Combate às infecções hospitalares começa a mostrar resultados

Médicos portugueses estão a prescrever menos antibióticos de largo espectro, cujo uso excessivo é apontado como uma das razões para o aumento das resistências das bactérias.

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Em Portugal um em cada dez doentes contraiu uma infecção nas unidades de saúde

O nome não dirá grande coisa à maioria mas a bactéria estafiloco áureo multirresistente (MRSA) é uma das principais causas de infecções associadas aos cuidados de saúde no mundo e, em Portugal, o problema é especialmente grave. É por isso que uma redução de 13% da sua incidência, quando o objectivo deste ano era fazê-la descer em 10%, “é uma notícia”, refere o coordenador do Programa Nacional de Prevenção e Controlo de Infecção e de Resistência Antimicrobiana, José Artur Paiva, não deixando de referir que o país continua muito acima da média europeia.

Existia um programa prioritário na saúde para combater o HIV/sida, o cancro, as doenças respiratórias, as cérebro-cardiovasculares (onde se inclui o AVC e o enfarte), a diabetes. Em Fevereiro do ano passado foi criado o Programa Nacional de Prevenção e Controlo de Infecção e de Resistência Antimicrobiana precisamente porque este é um problema invisível mas grave: em Portugal um em cada dez doentes contraiu uma infecção nas unidades de saúde (taxa de prevalência de 10,6%), quando a taxa global de prevalência de infecções hospitalares na União Europeia (UE) era de 5,7%, revelam os últimos dados do Centro Europeu para o Controlo das Doenças.

O estafilococo áureo é uma bactéria frequentemente causadora de infecção e com elevada agressividade mas quando adquire resistência a um tipo de antibiótico chamado meticilina, forma conhecida como MRSA, torna-se mais difícil de tratar, exigindo muitas vezes prolongamento dos internamentos. Por essa razão, o programa traçou como um dos seus principais objectivos, no primeiro ano, a redução da sua incidência em 10%, tendo conseguido os 13%, refere José Artur Paiva, estando agora situada nos 46,8%, diz o coordenador, notando que na UE este valor anda na ordem dos 30%.

Essa redução teve já resultados práticos, aponta o responsável. Feitas análises a uma amostra de doentes com infecção hospitalar, constatou-se que “as incidências de infecção hospitalar da corrente sanguínea por estafilococo áureo e por MRSA diminuíram em 3% e 5%, respectivamente, entre 2012 e 2013”.

Nos Estados Unidos estima-se que o MRSA provoque 94 mil infecções e mais de 18 mil mortes por ano. Na UE, calcula-se que cause mais de 150 mil infecções em cada ano. Em Portugal, não está quantificado o número de pessoas a quem causa doença grave ou morte.

As razões das “boas notícias” podem ser várias, nota o médico, mas estão seguramente entre o grupo de medidas postas no terreno. Uma foi, por exemplo, a redução na prescrição de uma família de antibióticos responsável por causar muitas resistências às bactérias, as quinolonas (onde se inclui, por exemplo, a ciprofloxacina ou a levofloxacina), incluídas no grupo dos antibióticos chamados de “largo espectro”, pela sua capacidade de matarem muitas bactérias. Este grupo de fármacos, “que é prescrito exageradamente em Portugal”, tem vindo em tendência decrescente de 2007 até 2013, uma descida na ordem dos 15%, sublinha.

Bombas ou setas
O médico José Artur Paiva recorre a uma metáfora para que se perceba que nem sempre o seu uso é adequado  diz que a quinolona é como se fosse “uma bomba atómica” que tudo mata, sem critério, as bactérias que causam infecção mas também “as bactérias boas, que temos na pele no tubo digestivo, acerta em tudo”; já a boa prescrição médica deve preferir usar armas mais certeiras, como “balas ou setas, dirigidas a um tipo de bactérias”.

Um dos factores que terão contribuído para a redução na prescrição de quinolonas foi a criação “de equipas de apoio à prescrição de antibióticos” nas unidades de saúde (constituídas por uma a três pessoas), afirma. Sempre que um médico receita, por exemplo, uma quinolona é lançado um alerta informático. Cada caso deverá ser analisado no sentido de perceber se há alternativas, se se pode reduzir o número de dias em que é prescrito, explica. O objectivo é que estas equipas passem a existir em todos os hospitais e Agrupamentos de Centros de Saúde.

Também medidas de higiene, como a lavagem das mãos que implicam, por exemplo, que, após o contacto com cada doente, o profissional de saúde tenha que lavar ou desinfectar as mãos, para evitar ser portador de bactérias, estão a ser intensificadas. Existem campanhas desde tipo desde 2009 e estas tiveram algum sucesso inicial mas depois estabilizou-se a sua adesão, reconhece. Agora, na Campanha Nacional de Precauções Básicas de Controlo de Infecção (que começou em Março), está-se a tentar uma abordagem diferente: em cada unidade de saúde, avalia-se o risco para saber onde está o problema, na lavagem das mãos, no uso de luvas, na boa higiene das superfícies, entre outras.

Portugal está no grupo dos 10 países europeus onde mais se consome antibióticos fora do hospital, está em sétimo lugar em 27.Um dos problemas detectados é a nível hospitalar. Portugal tem uma taxa de consumo de antimicrobianos em meio hospitalar de 45,4%, muito acima da média comunitária, de 32,7%.
 

   

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