Costa Norte desistiu de afundar avião...e locomotiva ao largo de Viana do Castelo

Empresa diz que a capitania local levantou obstáculos à concretização do projecto, orçado em 1,3 milhões de euros. Mas o capitão do porto de Viana garante que deu autorização para afundar...uma locomotiva.

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Quem faz mergulho pode ter acidentes descompressivos

O projecto de afundar um avião ao largo de Viana do Castelo, para criar um recife artificial que atraísse mergulhadores de todo o mundo, caiu por terra. O promotor, a empresa Costa Norte, diz que a ideia esbarrou nos entraves colocados pela capitania do porto local. No entanto, o capitão contrapõe que nunca lhe foi pedida autorização para afundar uma aeronave, mas sim para uma locomotiva.

Em Dezembro de 2012, o promotor anunciou que já tinha luz verde de todas as entidades competentes para avançar com o afundamento de um avião a duas milhas da costa de Viana, em frente à praia de Carreço. No entanto, ao que o PÚBLICO apurou, os pareceres positivos não diziam respeito ao afundamento de uma aeronave, mas sim de uma locomotiva.

A Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional do Norte, por exemplo, foi um dos organismos que emitiram parecer favorável. Também a Autoridade Marítima Nacional se pronunciou favoravelmente quanto ao afundamento da locomotiva. Ao PÚBLICO, esta entidade diz que o capitão Paulo Gomes da Silva, responsável pela capitania de Viana, “respondeu ao utente [um elemento da Costa Norte] no sentido de o afundamento ser autorizado, tendo inclusive indicado as linhas de acção a adoptar, mas o utente nunca mais respondeu”.

"Nunca me chegou aqui nada sobre uma aeronave. Eu respondi ao pedido para afundar uma locomotiva e nunca mais tive resposta", reforça o capitão Paulo Gomes da Silva, alegando que haverá na opinião pública "desinformação" sobre este projecto.

A ideia inicial da Costa Norte era mesmo afundar uma locomotiva, admite Francisco Ponte, sócio da empresa e um dos "cérebros" do projecto anunciado em 2012. “Mas concluímos depois que seria mais viável afundar um avião, que este teria mais atenção mediática e da comunidade de mergulhadores”, explica. Insiste, porém, que fez chegar à capitania um pedido para afundar uma aeronave. “Eles não deram autorização e o primeiro problema levantado foi o local do afundamento”, acrescenta.

O avião de 48 metros, que a empresa já tinha em vista, seria importado dos Estados Unidos, limpa e colocada no fundo do mar, “sem prejudicar a navegação”. O local ideal, para Francisco Ponte, seria a Baixa do Parcel, embora inicialmente estivesse prevista a zona de Carreço. O objectivo era criar um recife artificial à semelhança do parque Ocean Revival no Algarve, que levasse os mergulhadores “em romaria” a Viana. Previsto para este ano de 2014, o projecto da Costa Norte incluía também a criação de uma escola de mergulho, eventos de pesca desportiva e passeios turísticos a bordo de um hovercraft (um veículo assente numa espécie de colchão de ar que pode andar na água e no solo).

No total, seriam investidos 1,3 milhões de euros. A empresa apresentou uma candidatura a fundos comunitários que, segundo Francisco Ponte, ainda chegou a ser aprovada, mas teve de ser anulada. "Se não podíamos fazer as actividades a que nos propusemos, não podíamos justificar as verbas que iríamos receber", diz Francisco Ponte.

“A capitania impede-nos de trabalhar”, acusa, queixando-se da posição daquela entidade não só em relação ao afundamento do avião, mas também às actividades de formação desenvolvidas pela escola de mergulho da Costa Norte. “Nem sequer nos deixam fazer baptismos no estuário do Lima, temos que ir para Espanha. Damos as primeiras aulas em piscina e depois vamos para a Galiza fazer as aulas no mar”, explica Francisco Ponte. 

Na Câmara de Viana do Castelo, que assumiu como desígnio estratégico a afirmação de Viana como “cidade náutica”, o projecto nunca reuniu consenso. No anterior executivo, os vereadores do PSD consideraram que se tratava apenas de "folclore" e manifestaram receios em relação ao impacto ambiental da submersão de "sucata" no litoral do concelho. O presidente da Câmara, José Maria Costa, que estava também à frente da autarquia no anterior mandato, considerava em 2012 que o afundamento seria "muito interessante" tendo em conta a procura mundial por este tipo de atracções. O PÚBLICO tentou contactar o autarca, que esteve sempre indisponível nos últimos dias.

“Viana perdeu e penso que o país também está a perder”, diz o sócio da Costa Norte, sublinhando que "os entraves foram tantos e tão grandes" que a empresa resolveu mudar de rumo. Agora a principal aposta da empresa é em São Tomé e Príncipe, onde tem já dois centros de mergulho. É lá que pretende afundar o tal avião, desta feita sem o apoio de fundos comunitários. “É um investimento nosso, e maior” do que o que estava previsto para Viana, diz o responsável.

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