Chuva intensa deixa Lisboa meia submersa e faz seis desalojados na Lourinhã

A última grande chuvada deste Verão — o Outono chegou hoje às 3h29 — deixou Lisboa debaixo de água, parou o trânsito no centro da cidade e causou danos. Na ressaca, trocaram-se acusações. Tempo só melhora na quarta-feira.

Ao contrário de segunda-feira, desta vez não houve danos pessoais
Fotogaleria
Chuva inundou casas e garagens Miguel Madeira/arquivo
Fotogaleria
A leitora Mariana Proença encontrava-se na Avenida de Berna, em Lisboa DR
Fotogaleria
A Praça de Espanha vista pela leitora Mariana Proença DR
Fotogaleria
Avenida de Berna captada pela leitora Mariana Proença DR
Fotogaleria
Dificuldade em circular na Praça de Espanha, em Lisboa, confirma a lente de Mariana Proença DR
Fotogaleria
Chuva inundou ruas e lojas em várias zonas da cidade DR
Fotogaleria
Entre a Avenida da Liberdade e a Rua das Pretas, em Lisboa (Sofia Simões) DR
Fotogaleria
Sofia Simões fotografou a Avenida da Liberdade, em Lisboa DR
Fotogaleria
Pedro Matias captou esta imagem na Praça de Espanha, em Lisboa DR
Fotogaleria
Pedro Fróis Meneses partilha esta imagem em Sete Rios, LIsboa DR

Logo ao início da tarde de ontem, boa parte de Lisboa ligou-se ao Tejo. Entre as 13h e as 15h, choveu copiosamente, alcançando os 18,7 milímetros na Gago Coutinho. Às 15h15, deu-se a preia-mar, já a circulação não se fazia na Baixa e a linha azul do Metro tinha parado. Mas o susto chegou já a meio da tarde, quando um muro de suporte de terras do Colégio D. Maria Pia, na Rua Madre Deus, em Lisboa, ruiu e se pensou que havia crianças desaparecidas. Não houve vítimas, mas não faltaram acusações: a Câmara de Lisboa acusou o Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA) de não ter avisado sobre o que aí vinha e o PSD da autarquia lançou críticas à gestão camarária.

Apesar do caos no centro da cidade, foi da Madre Deus que, às 16h30, veio a maior preocupação. Um muro caiu e inicialmente havia suspeitas de estarem desaparecidas três crianças, segundo o Regimento de Sapadores dos Bombeiros de Lisboa.

“Era um muro bastante alto que suporta as terras de um campo de jogos. A chuva provocou a derrocada de uma parte do muro e chamámos a Protecção Civil e os bombeiros. Já foi feita uma contagem, estão todos os alunos”, disse ao PÚBLICO Eduardo Vilaça, vice-presidente da Casa Pia de Lisboa, a que pertence o Centro de Educação e Desenvolvimento de D. Maria Pia, frequentado por 600 crianças e jovens.

Foi chamada a Unidade Cinotécnica do Regimento de Sapadores Bombeiros de Lisboa e os cães permitiram às autoridades ter a certeza de que ninguém tinha sido atingido.

O muro fica no interior do colégio. “Toda a zona será isolada e vamos fazer o reforço da segurança interna para garantir que ali não vai passar ninguém”, afirmou ainda Eduardo Vilaça. O estabelecimento deverá, contudo, continuar a funcionar.

Antes disso, e a partir das 13h30, em boa parte da cidade caía um dilúvio. O Regimento Sapadores Bombeiros de Lisboa (RSB) registou 121 ocorrências entre as 14h e as 16h, devido às inundações.


Imagens de radar do mau tempo na segunda-feira (Fonte: IPMA)

A linha azul do Metropolitano esteve com perturbações na circulação desde as 14h18 até às 15h45, devido a uma inundação causada pela forte chuva, e o trânsito na Praça dos Restauradores foi desviado devido às inundações registadas na zona da Baixa, principalmente no Rossio.

De acordo com os bombeiros, as inundações verificaram-se ainda na Rua República da Bolívia e na Rua Carolina Michaelis de Vasconcelos, em Benfica, na Calçada de Carriche (Santa Clara), na Rua Prof. Pulido Valente (Lumiar), na Rua de Alcântara (Alcântara) e na Calçada de Palma de Baixo e na Rua Tomás da Fonseca (São Domingos de Benfica) e na Rua Visconde de Seabra (Alvalade).

Entre a Calçada da Palma de Baixo e a Estrada das Laranjeiras, na zona de São Domingos de Benfica, uma testemunha disse que a água naquela zona deveria alcançar cerca de meio metro de altura. A mesma fonte, além de notar a interrupção da circulação automóvel, testemunhou que um peão atravessava a estrada com a água pelos joelhos.

A circulação era feita com dificuldade no Largo das Fontainhas, em Alcântara, Praça de Espanha e Calçada de Carriche devido a “lençóis de água”. No eixo Norte-Sul, a PSP reportou haver, também, dificuldades de circulação devido à chuva.

Face a esta situação — muita precipitação condensada em pouco tempo e coincidindo com a subida da maré no Tejo, o que prejudicou a drenagem —, o vereador da Protecção Civil da Câmara de Lisboa acusou o Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA) de não ter previsto tanta chuva, acrescentando que a cidade teve de se preparar “à última hora”.

“Houve uma grande precipitação. As informações que nós tínhamos do IPMA não iam nesse sentido, portanto a cidade teve de se prevenir à última hora, uma vez que não tinha sido lançado aviso laranja para o distrito de Lisboa”, disse Carlos Castro.

De acordo com o IPMA, o valor de precipitação mais elevado foi registado na estação meteorológica na Gago Coutinho, em Lisboa, com uma precipitação de 18,7 milímetros (correspondente à queda de 18,7 litros por metro quadrado) e caíram 13,2 milímetros nas Amoreiras. Estes valores, de acordo com o IPMA, “enquadram-se no limiar do aviso meteorológico amarelo”.

Por seu lado, o vereador do PSD na Câmara de Lisboa António Prôa anunciou que vai pedir responsabilidades, na reunião do executivo de amanhã, sobre as inundações. Apesar de admitir que “choveu bastante”, o vereador considerou que “não foi uma tromba-d’água à antiga” e estas inundações “só se suscitam porque, à semelhança do que aconteceu com a recolha do lixo, a câmara não calculou bem as consequências da transferência de competências” para as juntas de freguesia na qual perdeu muitos trabalhadores. “A câmara não adequou os seus serviços para fazer face à prevenção desta situação, como a desobstrução de sumidouros”, acrescentou. O vereador lamentou, ainda, que o plano de drenagem do município esteja há sete anos por concretizar.

Lourinhã com seis desalojados
Mas não foi só Lisboa a sofrer as consequências do mau tempo. A Autoridade Nacional de Protecção Civil registou em Portugal continental 221 ocorrências até meio da tarde. Nas Caldas da Rainha, várias habitações ficaram inundadas. A trovoada que se fez sentir desde as 7h30 afectou com “bastante intensidade” o concelho, onde foram registados “vários pedidos de auxílio devido a inundações em habitações e garagens na cidade e em algumas freguesias rurais”, disse à Lusa o comandante dos bombeiros das Caldas da Rainha, Nelson Cruz. Segundo este responsável verificaram-se também inundações nalgumas estradas da cidade.

Na Lourinhã, a chuva forte deixou 400 alunos sem aulas e seis pessoas ficaram desalojadas na sequência das cheias que deixaram isolada a sede do concelho durante boa parte da noite de segunda-feira e madrugada desta terça-feira

O presidente da câmara, João Duarte Carvalho, disse à agência Lusa que a Protecção Civil Municipal realojou temporariamente seis pessoas, de três famílias, cujas habitações no centro da vila inundaram, deixando-as sem condições para aí pernoitarem. A Comissão Municipal da Protecção Civil esteve reunida, mas não foi necessário accionar o Plano Municipal de Emergência.

Segundo o autarca, a forte precipitação ocorrida entre as 19h30 e as 20h20 provocou uma "situação de cheias rápidas" para a qual a Protecção Civil Municipal "não foi alertada pelas autoridades nacionais. O transbordo do Rio Grande e de um seu afluente agravou a situação de cheias.

No concelho, bombeiros e Protecção Civil ocorreram a meia centena de ocorrências relativas a inundações de ruas, garagens, habitações e estabelecimentos comerciais nas freguesias de Lourinhã e Atalaia e Vimeiro, onde se registaram apenas prejuízos materiais. Também um campista teve de ser resgatado do parque de campismo pelos bombeiros, devido à água.

No concelho de Felgueiras, em Lixa, cerca de 10.000 habitantes ficaram sem água devido à ruptura de duas condutas de abastecimento, em Airães, provocada pelo mau tempo de domingo à tarde. Na véspera, tinha sido sobretudo a região do Porto a mais atingida pela forte chuva, que originou inundações, dezenas de pedidos de auxílio e fez adiar o início do jogo entre o FC Porto e o Boavista, no Dragão.

Em declarações à agência Lusa, Joana Sanches, do IPMA, informou que o estado do tempo em Portugal continental vai continuar instável, com chuva e sol, pelo menos até dia 28 (domingo).

Chuva e trovoadas até quarta-feira
O IPMA alertou entretanto que as condições de instabilidade registadas na segunda-feira, com chuva e trovoadas, vão manter-se ao longo do dia de hoje, segundo disse à agência Lusa o meteorologista Ricardo Tavares.

"Para hoje, vão manter-se as condições de instabilidade que ocorreram durante o dia de ontem [segunda-feira]. Estamos a prever para hoje aguaceiros por vezes fortes e acompanhados por trovoadas um pouco por todo o território."

O meteorologista informou ainda que esta situação levou o IPMA a emitir um aviso laranja, o segundo menos grave de uma escala de quatro, para os distritos de Aveiro, Viseu, Guarda, Castelo Branco, Coimbra, Leiria e Santarém devido à previsão de aguaceiros por vezes fortes e acompanhados de trovoada. O aviso laranja para estes sete distritos vai estar em vigor até às 23h59 desta terça-feira.

O IPMA colocou também os distritos de Viana do Castelo, Porto, Braga, Bragança, Vila Real, Lisboa, Portalegre, Évora, Beja, Setúbal e Faro sob aviso amarelo, o terceiro mais grave de uma escala de quatro, também devido à previsão de aguaceiros por vezes fortes e acompanhados de trovoada.

De acordo com o meteorologista Ricardo Tavares, esta é uma situação que vai ser acompanhada e actualizada ao longo dia.

"Esta situação de instabilidade não é anormal para o mês de Setembro, mas a questão é que estamos sob o efeito de uma depressão que está centrada um pouco a oeste do território e agora mais sobre o continente. Há mais de duas semanas que estamos com esta precipitações um pouco fortes por todo o território", explicou.

No que diz respeito ao estado do tempo para quarta-feira, o meteorologista do IPMA adiantou que vai ser um pouco melhor.

"A situação de instabilidade vai diminuir um pouco. Vamos ter aguaceiros, mas não estamos a prever tão intensos e vamos ter ainda trovoadas nas regiões do interior durante a tarde", disse. com Lusa


Sugerir correcção
Ler 7 comentários