Há 25 anos que o Amadora BD lança fanzines e novos artistas

Festival é dos eventos culturais com maior longevidade e regularidade. José Ruy, João Mascarenhas e Joana Afonso serão alguns dos nomes para a próxima edição

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Amadora BD

Começou como um pequeno evento criado por um grupo de jovens da Amadora e é hoje um dos maiores festivais internacionais de banda desenhada. Promovido pela autarquia, o Amadora BD construiu, ao longo de 25 anos, um grande património artístico, cultural e material, através da vasta e única colecção pública de banda desenhada da Península Ibérica.

O festival, que promove não só as obras dos artistas mais reconhecidos de banda desenhada, como também jovens talentos através de concursos anuais, “tem que reflectir e renovar aquilo que é a BD contemporânea, o que são os novos meios de leitura digitais – tablet, PC, telemóvel - e que mudanças é que isso traz em termos artísticos e de público”, conta o director, Nelson Dona.

Uma vez que a banda desenhada é muito diferente do conceito de há 25 anos, um dos objectivos da 25ª edição, de 24 de Outubro a 9 de Novembro, é perceber quais são as suas características no presente e quais foram as contribuições que este festival trouxe para o panorama nacional. A autora em destaque este ano é Joana Afonso, autora de "O Bauile", Prémio de Melhor Álbum em 2013. Em termos internacionais, vão marcar presença François Ayroles (França), Eric Shanower (EUA), Rafael Coutinho (Brasil), Joe Staton (EUA) e Thomas Grindberg (EUA), autores de Batman e de Silver Surfer, bem como Matthias Picard (França). O surfista prateado também será alvo de uma exposição.

Joana Afonso, um dos nomes mais recentes da banda desenhada, passou a integrar o festival Amadora BD há cerca de cinco anos, após ter ganho um dos concursos realizados pela câmara municipal, que lhe deu força para investir na sua carreira enquanto artista. O ano passado foi uma das vencedoras do Prémio de Melhor Álbum com o seu projecto “Baile”, atribuído pelo festival. “Foi muito emocionante estar no palco e receber um dos prémios mais sonantes a nível nacional”, revela Joana Afonso.

Para a próxima edição, Joana já está a preparar algumas obras para expor. Para além do livro vencedor, a artista vai lançar “Living Will”, com a colaboração do argumentista André Oliveira, que contará a história de um idoso, com 82 anos, através de "minicomics" em inglês. Além disso, Joana espera expor um projecto a solo que está a desenvolver para a sua tese de mestrado, chamado “Deixa-me Entrar”.

João Mascarenhas também já foi premiado pelo festival com o Prémio de Melhor Fanzine em 2003 e 2013. O último prémio foi atribuído ao fanzine BDLP – Banda Desenhada de Língua Portuguesa –, um projecto desenvolvido com a Comunidade de Países de Língua Portuguesa que irá ter destaque nos 25 anos. “Estes prémios dão visibilidade ao meu trabalho e o festival cultiva a curiosidade no público para depois comprar o livro”, afirma João.

Para João, a banda desenhada é um "hobby", apesar de dedicar a maior parte do seu tempo a desenhar. Como arte, ela permite não só transmitir histórias fantásticas, como histórias mais realistas e ao nível da formação. “Nos países onde o nível de literacia é muito baixo, a banda desenhada é utilizada para transmitir ideias, porque a parte narrativa ao nível da imagem é muito forte e chega ao leitor de forma simples e eficaz”, explica o artista.

Vários públicos

José Ruy, que comemora este ano 70 anos de carreira no mundo da ilustração, é um dos artistas que acompanha este festival desde a sua génese, quando ainda era “um pequeno salão de pintores da Amadora”, relembra. Este ano, também irá fazer parte da exposição, considerando que o Amadora BD sempre foi muito importante para o reconhecimento do seu trabalho e dos novos artistas. “Os concursos permitem descobrir jovens com muito talento e possibilitam o seu contacto com as exposições. Assim, vai havendo uma passagem de testemunho dos mais velhos para os mais novos”, diz José Ruy.

Os públicos também são diferentes desde há 25 anos. Nelson Dona destaca como uma das principais mudanças a substituição de um único público de banda desenhada, por vários públicos com diferentes segmentos, aos quais é necessário dar resposta. “Temos artistas do mundo inteiro, pois interessa-nos mostrar ao público a maior diversidade possível”, explica o director.

Contudo, o ano passado revelou-se difícil para a realização do festival. Não só sofreu constrangimentos financeiros, devido à conjuntura do país, como legais e administrativos, impostos por leis que foram saindo ao longo dos anos e que levantaram problemas operacionais graves. Com o empenho da autarquia, o Amadora BD conseguiu realizar a 24ª edição, que retratou os 75 anos do Super-Homem e do Spirou.

Espaço de contacto entre artistas, público e editoras, o festival promete continuar a apostar em mais edições, que dinamizam a própria cidade. Para continuar a atrair visitantes, a 25ª edição terá como novidade a criação de um bilhete para famílias, que permite a entrada de quatro elementos por um preço mais acessível.

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