Olga Afonso está no top 10 dos melhores doutorandos do mundo

Investigadora do IBMC é a única europeia no top 10 dos melhores estudantes de doutoramento do mundo, para a American Society for Cell Biology. Trabalho sobre o controlo da divisão celular valeu-lhe a distinção

A um ano de terminar o doutoramento, Olga gostava de experimentar outros ambientes de trabalho, na área da divisão celular
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A um ano de terminar o doutoramento, Olga gostava de experimentar outros ambientes de trabalho, na área da divisão celular
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Olga Afonso, investigadora do Instituto de Biologia Molecular e Celular do Porto (IBMC), está entre os melhores estudantes de doutoramento do mundo na área da Biologia Celular. Para a nomeação da American Society for Cell Biology, valeu-lhe uma nova descoberta num projecto de que nem faria parte, não fosse uma bolsa europeia: a investigação de Olga tem um impacto no controlo da divisão celular.

Tudo começou com a candidatura de Olga, de 30 anos, à edição 2014 do ASCB Kaluza Prize, que envolveu centenas de candidaturas a nível mundial. Não chegou ao pódio (os três primeiros receberam prémios entre três mil e cinco mil dólares), mas conseguiu não só estar nos 10 finalistas como também ser a única cientista europeia do “top”. O trabalho em questão está relacionado com o artigo já destacado na “Science”, em Junho deste ano, e assinado pelos investigadores do grupo de Hélder Maiato, do qual faz parte. O estudo centra-se na descoberta de “um novo mecanismo pelo qual as células regulam a separação do seu DNA para formar duas filhas geneticamente idênticas”, conta Olga, e assume relevância no "conhecimento sobre a vida e como ela se transmite".

“Até agora pensava-se que uma das fases finais da separação, a mitose — que é precisamente quando os cromossomas têm de se separar —, não tinha nenhum mecanismo de regulação. Afinal, essa fase do processo está a ser activamente monitorizada, controlada e regulada”, explica, o que garante que os cromossomas se distribuam correctamente entre as células filhas. O que acontece na prática é que este mecanismo "mede a distância de separação dos cromossomas durante a anafase [a formação de novos núcleos] e 'diz' à célula quando ela pode terminar todo o processo", refere a jovem ao portal de notícias da Universidade do Porto.

Para trabalhar neste projecto, a cientista andou “durante dois anos a tentar uma bolsa da FCT [Fundação para a Ciência e Tecnologia]”. Nunca conseguiu. "Quando estava finalmente a procurar outras coisas, até lá fora, surgiu uma oportunidade", lembra. Uma bolsa de 1,5 milhões de euros do European Research Council. “Se não fosse esta bolsa e se não tivesse tido esta oportunidade, já teria desistido", afirma. "É muito difícil… [O concurso da FCT] é um processo muito selectivo e nem sequer dá oportunidade de as pessoas continuarem cá a fazer o que gostam". "Se não tivesse tido esta oportunidade, já teria desistido."

De Farmácia até ao IBMC

Em 2002, Olga Afonso era uma jovem de Vila Nova de Cerveira indecisa entre dois cursos mas com um paixão bem evidente. "A área das ciências foi sempre a área que mais me interessou e nunca ponderei outras áreas", lembra. E a investigação também já fazia parte dos planos. Acima de tudo, queria um curso com "uma vertente mais prática". Acabou em Farmácia, na Escola Superior de Tecnologia da Saúde do Porto (ESTSP), mas a escolha "não correu lá muito bem". Um ano depois, partiu para aquela que tinha sido sempre "a outra" opção: Bioquímica, na Faculdade de Ciências da Universidade do Porto (FCUP), que lhe "daria um acesso mais directo à área da investigação".

E assim foi: o estágio curricular da licenciatura, em 2008, levou-a ao IBMC, onde continua até hoje. No terceiro ano do programa doutoral em Biomedicina da Faculdade de Medicina da UP, o IBMC é agora não só o espaço que a acolheu no início de carreira mas também o instituto que sustentou o projecto que lhe valeu uma entrada no top 10.

Para acabar o doutoramento ainda falta um ano “mas há que começar a pensar no futuro”. E no futuro, Olga há-de continuar a fazer o que gosta. De preferência, na área da divisão celular e num pós-doc que lhe traga novas experiências. "Estou a pensar em sair um pouco do ambiente do IBMC, para outros institutos ou até para outro país, para tentar conhecer outras formas de trabalhar e de abordar projectos... porque isso é muito importante para enriquecer a nossa carreira." Mas mesmo que seja para sair, há-de voltar. "Gostava de voltar para cá, ser líder de um grupo de investigação, quem sabe. É difícil prever, mas o ideal poderia passar por aí", sonha.

A American Society for Cell Biology (ASCB) é um dos mais prestigiados organismos científicos internacionais no campo das ciências biológicas. O prémio ASCB Kaluza é um galardão atribuído pela ASCB e pela Beckman Coulter Life Sciences (empresa líder mundial na produção de instrumentos laboratoriais) e é destinado a projectos de investigação de excelência desenvolvidos por estudantes de doutoramento nos campos da Biologia Celular e das Ciências Biológicas básicas.

Num futuro próximo, como uma das 10 finalistas do prémio, Olga Afonso terá a oportunidade de participar na reunião anual da ASCB, a decorrer de 6 a 10 de Dezembro, em Filadélfia, nos Estados Unidos da América. Aí, a investigadora portuguesa terá a oportunidade de apresentar o seu trabalho num mini-simpósio dedicado ao Kaluza Award.

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