Rota do Sul, entre a luz de Carlos Paredes e a atracção pelos sons do Mediterrâneo

Nasceu de um encontro de amigos, guitarra portuguesa e baixo eléctrico. E cresceu mais além. Rota do Sul, o disco, chega agora às lojas.

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João Alvarez e Tiago Inuit Luis Mileu

Começou por ser o trabalho de um duo mas foi crescendo com a intervenção de outros músicos. João Alvarez, guitarra portuguesa, e Tiago Inuit, baixo eléctrico, começaram com Rota do Sul (que agora chega às lojas) um caminho onde a herança de Carlos Paredes se cruza com sons do Mediterrâneo e a herança celta mais próxima. Nasceu num estúdio, tornou-se adulto em palco.

João Alvarez e Tiago Inuit já são amigos há muito tempo. E são, além disso, ambos músicos. João, iniciado no estudo da guitarra portuguesa em 1992, já rodado em recitais e devoto do repertório de Carlos Paredes, quis experimentar novos caminhos. “Tinha alguma dificuldade em saltar para a área da composição. No encontro com o Tiago pensei em explorar um pouco outras sonoridades da guitarra portuguesa. E desafiei-o a experimentar alguma composição na área electrónica, um pouco à imagem no Gotham Project.”

Tiago, licenciado em música em 2000 no Canadá, também ele instrumentista e compositor, além de produtor e professor de música, aceitou o desafio. “Na linguagem de guitarra portuguesa que o João tem, decidimos: vamos brincar com isto. Encontrávamo-nos todas as semanas, no meu espaço/estúdio no Bairro Alto, e foram saindo vários temas. Foi um trabalho muito de estúdio, de experimentar com o computador, de ouvir o que compusemos e gravámos, pensar, repensar. Foi um trabalho clínico, experimental.”

Mas desse trabalho inicial, com a evolução, “ficou muito pouco”, diz Tiago. João explica porquê: “Fomos encontrando músicos que gostavam de ouvir o trabalho e alguns deles foram-se juntando. E começaram a moldar um pouco o percurso que se seguiu. A verdade é que começámos a ter alguma afinidade com um trabalho mais acústico e aos poucos fomos alterando. A ponto de termos mudado completamente a rota.” Isso foi porque cada músico lhes trazia sugestões novas. “Acabámos por encontrar desde músicos chineses, como o Xuan Du, violinista, o que nos levou a compor um tema mais oriental; há um tema mais andaluz, que tocámos com o Vasco Hernandez (guitarra flamenca); depois juntámos ainda dois violinistas, a Natalia Juskiewicz e o Otto Pereira, este num violino mais cigano. No fundo, foram estes encontros que moldaram o disco”

O título do disco nasceu da história das rotas marítimas, diz João. “Foi inspirado na Rota da Seda. Havia várias rotas na Rota da Seda e uma delas era a Rota do Sul, que passava pelo Médio Oriente. Havia, nessas viagens comerciais, um contacto civilizacional e uma troca cultural no mundo antigo que acabou por se reflectir um pouco na forma de estar dos povos, na Europa. Mais tarde essa rota desapareceu com o caminho marítimo para a Índia, do Vasco da Gama. Mas eu tenho maior empatia com os países do Mediterrâneo, do Magrebe. A nossa sonoridade tem influências da música do sul, a nossa identidade portuguesa tem muito a ver com o sul. No entanto há também algumas características nórdicas, por exemplo no tema Célticas, que têm a ver com as regiões célticas da Europa, entre as quais a Galiza e o norte de Portugal.”

O disco, que agora chega às lojas, tem nove temas, oito só instrumentais e um instrumental que ganhou letra (e voz) com Maria Ana Bobone, que assina como co-autora. Ao mesmo tempo, tem já algumas apresentações marcadas nas Fnac, na Grande Lisboa: 3 de Outubro, Colombo; 4, Almada; 5, Vasco da Gama; 10, Chiado; 11, Cascais; 12, Alfragide.

Em 2013, estavam eles envolvidos na gravação, convidaram-nos para participar nas Festas de Lisboa, na noite de 2 de Junho. Foram. “Decidimos mesmo fazer uma pausa na gravação e fazer o espectáculo [no YouTube está uma síntese, onde podem ouvir-se Vento suão, Perdida de mim, Cais das colunas, Dança, Mudar de Vida, El Kebir]. E foi muito importante, porque começámos a ver os temas ganhar vida e uma alma nova. No fundo, é essa alma que nós agora procuramos.”

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