "abertura e transparência na participação".

Certo é que, se o primeiro documento, a relatio, revelava alguma abertura à comunhão e confissão dos casais recasados ou divorciados e ao acolhimento aos homossexuais, muitos dos textos dos grupos falam da indissolubilidade do casamento, consideram que a Igreja se deve manter fiel e não deve permitir que os divorciados tenham acesso aos sacramentos. No grupo francês moderado pelo cardeal austríaco Christoph Schönborn fala-se de "comunhão espiritual" para estas pessoas; há pessoas divorciadas que são "verdadeiras testemunhas da indissolubilidade e fidelidade do casamento", aponta o relatório do grupo espanhol liderado pelo cardeal Francisco Ortega.

Quanto à homossexualidade, há relatórios que apontam para uma nova formulação: pessoas com "tendências homossexuais". A maioria diz que sim, os homossexuais devem ser acolhidos e acompanhados, mas que o "casamento é só entre um homem e uma mulher", clarifica o grupo italiano moderado pelo monselhor Angelo Massafra.

A maioria dos textos começa por dizer que a relatio negligenciou as famílias cristãs, aquelas que verdadeiramente seguem o Evangelho e a palavra de Cristo com sacrifício; para se debruçar sobre os problemas mais actuais de outras famílias como aquelas que vivem em união de facto ou as divorciadas. O tom do documento devia "expressar a confiança" no matrimónio cristão, diz por exemplo, o grupo de língua inglesa moderado pelo cardeal Joseph Edward Kurtz. O texto devia passar uma mensagem que "encoraje e inspire esperança" às famílias cristãs, diz por sua vez o grupo moderado por Napier, também de língua inglesa.

Estes documentos vão ser agora compilados e resumidos e construirão o documento final que será conhecido no sábado de manhã e aprovado sábado à tarde.

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