O regime e os partidos

A campanha das primárias não serviu, como Seguro julga, para “democratizar” a eleição de um putativo chefe, serviu principalmente para nos mostrar o partido por dentro; o ódio fraternal que é a força motora daquela agremiação de ressentimentos.

A Monarquia caiu por causa da impopularidade da dinastia? Não. D. Luís era um rei popular e D. Carlos até certo ponto também, porque o público, e principalmente o povo urbano, o sabia anticlerical, bom copo e bom garfo e, além disso, apesar da gordura, um notório femeeiro.

Claro que D. Carlos cometeu um desastroso erro quando tentou reformar a monarquia, sem uma organização de massas, com o único e solitário apoio de uma elite de Lisboa e de alguns palacianos que o país detestava. Mas no “5 de Outubro”, se o exército não resistiu aos militantes da Carbonária, foi porque não estava disposto a defender os partidos que sustentavam o regime: o partido regenerador e o partido progressista. Na essência, as queixas não variavam do que se diz do PS e do PSD: programaticamente não se distinguiam, tinham caído na pior corrupção, só pensavam no poder e nas suas clientelas. O exército, que talvez não se importasse de sustentar o rei, não queria sustentar aquilo.

Por isso, a partir de 1910, falharam sempre as tentativas de restauração. Voltar atrás, muito bem. Excepto aos “rotativos” (o que se chama agora o “arco da governação”). Só que, tirando os “rotativos” não existia nada. Basta imaginar este nosso Portugal de 2014 sem o PS e o PSD. Qual deles seria capaz de inspirar um país exausto e desesperado? E uma coligação seria um centro de intriga mercenária e estúpida. Dada a inutilidade prática da extrema-esquerda e do CDS, começaria por deslizar para um caos relativamente manso e tarde ou cedo chegaria às mãos de um homem forte qualquer.

O episódio da “Tecnoforma”, qualquer que seja o seu fim, impedirá Passos Coelho de readquirir o respeito do cidadão comum e, por isso, em última análise, a sua presente autoridade sobre o partido. Se o PSD perder as legislativas de 2015, ficará por força à mercê das luzes de meia dúzia de autarcas, que, além de não se interessarem pelo país, vêem tudo pela fresta dos seus negócios locais. Do lado do PS, a campanha das primárias não serviu, como Seguro julga, para “democratizar” a eleição de um putativo chefe, serviu principalmente para nos mostrar o partido por dentro; o ódio fraternal que é a força motora daquela agremiação de ressentimentos. O partido não ganhará a famigerada “maioria absoluta”, que por aí apregoa, e o seu destino não irá além de uma coligação impotente, que, com ou sem o PSD, consumará o desastre.

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