Factor Pimba

Só uma grelha televisiva esquizofrénica poderá procurar sistematicamente cantores versáteis da música pop para projectar cantores pimba. Seria como o Sporting formar jovens na academia e na hora do jogo convocar pensionistas

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Fiona McKinlay/Flickr

Depois de um Verão inteiro a mostrar os melhores enchidos e cantores pimba das diversas regiões portuguesas, a televisão generalista procura agora o ídolo da música Pop. Seria uma mudança interessante, não fosse o paradigma repetir-se todos os anos. As televisões buscam constantemente o ídolo da música Pop, em programas como “Ídolos”, “A Voz de Portugal” ou “Factor X”, mas os convidados musicais para os programas da tarde são invariavelmente pimba.

A que se deve esta discrepância entre a procura e o que é exibido? Com certeza que o público-alvo é diferente, mas qualquer público gosta de variar, o problema está em quem perpetua a mesma dose cultural. Só uma grelha televisiva esquizofrénica poderá procurar sistematicamente cantores versáteis da música pop para projectar cantores pimba. Seria como o Sporting formar jovens na academia e na hora do jogo convocar pensionistas.

O “Factor X” é interessante lá fora, em Portugal faria mais sentido um Factor Pimba. Onde se avaliaria não só a musicalidade mas também os atributos físicos das bailarinas. Filas de sonhadores à procura de um lugar ao sol, quando apenas precisam de um acordeão, duas moças roliças e descurar a higiene pessoal.

O produto é importado mas o resultado é caseiro. Ao contrário do que acontece nos outros países, o auge da carreira dos concorrentes é o próprio programa. Parece que se candidatam a dormir com a Doutzen Kroes, mas depois dessa noite levam para casa a Odete Santos. Isto não se deve apenas à indústria musical reduzida, mas sim à escolha dos géneros musicais que têm mais exposição em detrimento de outros.

Sobre os programas da tarde não faço juízos de valor, toda a gente já sabe que são 60 cêntimos +IVA. As más-línguas dizem que transformam apresentadores em vendedores, não concordo, é sabido que antes de existirem telemóveis já se financiavam por pombos-correio e sinais de fumo.

Portugal parece estar repleto de pimba de Norte a Sul. Nas aldeias, mal as crianças apresentam um ligeiro buço, atiram-lhes com um acordeão para cima e as meninas para poupar usam a mesma saia desde os 11, elas crescem, a saia não. Tudo é pimba, desde os programas da tarde até aos apresentadores, ainda assim, não há nada de errado com isso. O problema reside na dissonância de critérios. Que não se pesque sardinhas para vender bacalhaus! Com ou sem alho.

Bem-haja o pimba!

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