Após uma viagem de quase 11 meses, sonda espacial indiana super-low cost entrou na órbita de Marte

A Índia tornou-se o primeiro país asiático a atingir o planeta vermelho e o primeiro país do mundo a conseguir o feito sozinho logo à primeira tentativa.

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Cientistas e técnicos da agência espacial indiana celebram o sucesso da missão Manjunath KIRAN/AFP

Às 03h32 desta quarta-feira (hora de Lisboa), a sonda Mangalyann da agência espacial indiana ISRO completou com sucesso a sua entrada em órbita em torno ao planeta Marte.

“Hoje fez-se história”, declarou o primeiro-ministro indiano (e também ministro do espaço), Narendra Modi, no meio dos aplausos de centenas de cientistas e técnicos que se encontravam na sala de controlo da missão, em Bangalore, quando veio o anúncio do sucesso da operação da sonda, oficialmente designada MOM (Mars Orbiter Mission), noticiaram as agências.

Pouco antes, o motor principal da Mangalyaan (cujo nome em hindi significa engenho espacial de Marte) e seis pequenos propulsores auxiliares tinham sido ligados, a partir da Terra, de forma a virar e fazer abrandar a sonda, permitindo-lhe inserir-se suavemente numa órbita cuja altitude mínima ficará a cerca de 500 quilómetros por cima do solo de Marte.

A sonda, desenvolvida no tempo recorde de três anos, é a mais barata missão de sempre para uma viagem deste tipo: 55 milhões de euros. A título comparativo, a sonda Maven da agência espacial norte-americana NASA, que entrou em órbita marciana na última segunda-feira, custou dez vezes mais (uns 545 milhões de euros). Modi já salientara, aliás, que o projecto indiano até tinha sido mais barato do que o filme de Hollywood Gravidade, que custou 78 milhões de euros.

A Mangalyaan, que pesa menos de 1,5 toneladas, foi lançada a 5 de Novembro de 2013 por um pequeno foguetão (também de fabrico indiano) e percorreu 670 milhões de quilómetros ao longo de 300 dias de viagem.

Recorde-se que, como a potência do foguetão que a levava para o espaço (o Veículo Indiano de Lançamento de Satélites Polares) não era suficiente para arrancar a sonda à gravidade terrestre, os engenheiros do ISRO decidiram fazê-la andar às voltas em redor da Terra durante um mês, de maneira a permitir-lhe adquirir a velocidade necessária para partir rumo a Marte.

Nessa altura, a missão sofreu um percalço quando o seu motor não a conseguiu colocar à altitude prevista para ela poder fugir à atracção da Terra. O incidente ficou resolvido à segunda tentativa – e desde então, a viagem prosseguiu sem outros incidentes.

Uma outra operação delicada foi a que consistiu, muitos meses volvidos, em “acordar” novamente o motor da Mangalyaan, horas antes de dar início à manobra de inserção da sonda na sua órbita marciana, num teste destinado a verificar que tudo estava a postos.

A Mangalyaan tem um tempo de vida estimado em seis meses – após o qual ficará sem combustível – e leva a bordo vários sensores destinados a medir a presença de metano na atmosfera, à procura de sinais da presença de vida primitiva no planeta vermelho.

“Façanha de engenharia”
A agência espacial indiana junta-se assim às dos EUA, Rússia e Europa, as únicas que até aqui tinham conseguido enviar com sucesso uma sonda para Marte. E ao mesmo tempo, a Índia é o primeiro país a ter conseguido o feito sozinho logo à primeira tentativa: até agora, essa “medalha” era detida apenas pela agência europeia ESA, que reúne um conjunto de países. Tanto os EUA como a Rússia falharam o voo inaugural dos seus respectivos engenhos. E à escala da Ásia, a Índia ultrapassa o Japão, mas sobretudo a China, cujas missões a Marte até aqui fracassaram.

A agência espacial NASA, que deu apoio à agência indiana ao nível de telecomunicações durante a missão, já congratulou a ISRO: “Tratou-se de uma impressionante façanha de engenharia e damos as boas-vindas à Índia na sua entrada na família das nações que estudam (…) o planeta vermelho”, disse em comunicado Charles Bolden, o administrador da NASA.

Todavia, a Mangalyaan não recebeu apenas louvores desde o início do projecto. Em particular, o seu interesse científico foi questionado por alguns especialistas. E de facto, os próprios responsáveis reconheceram que a qualidade científica não é o aspecto mais importante da missão, mas antes a questão de demonstrar a tecnologia e de reforçar o prestígio do seu país.

Uma outra crítica prendia-se com o custo da missão, considerado demasiado elevado num país onde dois terços dos 1200 milhões de habitantes vivem com menos de dois dólares (1,5 euros) por dia e uma grande fatia da população ainda não tem acesso à electricidade ou ao saneamento básico. Porém, como fazia notar um artigo publicado quarta-feira na BBC News, a realidade aritmética é que a Mangalyaan apenas custou ao país menos de cinco cêntimos de euro por pessoa.

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