Prova dos factos: Costa defendeu abstenção nos Orçamentos como orientação geral, mas foi contra o de 2012
Seguro acusou o adversário de se contradizer, mas as declarações do autarca de Lisboa são de âmbito diferente.
Foi suportado num excerto de 46 segundos de um programa televisivo que António José Seguro acusou nesta terça-feira António Costa de fazer “zigue-zagues” sobre o Orçamento do Estado (OE) de 2012: “Nessa altura defendeste a abstenção, apesar de teres ido à Comissão Política do PS votar contra”.
Sendo certo que António Costa debatia a possibilidade da abstenção em Orçamentos do Estado quando o país descobria os planos do Governo para o OE de 2012, a acusação de Seguro não espelha na totalidade tudo o que Costa afirmou sobre o assunto.
O tema entrara no debate por iniciativa do pretendente à liderança socialista, ao definir a opção de voto do PS como o “momento capital” de uma sucessão de “sinais equívocos” dados pela actual direcção do partido. “Foi o momento em que o Governo se demarcou do Memorando de Entendimento. O PS não se devia ter abstido”, criticou Costa.
“Ter votado contra o OE 2012 teria sido uma irresponsabilidade e teria sido um regresso ao passado que está expresso em António Costa”, respondeu Seguro, antes de aludir à referida contradição de Costa.
No entanto, no clip de menos de um minuto do programa Quadratura do Círculo, da SIC-Notícias — apresentado pela direcção do PS como prova do flagrante delito de Costa —, o que o autarca defende é, na realidade, algo mais abrangente.
“Por sistema”, defendia o socialista na SIC a 13 de Outubro de 2011, “o PS e o PSD” deviam “oferecer-se condições recíprocas de governabilidade”, “abstendo-se em instrumentos fundamentais” como os “orçamentos, as moções de censura e as moções de confiança”. “Acho que deve ser uma regra que ambos os partidos devem assumir”, rematava.
A interpretação das palavras de Costa sugere que o autarca estava a referir-se ao tema de um ponto de vista mais abstracto. Nas suas referências ao OE de 2012, o ex-ministro de José Sócrates assumiu um tom mais crítico, ao defender que o PS tinha de se “demarcar, na especialidade, das propostas com as quais não concorda”.
No mesmo programa, semanas mais tarde, Costa voltou a defender que o PS devia “dar um sinal claro de que está contra as opções políticas deste Orçamento”. Com o argumento de que o documento “não cumpriu a troika”.