De mal a pior

Thom Yorke é aquilo que os ingleses chamam a snake in the grass: um venenoso réptil escondido, à beira da inevitável dentada.

Estou a ouvir a mais recente colecção de canções de Thom Yorke dos Radiohead (que, digo já, fazem falta) que tem o título Tomorrow's Modern Boxes.

No fraco mas simpático filme Begin Again (2013), de John Carney, Keira Knightley, sabendo que só vai ganhar 1 dólar (10 por cento) por cada disco vendido por 10 dólares, decide que quer vender cada download do álbum por 1 dólar.

O produtor, Mark Ruffalo, que entretanto se tornou amigo dela, ainda sugere que levem 2 dólares. Mas ela não transige. Recusa-se a ganhar mais do que ganharia se fosse explorada por uma editora.

Pois. Também não percebi o sentido que fazia. Mas alegrou-me a alma. Agora aparece Thom Yorke dos Radiohead (infelizmente sozinho) a pedir 6 dólares por 8 canções (felizmente não são apenas "faixas") que só podem ser descarregadas através do BitTorrent: a predilecta ferramenta dos piratas pacientes, sejam pobres ou forretas.

Cobrando dinheiro através da BitTorrent - que nunca levou nada a ninguém - está a corromper a própria pirataria. Thom Yorke é aquilo que os ingleses chamam a snake in the grass: um venenoso réptil escondido, à beira da inevitável dentada.

A não ser The Mother Lode, que não é mau, Tomorrow's Modern Boxes é muito mau. É repetitivo, monótono e esterilizado. Os Radiohead, queques envergonhados sem estudos mas com pretensões intelectuais, são os Genesis do século XXI.

Embora Thom Yorke, sozinho, seja muito melhor do que Peter Gabriel. Não é muito.

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