Ricciardi diz que problemas no BES foram “sérios e graves”

O presidente do BESI mostra-se disponível para ser ouvido na comissão de inquérito e considera que, no Novo Banco, os “piores perigos estão ultrapassados”.

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Ricciardi diz que devem estar reunidas as condições para a venda do Novo Banco até ao Verão Enric Vives-Rubio

O antigo administrador do BES, José Maria Ricciardi, mostrou-se disponível para esclarecer os deputados da futura comissão de inquérito sobre o BES e para já não se quis pronunciar sobre o “terramoto” que aconteceu com o desaparecimento do banco. Mas reconheceu que os problemas foram “sérios e graves”.

José Maria Ricciardi falou aos jornalistas, este domingo, à margem do Fórum Empresarial do Algarve, que reuniu nos últimos três dias cerca de centena e meia de empresários. Questionado sobre a sua disponibilidade para ser ouvido na comissão parlamentar de inquérito do BES, já aprovada, o presidente do BESI disse ser uma “obrigação de qualquer cidadão de prestar esclarecimentos quando é chamado ao Parlamento”.

Para já, o banqueiro não se quis pronunciar sobre as fortes divergências que teve com o seu primo Ricardo Salgado na gestão do banco. “Os problemas que se passaram são sérios e graves. Nunca deixei de responder às vossas perguntas, mas toda esta problemática está a ser alvo de inquéritos e avaliações, não é altura para me pronunciar, não seria sensato”, respondeu. A comissão parlamentar de inquérito ao BES já foi aprovada por unanimidade e deve ser constituída nas próximas semanas.

O banqueiro também não quis comentar as notícias que dão conta de que os clãs da família Espírito Santo receberam cinco milhões de euros de comissões pelo negócio da compra de dois submarinos, no Governo liderado por Durão Barroso, por considerar que “não é o momento”, dado estar em curso um inquérito judicial.

Relativamente ao Novo Banco, José Maria Ricciardi disse estar convencido de que “os maiores perigos já passaram” e que se vai resolver “da melhor maneira”, elogiando como “muito profissional” a actual equipa liderada por Eduardo Stock da Cunha. Mas não escondeu que o que aconteceu com o BES “teve repercussões internacionais importantes e para o nosso país”, depois de na sua intervenção durante o Fórum ter comparado o problema do BES a um “terramoto”.

Quanto ao Novo Banco, Ricciardi antecipa que se encontre um novo investidor – português ou estrangeiro é indiferente – no espaço de um ano. “Devem estar reunidas as condições para a venda do Novo Banco até ao Verão”, afirmou.

O presidente do BESI quis deixar um tom positivo sobre o desfecho do Novo Banco e não criticou a intervenção do supervisor no processo. “O Banco de Portugal está a fazer o seu papel”, disse, acrescentando que o supervisor está a fazer o “melhor possível”.

José Maria Ricciardi já tinha estado no Fórum Empresarial neste sábado à noite e jantou na mesma mesa do primeiro-ministro. Questionado sobre se teve uma “conversa amigável” com Passos Coelho, o banqueiro mostrou estranhar a pergunta. “Concerteza. Nunca tive problemas com o senhor primeiro-ministro. Nunca escondi a relação que sempre tive com o primeiro-ministro”, afirmou.

Pressão para baixar impostos esvaziada

No encerramento do Fórum Empresarial do Algarve, o ministro da Economia, António Pires de Lima, evitou falar de IRS, preferindo elogiar a reforma do IRC. O ministro do CDS escusou-se assim a alimentar a pressão que o partido tem feito, nos últimos dias, no sentido da “moderação fiscal” para as famílias.

Também o primeiro-ministro esvaziou a polémica ao afirmar não ver qualquer “risco de ruptura” na coligação. Em declarações aos jornalistas em São Bento, à margem de um encontro com a Associação de Jovens Empresários, Passos Coelho ajustou o discurso que tem feito nos últimos dias sobre impostos para se aproximar mais do de Paulo Portas. “Eu nem vejo sinais de ruptura nem vejo crise nenhuma. Teremos oportunidade agora de discutir em Conselho de Ministros a proposta de lei do Orçamento do Estado (OE) que será submetida ao Parlamento até dia 15 e não deixaremos, nessa discussão, de atender às necessidades que todos sentimos de poder aliviar a carga fiscal sobre os portugueses", disse o chefe do Governo.

Passos Coelho volta a assumir ter dúvidas sobre se há espaço para baixar impostos, mas diz agora que a preparação da proposta do Orçamento do Estado é uma tarefa “que tem de ser concretizada com os números à frente”, tendo em conta os chumbos do Tribunal Constitucional à reforma das pensões. O impacto dos chumbos nas contas públicas são justificação que o primeiro-ministro dá para assumir prudência numa descida de IRS. Mas teve o cuidado de dizer que a sua visão não é muito diferente da do vice-primeiro-ministro: “Andamos a dizer a mesma coisa”. 

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