Atentado em Cabul no dia de tomada de posse do novo Presidente afegão

Explosão perto do aeroporto mata sete pessoas na capital no dia da transição de poder de Hamid Karzai para Ashraf Ghani.

Foto
Ashraf Ghani (à dir) e Abdullah Abdullah (à esq), os novos governantes do Afeganistão na tomada de posse Shah Marai

A primeira transição de poder pacífica na história do Afeganistão não deixou de ser atribulada. Até ao último minuto não se sabia se o primeiro-ministro, que vai dividir o poder com o Presidente, estaria presente na tomada de posse desta segunda-feira, e o dia foi ainda marcado por um ataque suicida.

“Sou o vosso líder, mas não sou melhor do que vocês”, disse Ashraf Ghani, citando o primeiro califa do islão, Abu Bakr Seddiq. Logo depois, dirigiu-se aos rebeldes que continuam a levar a cabo uma sangrenta luta no país. “Pedimos aos opositores, e mais especificamente aos taliban, que comecemos conversações políticas. Estamos cansados desta guerra.” Como um lembrete, um bombista suicida fez-se explodir num checkpoint do aeroporto de Cabul, matando sete pessoas. Os taliban reinvindicaram este ataque e outro numa província oriental do país.

“O nosso povo mostrou que quer paz e ordem”, disse por sua vez o Presidente cessante, Hamid Karzai, na cerimónia em Cabul, após 13 anos no cargo.

Karzai ajudou na mediação do duro confronto entre os dois principais opositores, Ghani, antigo ministro das Finanças, e Abdullah Abdullah, antigo ministro dos Negócios Estrangeiros, após eleições marcadas por fraude generalizada.

A disputa terminou com um acordo inédito de partilha do poder, em que Abdullah ficava encarregado de escolher a chefia de Governo. O cargo acabou por ser ocupado por ele próprio.

Ghani agradeceu a Abdullah, que afinal acabou por comparecer à cerimónia, o ter-se juntado à liderança, e disse que o governo será de “representação” do povo afegão. O novo Presidente fez um discurso optimista em relação à economia. “Os recursos minerais no Afeganistão podem transformar o país numa nação industrial”, disse o antigo economista do Banco Mundial. “Dependemos muito de importações e assistência estrangeira, e temos o objectivo de criar um sistema económico forte para estimular exportações e desenvolver a economia.”

Mas a discórdia começou mesmo antes da tomada de posse, com o campo de Abdullah irritado pela decisão de Ghani publicar resultados eleitorais que lhe davam 55% dos votos (e que Abdullah continua a dizer que são números resultado de fraude) e outros desentendimentos sobre o discurso do novo primeiro-ministro na cerimónia e ainda sobre a distribuição dos gabinetes.  

A transição marca o fim da era de Hamid Karzai, o Presidente que tomou posse após a invasão liderada pelos EUA que derrubou o regime dos taliban em 2001.

Sugerir correcção
Comentar