Matosinhos faz 500 anos e viaja no tempo à boleia de 15 tesouros

Foral manuelino será exibido nesta terça feira pela primeira vez numa exposição que reúne outros 14 tesouros artísticos. A partir das 21h00 há um teatro de rua para homenagear personalidades relacionadas com o concelho

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Haverá pompa e circunstância, desfiles na rua, e passagens obrigatórias em pontos nevrálgicos do município de Matosinhos para homenagear aqueles que ajudaram a construir uma história que se iniciou há precisamente 500 anos. Mas a festa não vai ficar só pelas comemorações que arrancam com a inauguração da exposição “15 Tesouros da História de Matosinhos”, onde o foral manuelino que marcou a certidão de nascimento do concelho vai ser presente ao público pela primeira vez. A festa vai continuar pelo menos até Fevereiro, altura em que essa mesma exposição vai permitir a cada visitante fazer uma verdadeira viagem no tempo e um passeio pela história.

Será uma forma de, em 15 passadas de gigante, conseguir perceber como ao longo dos séculos se foi construindo a identidade de Matosinhos. Os tesouros são-no no duplo sentido da palavra. Porque são valiosos e porque, de alguma forma, estavam escondidos. A começar pelo Foral, que fica sem data de devolução, como o deverá confirmar o presidente da Câmara do Porto.

Acompanhar o historiador Joel Cleto numa das muitas visitas guiadas que vão ser feitas a esta exposição vai permitir conhecer — de uma forma impressiva, e muitas vezes surpreendente — marcos históricos e curiosidades do município. Desde os tempos da ocupação paleolítica (os bifaces retirados dos terrenos onde está hoje instalada a refinaria da Petrogal), até ao tempo dos marinheiros e dos piratas (sim, que Matosinhos não foi só terra de mareantes e de pescadores, também teve piratas que acostavam na Praia dos Ladrões, e que hoje é uma praia de melhor nome — a Praia da Memória) passando pela importância do Porto de Leixões e a industrialização que trouxe uma das mais pesadas e transformadoras intervenções urbanísticas feitas em   cidades portuguesas, para terminar na arquitectura contemporânea e em nomes como Siza Vieira.

Entre as peças mais surpreendentes está a chave em filigrana que abre o cofre enterrado debaixo do Obelisco da Praia da Memória, ali construído para sinalizar o desembarque das tropas que fizeram o famoso Cerco ao Porto. Era hábito esconder um cofre debaixo da primeira pedra. O tesouro ainda lá deve estar, nunca ninguém confirmou, mas a chave que abre o cofre estará ali, à vista de todos. Outras peças que fazem parte deste espólio vão contando a vocação portuária do concelho desde os tempos dos romanos, a produção de sal no rio Leça, o envolvimento no período dos descobrimentos, a lenda do Senhor de Matosinhos e a construção da igreja do Bom Jesus — cujo padroado, que era da Universidade de Coimbra, pagou muitos ordenados —, a existência do maior porto sardinheira do mundo e o apogeu da indústria conserveira.

Além destes 15 “tesouros”, a exposição apresentará também uma galeria com a evocação de 15 personalidades relacionadas com Matosinhos. Entre eles estão o Balio de Leça, Frei Vasques Pimentel; João Rodrigues de Sá, responsável pelas galés de corsários que libertaram Lisboa do Cerco de 1384; Gonçalves Zarco, que descobriu a ilha da Madeira; Passos Manuel, político do século XIX; Florbela Espanca e Guilhermina Suggia; Abel Salazar, Padre Grilo e Irene Vilar. Cada uma destas personalidades será “recordada” através de um  pequeno texto biográfico e um objecto relacionado com o retratado. Imperdível, o volume da História da Literatura Portuguesa de Óscar Lopes, anotado pelo próprio e emprestado pela família. Muitas destas personalidades vão ser invocadas no Teatro de Rua que, a partir das 21h, vai tomar conta das artérias de Matosinhos, entre os Paços do Concelho e o Cine teatro Constantino Nery.

Cedência provisória
“Não me quero pronunciar sobre puristas. Para quê perder tempo com burocratas?”. Guilherme Pinto, presidente da Câmara de Matosinhos, diz que não vai fazer mais nenhuma diligência para conseguir convencer os responsáveis da Direcção-Geral do Livro, dos Arquivos e das Bibliotecas (DGLAB), que gere o Arquivo Nacional da Torre do Tombo, que é no município de Matosinhos, e na sede do concelho que deveria permanecer o documento de há precisamente 500 anos, onde o Rei D. Manuel II concedeu o Foral Novo a Matosinhos.

 O documento está na posse do Arquivo Histórico da Cidade do Porto, e quando Guilherme Pinto pediu a cedência do documento para as comemorações dos 500 anos da criação do concelho, o seu homólogo da Câmara do Porto tentou tornar essa cedência definitiva. Acabou por receber um parecer negativo da DGLAB, que invoca “não ser adequado do ponto de vista jurídico e técnico” a eventualidade da cedência definitiva “à entidade territorial do Município de Matosinhos”. “Só posso sublinhar que a Câmara do Porto se portou muito bem. E que teve um atitude inteligentíssima. O resto, não vale a pena. São puristas”, comentou ao PÚBLICO Guilherme Pinto. A cedência do documento é, então, temporária, mas a verdade é que não tem prazo de devolução. 

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