Se a gravidez fosse um filme, era o "280: Odisseia no Útero"

Grávida pela primeira vez, Vanessa Caeiro decidiu documentar a chegada de Beatriz no diário ilustrado "280: Odisseia no Útero". Um manual de instruções que ainda vai virar filme

Vanessa Namora Caeiro tem 33 anos DR
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A gravidez é uma odisseia? Não, segundo o dicionário; sim, de acordo com um sem-número de casais que aguardam a chegada de um novo bebé. Grávida pela primeira vez, Vanessa Namora Caeiro, de 33 anos, decidiu detalhar esta aventura num diário gráfico online, actualizado regularmente — já lá vão 32 semanas. O blogue "280: Odisseia No Útero" é a história da chegada de Beatriz, ou "Lontrinha Paxulé", como é carinhosamente apelidada de quando em quando, às vidas do pai Pato e da mãe Vanessa, "motion designer" na CMTV, com ligações ao cinema de animação e às artes plásticas. Um verdadeiro manual de instruções, dizemos nós. O nascimento está previsto para 22 de Novembro, mas tudo indica que será antes, durante a primeira quinzena de Novembro, avisa a autora por e-mail. Convém não perder as cenas dos próximos episódios.

Como é que está a "Lontrinha Paxulé"?

A "Lontrinha Paxulé" está gorda! O Dr. Vítor Rodrigues até comentou que quando ela nascer tem logo de começar a andar, pois tem uma coxa cheia de carne. E eu estou toda partida, os meus ossos já não aguentam tanto peso pesado! A barriga até dói quando ela resolve dar uma cambalhota… ou voltinha, que já não deve ter espaço para grandes brincadeiras. De resto está tudo bem.

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E o pai Pato e a mãe Namora Caeiro?

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Ahahaha! Às turras, mas apaixonados por este mundo cheio de peluches e coisinhas fofinhas e felpudas; tudo isto com a sensação de perda de identidade, visto que agora passamos a ser o “pai” e a “mãe” da Beatriz, e não o Pato e a Vanessa. Um efeito colateral, está visto!

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Porquê relatar a gravidez num diário gráfico?

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Porque não?! Sabes, eu nunca quis ser mãe. E quando digo isto, fico sempre com a sensação que os olhos das pessoas ficam enormes e perplexos e cai-me logo uma nuvem negra em cima cheia de raios e coriscos. O que é certo, é que nunca tive aquela adoração extrema por bebés e tal… os 33 anos devem ter-me feito mal porque agora estou a adorar, embora muito à minha maneira. Dizem que foi o relógio biológico, eu acho que foi o coração que bateu mais rápido, a respiração ficou mais profunda e "pimba": o espermatozóide do Pinguim fecundou o ovário da Baleia e a zigota Lontrinha Paxulé apareceu dentro de mim! No final de contas, tinha de contar a sua história à Beatriz e, assim, aqui fica um registo deste momento; ao mesmo tempo, tinha de fazer qualquer coisa criativa que fosse ao encontro daquilo que ainda não sei o que será.

Qual é a ilustração que, para ti, será mais simbólica ou marcante?

Ui, é difícil. Escolher uma ilustração de um pedaço da minha vida é quase impossível, mas diverti-me muito ao personificar o meu mais querido Sr. Repolho [à esquerda]. Mas aquela que mais me marcou até agora foi o “Avança com toda a confiança”, uma vez que, nessa altura, tivemos um susto na ecografia morfológica e a Lontrinha apenas tinha de ser confiante para a ultrapassar — até ver ultrapassou, “com uma perna às costas”. As que virão não sei o que esperar, mas serão todas elas uma agradável surpresa... assim espero!

E aquela que sentiste que mais pessoas se identificavam?

Dos zunzuns que oiço, a que ganha o prémio do público é a do dia 23 de Julho: “Irritada com o universo e com o mundo... o Pato e o gato é que pagam!”. As menções honrosas vão para as "Alterações anatómicas" (11 de Setembro) [em cima] e para o “Insuflei” (12 de Setembro).

Registas alterações que a gravidez provoca que não são muito conhecidas: as "butter hands", o "Sr. Repolho", o "menir" (à esquerda).  Há um certo lado de aprendizagem, misturado com muito humor. Pensaste nesta perspectiva didáctica?

Para o diário nunca pensei muito em termos conceptuais, uma vez que foi uma necessidade que tive de expressar todo este turbilhão de hormonas que tenho atravessado nesta odisseia. Até os desenhos não tiveram um cuidado especial na sua execução, é mesmo um “grito” hormonal que tinha e que continuo a ter de vomitar cá para fora. O humor sempre esteve presente em todo o meu trabalho e até na minha postura pessoal — na realidade, "a brincar se dizem as verdades”, não é? E é nessa fronteira subtil entre a crueza da realidade e o escárnio da risota que consigo passar a minha mensagem enquanto pessoa. Se é didáctico ou não, foi-me indiferente… mas o que é certo é que muitos casais grávidos, futuros grávidos ou ex-grávidos falam dessa aprendizagem.

Se o "280: Odisseia no Útero" fosse realmente um filme, qual seria o género? E que actores seriam escolhidos?

O mais irónico nesta pergunta é que este diário serve de argumento para um filme de animação que pretendo fazer. Ainda não sei bem como, nem quando o vou fazer; talvez só tenha tempo quando for muito velhinha e já com o vizinho Alzheimer, mas recorrerei ao diário para me lembrar do que estou a fazer. O problema serão as artroses que terei nas mãos, mas, enfim, outro efeito colateral de se viver.

Já tiveste mais pistas em relação à seita ou associação secreta feminina [ver desenho à esquerda] que tem como missão subir o ego às amigas grávidas?

Estas seitas são muito bem organizadas e é difícil lá entrar. Os elogios e acções de encorajamento nunca param de chegar. É incrível o trabalho e esforço que elas desenvolvem... puxa! Uma dedicação atroz! Nunca pensei! Estou muito grata a todas elas.

Esta odisseia vai mesmo terminar com o nascimento ou pensas prolongá-la?

Estou a gostar tanto de o fazer que não me apetece nada acabar com a odisseia, até gostava que o projecto se desenvolvesse em várias vertentes. E sim, não irá terminar; se tiver tempo entre “mamadas” e “cagadas”, lá farei um desenho rápido a expressar esse esguicho materno ou esse mau cheiro da fralda da Lontrinha!

Qual é o conselho que tens para aqueles que queiram embarcar numa odisseia semelhante?

Não stressem. Sei que é difícil, mas não stressem. Apesar de parecer ser tudo muito complicado e exigente em apenas em nove meses, o segredo é deixar fluir a coisa e rirmo-nos de nós mesmo, intercalando com os momentos mais neuróticos. Respirar fundo e respeitar a pessoa que vive cá dentro num bairro feito de pulmões, rins, estômagos, bexigas e afins.

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